28.12.07

O que você mais deseja para o Brasil?

No site do governo federal tem um link para uma espécie de pesquisa que visa conhecer o que o brasileiro acha que o nosso país mais precisa. A pesquisa é intitulada "o que você mais deseja para o Brasil?". Temos como opções alegria, cidadania, inclusão, entre outras. Parece piada, mas onde está a piada?
A piada está no fato de que tratam nossa população como uma criança mimada, que pede um presente de natal e espera anciosamente pelo seu pedido às vésperas do dia 25 de dezembro. Um país, cujo presidente chama a atitude de um dom Luiz Cappio de anti-democrática, não quer ouvir o que sua população tem a dizer. Quer apenas passar a impressão de que segue a democracia, mas passa muito longe dela. Não poderia ser diferente, pois ao entrar no clube do capital, a democracia passa apenas pelo fetichismo corriqueiro de quem nada mais espera do que colher os frutos gordos do lucro.

Talvez seja esta a explicação! A democracia é uma palavra, assim como todas aquelas que aparecem na pesquisa encontrada no site do governo federal. Palavras, apenas palavras. Meros embrulhos de uma realidade que quer se esconder com belas cores. Um verde e um amarelo que possuem as mesmas funções que tantas outras cores, e representam as pátrias pelo mundo afora, que escondem suas sujeiras sob a teologia do Estado: uma organização laica e neutra em relação às classes sociais.

Escolha sua palavra, purifique-se e seja um cidadão! Cidadania, dentro da ideologia dominante, significa isso: fazer de conta que participa da "democracia", rezando para que o seu "representante", em algum momento, possa ouvir seu grito triste e inútil.

Palavras são importantes, mas o problema está no fato de que a ação passa longe do que é chamado de democracia. Nesse contexto, as palavras perdem o papel de expressão material do mundo, e ganham status de alienação, onde o homem não se reconhece no mundo em que vive, onde o sonho se mistura ao sedentarismo social de meros objetos de uma classe que nada mais espera que palavras vazias por parte de seus dominados.

O governo de Lula reproduz muito bem a ideologia, pois as palavras vazias aparecem cada vez mais como o calmante para uma população muda: paradoxo fundamental para se manter a "ordem" e o "progresso" em dia!

24.12.07

Esse é o blog de um cartunista que fala sobre a guerra no Iraque... Ótimas charges:

FELIZ NATAL!!!

Celebremos a noite em que a classe média torra seus décimos terceiros em presentes para filhos mimados e alienados. Noite em que vizinhos enchem a cara e colocam símbolos da indústria cultural no último volume, em que as famílias engordam juntas com a ceia egoísta regada a hormônios sintéticos da indústria alimentícia.
Celebremos a Missa do Galo, a paz, a justiça, a caridade, que permanecem como palavras vazias, desprovidas de ação material num mundo que vive com a cabeça nas nuvens e os pés longe da lama existencial do homem contemporâneo.
Celebremos o consumo que acelera a morte do planeta, a tecnologia e a ciência que já falharam há muito tempo como faróis para um mundo melhor e hoje só servem aos senhores das grandes corporações.
Celebremos o continente africano, o imperialismo, a democracia, a alienação, o positivismo, a religião... E viva o natal!

Jesus Cristo? Se não fosse santo estaria puto!

18.12.07

Onde Brilhem os Olhos Seus

Férias, tá bem?

O vídeo abaixo é da música "Diz Que Fui Por Aí", gravado pela Fernanda Takai no álbum recentemente lançado em homenagem a Nara Leão - Onde Brilhem Os Olhos Seus. Encontrei o vídeo no YouTube, mas acho que nem é oficial - deve ter sido feito por algum fã.

Acho que a Fernanda Takai é a única que poderia ter gravado esse álbum. Não vejo no mass media mais ninguém que corresponda à voz doce, tímida e agradável de Nara Leão.
Tenho um problema sério que, segundo o Pato Fu de Fernanda, poderia ser denominado de "necrofilia da arte". Trata-se da compulsão por possuir ídolos oriundos da indústria cultural cujo atestado de óbito já é existente. Começou com Kurt Cobain, não parando por aí. Nara Leão foi adicionada à lista há mais ou menos um ano.

Ah, a música que mais gostei foi Lindonéia: ótimo arranjo e clima praiano. Heheh...




5.12.07

Aaaaaaaaaaaaah!

"Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa". T.W. Adorno
Esse lance de querer se divertir, curtir a vida, achar o seu grande amor, criar um fotolog pra postar junto com as fotos palavras idiotas, escrever em um blog estúpido, entre outros lances é coisa de classe média babaca que comprou a idéia de entretenimento e utiliza-se dela diariamente.

As pessoas ficaram idiotas com a cultura criada pela mídia, as pessoas simplesmente não sabem mais pra onde correr. Até os revolucionários recorrem a essas coisas, ou seja, é por isso que eu tiro o chapéu pra Indústria Cultural.

Amigos! Irmãos! A religião não é mais o ópio do povo! Abençoai a Indústria Cultural e tudo que ela traz pra você!

Sim, eu também fui infectado! Eu também me apaixono e sofro, eu também fico desesperado quando sem dinheiro, eu também me sinto um fracassado quando, porventura, não identifico minha vida com o padrão de vida pregado pelas ondas da mídia de massa.

O que fazer? Não sei! Porque mesmo pensando como penso não consigo me livrar de certas coisas. O próprio fato de eu estar escrevendo esse texto vem de um acontecimento proporcionado pela Indústria Cultural. Não sei qual a saída! Não sei mesmo!

A moral que começou a ser construída pela religião e por algumas filosofias agora tem seu ápice na indústria cultural, mas não é só a moral que tem sua manutenção diária: o entretenimento é a palavra de ordem na sociedade do espetáculo. A happy-hour, a viagem de fim de ano, as agências de turismo, a internet, o amor, o cachorro à venda no pet-shop, as compras, os esportes, a música, os anti-depressivos...

Estamos cercados com um controle remoto nas mãos! Talvez eu me sinta um pouco frustrado, mas é nas frustrações que vejo os motivos do choro....

Eu tenho um blog, estou sem grana, não me identifico com o padrão de vida, eu gosto de alguém que está pouco se fodendo pra mim, eu quero viajar no fim de ano, adoro happy-hour, cachorros peludos, tenho minha porção consumista e fiquei feliz pelo São Paulo ter sido pentacampeão. Anti-depressivos eu não tomo, obrigado.

Sou filho da Indústria Cultural, sou fruto do meio... Não poderia ser de outra forma, mas por que diabos eu tinha que saber disso? Eis a maldição!

Férias... Que saco!

Acabou a festa, a grana também e o ano se foi...
Estamos em férias novamente. Como já havia dito... Odeio essa época!
Pois bem... Vou aproveitar pra me libertar de algo que nem sei direito o que é. Se conseguir eu conto!

3.12.07

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.


_______________Cecília Meireles

29.11.07

Martin Heidegger: Kant e o Problema da Metafísica

Heidegger procura uma continuidade a partir da filosofia kantiana, de modo que, para ele, não importa atentar-se essencialmente ao que disse Kant, mas em perguntar o que se realiza a partir de sua filosofia, ou seja, o que se realiza a partir de seus fundamentos, constituindo, assim, uma investigação acerca de seus resultados.

Heidegger aponta que, ao revelar a subjetividade do sujeito, Kant dá um passo atrás no fundamento estabelecido por ele anteriormente, sendo este o novo elemento que surge no processo de fundamentação de sua filosofia.

Os conceitos de razão pura encontrados juntamente com os de uma razão sensível, formando uma unidade, oferecem um problema para se dizer que a subjetividade humana passará a se colocar como anterior aos fundamentos kantianos. Essa subjetividade refere-se ao homem, mas isso remete a uma antropologia que é empírica - não pura - e também abre uma nova questão: como é possível que, numa fundamentação da metafísica, possa-se e deva-se perguntar pelo homem?

As três perguntas originais: "que posso saber?", "Que devo fazer?", "O que me é permitido esperar?" estão colocadas no começo da fundamentação kantiana, mas, ao colocar um fundamento novo ao original, devo estabelecer uma nova pergunta. Chegar a essa pergunta só será possível se nos centrarmos no problema que surgiu: o homem.

Kant só chegou a esse problema através das três perguntas iniciais, mas o que se pode interpretar a partir delas? Se chegamos ao homem, temos que observar como foi construído esse homem dentro do processo de fundamentação. As três perguntas questionam sobre um poder, um dever e um permitir da razão humana. Questionar sobre isso é admitir fundamentalmente uma ausência de poder em determinado aspecto, ou seja, uma finitude desse poder. Se a razão humana fosse toda poder, não haveria necessidade do questionamento acerca de suas possibilidades. Temos, nesse momento, como essencial, como fundamental, como anterior às três perguntas, a finitude da razão humana, sendo ela a causa das primeiras e também do próprio homem.

Um ser que procura conhecer acerca do que fazer, considerando que esse fazer está condicionado a um poder fazer ou não poder fazer, coloca esse dever como problemático, pois seu dever fazer é essencialmente finito. Isso revela uma privação fundamental da razão humana e coloca a finitude como seu fundamento.

Se a finitude é fundamento do homem, ele é a finitude, fazendo-se finito através de sua razão. O movimento filosófico se fez finito através da fundamentação da razão, fazendo com que, inclusive, as três perguntas sejam o próprio fazer-se finito dessa razão.

Temos agora a resposta à questão acerca da possibilidade e do dever de se perguntar acerca do homem dentro de uma fundamentação metafísica, mas vemos surgir um novo problema: a finitude humana. O questionamento acerca do homem agora é o dever filosófico, pois ele assim se faz pela razão que, através disso, caracteriza sua amplitude.

O estudo de nossa natureza interna proposto por Kant ganha uma necessidade e uma orientação dentro deste dever da razão humana, que se coloca no novo problema da finitude do homem.
Sobre o antropológico, podemos chegar à conclusão de que uma fundamentação metafísica pode fundar-se no homem, mas não pode fundar-se numa antropologia, pois a mesma, em momento, algum pode nos levar à pergunta acerca da finitude humana.

Citando Heidegger: “A fundamentação da metafísica é uma dissociação de nosso conhecimento, ou seja, do conhecimento finito em seus elementos”.

22.11.07

Ces't La Vi!

Classe média francesa sem transporte. Será que um dia acordarão para a vida?

"Embora a direção das maiores confederações sindicais defendam o fim da greve, as assembléias de trabalhadores têm optado pela seqüência do movimento. O resultado é que todas as grandes cidades seguem transtornadas pelas paralisações e por uma onda de protestos - que reúnem não só metroviários, mas também estudantes, magistrados, funcionários públicos e até produtores de fumo". O Estado de São Paulo - 22/11/2007

Utilizo como fonte um jornal burguês. E qual opção tenho? Os de esquerda pecam nos excessos quase da mesma forma, e além do mais, nunca se atualizam com a velocidade desejada. Desculpo-me aqui!

A França tem dado um exemplo no que se refere à luta contra reformas liberais de seu governo. O governo de Nicolas Sarkozy mostra-se contraditório, pois ao mesmo tempo que afirma abrir espaço para negociações, diz não abrir mão de seus objetivos - ou uma coisa ou outra, senhor Sarkozy. As reformas liberais defendidas pelo governo visam aumento do tempo de trabalho dos servidores públicos. O que temos hoje para os servidores é um tempo de contribuição de 37,5 anos; o que as reformas propõe é um aumento para 40 anos. Esse tempo já existe para os trabalhadores da iniciativa privada, como assinalado nos jornais burgueses com o intuito de dizer "por que só os servidores públicos podem?". Exatamente! Os demais trabalhadores que lutem para terem 37,5 anos de contribuição previdenciária ao invés de criticar os servidores de seu país.

Reforma Universitária

Nada diferente do Brasil. Uma maior autonomia universitária pregada pelas reformas assinala para um começo de diálogo por parte das instituições públicas com a iniciativa privada. Estudantes aderiram às paralizações dos trabalhadores estatais de gás, eletricidade e educação, além dos transportes, com o intuito de apoiar suas demandas e também lutar contra o avanço liberal frente ao ensino universitário público.

Um país como a França, que possui um dos melhores serviços públicos do mundo, vai sofrer com essa reforma, caso ela passe. O que a mídia de massa coloca é que a maior parte da população apóia Sarkozy, enquanto uma minoria acha que as greves deveriam persistir. Não duvido do fato da maioria ser a favor do governo. Um país que engorda sua classe média não poderia contar com posição diferente. Manipulados ou não, os fatos mostram que mais uma vez essa camada da sociedade só enxerga seu próprio umbigo, e no caso da França um umbigo cheirando a perfume do "bão", regado a croissant e champanhe finíssima. Coisa de fresco que nem de perto sabe o que é viver como os pobres diabos do Sudão.

Mas o que quero assinalar é sobre o conteúdo da frase acima: Os sindicatos demonstram que há um início de "abre pernas" em relação às propostas do governo. É óbvio que tratam-se de sindicatos corruptos. O próprio jornal burguês aqui diz que as assembléias não querem o fim das greves, ao contrário das direções sindicais. O momento é de não se curvar perante oportunismos e "peleguices". Luiz Marinho tem em qualquer lugar...

Ces't La Vi !

11.11.07

Para Além do Bem e do Mal

A moral da religião cai sobre nossas cabeças como um martelo. Quem crê em um deus, seja ele qual for: um deus calcado nas regras morais da conduta humana, um deus que aparece como a verdade do universo, sofre e carrega consigo a dor de pautar sua conduta nos mais diversos aspectos da vida.

Creio em Deus... No meu caso é o Deus dos cristãos. Algo quase lógico para alguém que nasceu no país em que nasci, respirando a cultura que respiro. Não há problemas em relação a essa tradição cultural. Admito! Creio em Jesus Cristo e em suas regras morais. Não sou praticante do catolicismo, nem do protestantismo: sou um espírita! Creio na sobrevivência da alma em detrimento do corpo material, creio na evolução progressiva do espírito dentro de uma ordem hierárquica que vai levando esse viajante evolutivo cada vez mais alto na ordem divina.

Creio, mas não me sinto feliz... O espiritismo é cristianismo, assim como o catolicismo e o protestantismo. A diferença vem da interpretação e dos métodos encontrados nessa religião. O mestre é o mesmo. A moral cai sobre mim, as questões acerca da minha conduta me transformaram em alguém que muitas vezes está no mundo, participa dele, mas não consegue de fato interagir.

O verdadeiro cristão não é feliz nesse mundo. Não que eu seja um exemplo, mas exatamente pelo fato de não ser um exemplo, me condeno. Condeno-me em todos os aspectos da vida, tanto social como interna. Cobro de meu espírito toda a conduta necessária para realizar minha tarefa neste lugar. Sei que não faço o suficiente, mas minha ciência frente a esse fato e minha ignorância frente a minha conduta criam um paradoxo angustiante.

A todo instante vejo as pessoas negarem a verdade da religião, fugirem de seus fundamentos e, com isso, criarem para si mesmas uma carga cada vez maior de conseqüências negativas para seus corpos e mentes. Esse é o fundamento básico da minha religião: quem o mau faz, para si o faz!

Eu também faço o mau... Eu também me prejudico, por isso sofro. Sou impotente frente às provas colocadas ao meu ser; sou ignorante e fraco. Reconheço tudo isso, mas em momento algum consigo aliviar meu espírito em relação ao mundo. Nem mesmo a humildade – que também assumo ser falha em muitos momentos – me tira da dor cristã. Sim, a dor cristã de cobrar-se o tempo todo, de buscar seguir o Mestre e perceber que o afastamento dEle é constante e gradativo. Sou inconstante e negativo muitas vezes, mas em outras sinto a bondade brilhar em meu âmago. De que adianta? Não enxerguei nada até o momento...

Estou cansado de lutar para pautar-me frente ao infinito. Estou cansado de me espelhar numa metafísica estranha. Meu coração está apertado frente à minha fé diminuta. Ainda acredito em Deus, ainda acho que a bondade, a caridade e o amor ao próximo são os faróis do mundo, mas não sei exatamente o quanto sei sobre isso. Não sei exatamente até que ponto o que afirmo acerca disso é fundamento ou discurso vazio. Não sei muita coisa. O sofrimento ensina, bem dizem os espíritas. A plantação é arbitrária, mas a colheita obrigatória. E assim sigo meu caminho... Sofrendo e reconhecendo que, se sofro, é porque errei. O problema é que sinto que até mesmo quando acerto não estou certo. O mundo, as pessoas em minha volta, na maioria das vezes não refletem aquilo que eu deveria ser. Se estou perto dessas pessoas, é porque minha conduta assemelha-se à conduta delas, de modo que percebo que não consigo mais compreender o que há de errado com minhas atitudes, minha vida, minha fé.

Essas linhas estão confusas, mas de outra forma não poderia ser: quem as escreve está confuso. Na verdade não quero mais essas questões morais se abatendo sobre minha vida, não quero mais ser pautado pela metafísica. Não quero mais isso! O problema é que estou preso pela crença no divino, fui contaminado pela cultura ocidental, pela fé cristã da vida eterna e da piedade.

Não quero me transformar em um Nietzsche, não quero negar a humanidade. Na minha opinião, Nietzsche dizia afirmar a vida, - ao contrário dos cristãos, como ele afirmou - mas esse, da mesma forma a negava: negava por se esconder do convívio social, por acreditar ser um ser por demais evoluído, por estar frente a seu tempo. Esse homem esqueceu que a vida é o mundo; a vida não é o que está em uma filosofia em si, nem no que ainda há por vir. Eu não quero negar a vida, não quero me distanciar das pessoas e seus defeitos morais.

Talvez meu problema seja julgar demais os outros, mas sei a que isso se deve! Deve-se ao fato de que, na medida em que trago para mim a tarefa se cumprir a conduta cristã, torno-me um juiz do mundo. Sei que erro nesse sentido; sei que não é nada disso que o Mestre pregou, mas tomo isso como uma doença em mim. Mas nem mesmo sei sé é esse o problema. Deve ser mais que isso.

Estou no calvário. Mas quero sair dele! O consumismo, o culto ao objeto, o “cada um por si” funcionam muito para os outros. Sei que todos sofrem de um modo ou de outro, mas a tentativa de seguir o cristianismo não me trouxe nem conforto material e nem tranqüilidade espiritual. Os espíritos evoluídos dirão que se trata de um momento em que devo aprender. Talvez seja, mas se tenho vontade de ser de outra forma, se essa forma for errada e isso for me trazer dor... Aceito a condição! Eu quero paz, mesmo que artificial! Alguma dose dessa paz! Enquanto o divino não me tocar...

Ainda sobre Nietzsche, acho que em um momento ele foi brilhante: o bem não me trouxe conforto, o mal tão pouco. Quero me projetar para fora disso; quero fugir dessa tradição dualista! Quero estar para além do bem e do mal! Sou uno, e aceitar essa condição é negar esse ser uno, mas mutável: paradoxo fundamental para se compreender minha relação com o mundo. Relação essa extremamente confusa e problemática!

Viver é buscar a liberdade... Ao menos para os pobres diabos que caem no questionamento acerca da própria vida!

5.11.07

Linha do Trem

Outro dia gastei um bom tempo no Linha do Trem. Uma tira melhor que a outra com o melhor do humor ácido. E o que há de melhor para se esquecer por alguns instantes de todo o resto? Abaixo algumas das que eu mais gostei:




Eu odeio dinheiro!

David Alfaro Siqueiros
As vezes acho que as coisas estão desmoronando... As vezes acho que o cara de anos atrás que era contra o sistema e procurava depender o mínimo possível dele está sucumbindo. Calma, ainda sou contra essa merda, mas sinto cada vez mais que não consigo ser feliz sem ter um carro, um canto para morar, sem consumir coisas... É como se eu estivesse com uma doença grave, e soubesse muito bem disso, e odiasse essa doença com todas as minhas forças, mas não conseguisse me curar. Talvez não odeie tanto assim, talvez ache que odeie muito, mas não.
Ontem pensei o dia todo em voltar a ganhar bem, em deixar por um pequeno tempo de lado minha alegria de acordar todos os dias e me dirigir a um trabalho agradável, que me fizesse sentir útil, feliz... E por que não continuo nele? Por que a vida não é só aquelas horas do dia em que faço o que gosto. O dinheiro está muito mais enraizado em nossas vidas que algumas horas de trabalho feliz. O dinheiro nos acompanha por onde quer que andemos. Os meus alunos ficam para trás quando deixo a escola, os muros da escola permanecem por lá, mas o dinheiro... Esse está sempre em volta. Seja nos outdoores, na comida, nos meios de locomoção, nas relações humanas, sempre mediadas pelos objetos do mundo do consumo...
Tente lutar! Tente! Mas se não for forte, se não resistir muito não conseguirá. Chega-se em uma idade em que se olha para trás e começa a medir sua vida pelos bens que acumulou. Eu não queria, não mesmo! Mas o fato é que o mundo te olha assim, as pessoas que você ama, que você respeita ou que dependem de você te olham assim. É difícil porque ao negar tudo isso você entra num emaranhado cada vez maior, cada vez mais profundo. Quando se quer sair é muito complicado.

Não desistirei de ser professor, de prestar um concurso público ou talvez dar aula para os "mais abastados", mas o fato é que no momento não posso mais. Não consigo mais viver sem ser "bom" aos olhos alheios. Os olhos alheios recriam o sistema econômico, a cultura consumista. Eu sou consumista, eu respiro coisas, eu sou uma coisa... Me sinto nauseado, me sinto triste como um drogado que precisa de mais uma dose. Crise de abstinência. O fato é que preciso das pessoas... O máximo de pessoas que eu puder ter.
Não desisti, mas quero ter condições materiais para ser aquilo que sonho. E se falhar em ser aquilo que sonho, ao menos estarei dentro da roda diabólica novamente. Ao menos poderei consumir...
Não sei bem o que estou dizendo, mas sou sincero. Esse blog sou eu...

22.10.07

Tropa de Elite

Capitão Nascimento: herói ou fascista?
Só se fala nisso... Sinto-me na obrigação de falar também, afinal também estou sujeito ao que a Indústria Cultural fabrica. Então vamos lá...
Tropa de elite, fenômeno cultural brasileiro, é o filme mais comentado no cinema nacional, pois trata de um dos problemas mais presentes em nossa sociedade: a relação entre segurança pública, sociedade e os traficantes.
Já li muitas opiniões a respeito, desde aquela que acha o filme fascista por defender a violência do aparato público de segurança, incluindo a tortura de civis para se obter informações, até aquelas que acham que o filme coloca o marginal em seu lugar e resgata a figura do policial como o “mocinho” da história. Esse status teria se perdido em nossa cultura com o surgimento de filmes como Carandiru e Cidade de Deus, que exaltam a figura do marginal humano e sofrido, vítima de um sistema social injusto.
Sim, o filme é tudo isso. Não há como isolar. A mídia (de esquerda ou de direita) vai fazê-lo de acordo com seus interesses, sendo esse um ponto a ser cuidado. Tentei de todas as formas captar a linha seguida por ele. Em certos momentos concordei com os que o intitulam fascista, em outros com aqueles que acharam bom um filme finalmente mostrar o lado da polícia. Tudo é importante aqui e penso que o filme atirou para todos os lados, mas talvez tenha encontrado uma idéia principal nesse emaranhado.
De fato achei bom o filme mostrar o lado da polícia. O que me deixou mais provocado foi o fato de ter me identificado (muito) com a classe média colocada na trama. Em um seminário sobre Foucault, surge a discussão sobre o fato da polícia não apenas oprimir os pobres, mas também tratar a classe média com rispidez extrema. Isso é verdade, quem não sabe? O balde de água fria vem em seguida, quando o aspirante André Matias (personagem em constante dualidade entre seu meio social e sua profissão) afirma que não é a toa que a polícia faz isso, uma vez que é a própria classe média reclamona que financia o tráfico e em momento algum assume sua participação nisso. Esse argumento não traz novidade alguma, mas reconheço que nas minhas rodas universitárias em momento algum levamos esse balde de água fria. O envolvimento com os personagens policiais me fez esquecer a qual lado da guerra eu pertencia. Fui trazido de volta à minha posição nesse momento.
Nem mesmo a relação das ONGs com o tráfico foi polpada. Achei uma das melhores coisas do filme. Para atuar dentro da favela, os jovens de classe média faziam um acordo com os donos do morro. Sem PMs por aqui, pois eles são inimigos. Os mesmos jovens consumiam e vendiam as drogas na faculdade. Terminaram por fazer uma passeata pela paz, protestando contra a morte de dois amigos mortos pelos traficantes. Hipocrisia... Será a forma encontrada pelo filme de ganhar a opinião da classe média? As questões morais doem na alma. E em mim não foi diferente. “Quantas crianças precisam ser mortas para que um playboy aperte um baseado?” Essa doeu!
A classe média toma de um lado, a polícia “convencional” de outro. É evidente a corrupção na PM e o BOPE aparece como o remendo no sistema de segurança. Uma tentativa de remediar uma situação que fugiu do controle do Estado. O filme é bom em espetadas rápidas, como a cena em que um membro da PM aparece em reunião com um político, negociando o apoio à sua candidatura. Sobram farpas para todos. De jogo do bicho a prostíbulos, de proteção policial remunerada por estabelecimentos comerciais a propinas do tráfico. A polícia sobrevive como pode e o BOPE aparece como uma contradição cruel. Um braço do sistema que prega a negação desse jeitinho encontrado pela PM para sobreviver dentro do sistema. Como a polícia sobreviveria sem esse jeitinho, em meio a tanto descaso do Estado? O filme coloca o problema, mas não responde.
E o traficante? O principal da trama, personagem Baiano, em determinado momento é comentado pelo protagonista, capitão Roberto Nascimento: “sei como a história dele termina, mas não sei como começa... Deve ter tido uma infância fodida”. A espetada aqui foi para aqueles que afirmam que bandido é ruim. Nem mesmo o capitão do BOPE nega que a condição pobre do traficante o tenha levado a tal situação. Mais uma sutileza do filme ignorada por muitos.
No meio de tantas referências que nos levam a juízos diferentes e opostos, como descobrir a linha seguida pelo filme? Estado em descaso com a segurança, classe média irresponsável, traficantes implacáveis, uma polícia teoricamente ética no meio disso tudo. A guerra continua.
Penso que o filme no meio disso tudo ressalta o papel do Estado. O BOPE representa o Estado dentro da trama. O Estado que reconhece seus defeitos, mas procura, dentro de suas possibilidades, corrigí-los. Acima de tudo, temos dentro da trama a separação do indivíduo subjetivo e o aparato público. Tropa de Elite coloca aos poucos e em pequenas doses todo conteúdo psicológico das partes envolvidas. Do playboy com “consciência social” ao polícial ético com síndrome do pânico. O substrato que os envolve é um só e parece a todo momento tentar encontrar um ponto de equilíbrio. O policial deve fazer cumprir a lei, o contrato social deve ser garantido. Doa a quem doer...
Tropa de Elite coloca o Estado como o único capaz de conseguir tal feito. Nem as organizações não governamentais, nem a parcela “esclarecida” da sociedade podem substituí-lo. O Estado aqui aparece acima de classes sociais, neutro e jogando na cara de todos as questões morais que envolvem a sociedade.
Em tempos de liberalismo desenfreado, em meio a privatizações e PPPs, o filme aparece como um tapa na cara dos devotos do capital estrangeiro. Não é a toa que liberais como Diogo Mainardi caíram de pau no filme. Essa turma liberal não separou bandido e traficante e os colocou como bandidos da mesma grandeza, farinha do mesmo saco. O Estado mínimo na análise dessa turma é exaltado nas entrelhinhas de seus textos, pois trazem a idéia de que, em momento algum o Estado falido poderia produzir algo de bom dentro dessa guerra urbana. Não discordo disso, mas não com a intenção desse pessoal. Talvez nem mesmo Mainardi tenha feito essa análise, mas a questão aqui está implícita e pode facilmente ser interiorizada. Uma ideologia não precisa ser necessariamente positiva, mas também pode esconder-se nas entrelhinhas da arte. Nesse ponto Tropa de Elite se saiu muito bem.
Tropa de Elite culpa os traficantes, mas não perdoa mesmo é a classe média. O soco que o playboy leva ao final da participação de sua turma na trama é a mensagem final do filme ao seu grande público. O bandido real aqui é essa parcela da sociedade que se organiza em alguns momentos para mudar a sociedade, mas trata de fazer o estrago ao mesmo tempo. O Estado condena os que quebram o contrato social e, em Tropa de Elite, a classe média aparece como a grande vilã na quebra desse contrato. O traficante ainda tem motivos para tornar-se o que é, mas o playboy financiado pelos pais até formar-se na faculdade não tem. E não há ONG que o absolva nesse aspecto. Pelo contrário, isso apenas atrapalha.
Tropa de Elite não trata da raiz do problema. Não aborda como as drogas chegam à favela, não mostra como o Estado possui pessoas de influência que articulam com os chefões milionários do “movimento”. O filme nesse sentido é raso, pois se restringe à guerra entre polícia e marginais, juntamente com as cagadas da classe média. Coloco aqui uma outra opinião que encontrei: a de que “existe uma clara coincidência entre a estréia de Tropa de Elite e o lançamento da nova política de segurança pública adotada pelos governos federal e estaduais. O PAC da Segurança é baseado no aumento da repressão policial, na criminalização da pobreza e dos movimentos sociais” (vide esquerda revolucionária).

Fecho aqui minha tese: Tropa de Elite defende um Estado autoritário. Coloca o mesmo como débil e frágil, mas esconde sua podridão mais fundamental. O Estado não controla suas fronteiras, não acaba com as plantações, nem pune severamente os “burgueses do tráfico”. Ao mesmo tempo, a violência por parte da polícia não vai contra a exclusão e o desemprego. Nesse aspecto o BOPE cai no mesmo erro das ONGs e se esconde no fantasma do reformismo cego. A guerra entre os capitães Roberto Nascimento e Baianos não terá fim. A classe média consumista e frustrada não deixará de financiar a diversão sintética em meio ao mundo do fetichista, vazio e deprimente. O Estado colocado em Tropa de Elite é uma idealização ingênua e reflete fielmente a visão de muitos policiais desde sua parcela ética até os corrompidos.
O filme é bom ao colocar de uma forma muito veraz esse aspecto da guerra urbana. De fato quebra a tradição de apenas mostrar o lado do favelado e traz para destaque o trabalhador da segurança que, da mesma forma, é explorado por um sistema cruel. O perigo aqui está no fato de que muitos brasileiros vão tratar a filme como uma abordagem profunda acerca do problema de segurança pública em nosso país. A classe média com “consciência social”, ao ser criminalizada, encerra qualquer tentativa de aprofundamento por não ter moral nenhuma para opinar perante a opinião pública. Pertenço a essa classe, utilizo-me de muitos argumentos encontrados nela e estou aqui tentando, talvez inutilmente, dizer que o filme em certo aspecto é incompleto. O diretor não tinha a obrigação dessa completude; isso não é problema, mas é perigoso. Principalmente por ter se tornado um sucesso de público, ou como disse um jornal gringo, “um fenômeno cultural”.
Por enquanto permaneço com o rosto doendo. Doendo pelo soco que levei do aspirante André Matias e mais ainda por ter sido um possível responsável pela morte de seu amigo de infância, aspirante Neto Gouveia. Permaneço timidamente com minha “consciência social” escrevendo em meu blog lido por meia dúzia de universitários maconheiros. Tive minha participação no filme e reconheço isso, mas em momento algum sucumbirei ao chamado, pois da mesma forma sou vítima de uma merda estrutural do sistema financeiro e político. E já que o Estado se mostrou como o único capaz de controlar a situação, peço que a resolva. A máscara nesse momento pode cair, e finalmente a trama do ano aparecerá apenas como a ponta do iceberg de um problema complexo e imerso numa microfísica onde o poder não permanece isolado em um único ponto. Foucault não estava tão errado e não é a toa que aparece no filme, merecendo inclusive, o Oscar de melhor coadjuvante.

17.10.07

Primeiro Encontro Paulista Pela Democratização da Comunicação e da Cultura

Comunicadores(as) populares, jornalistas profissionais, sindicalistas, assessores(as) de organizações sociais, produtores culturais, artistas, estudantes, militantes dos movimentos sociais, do movimento hip hop, da mídia alternativa, dos movimentos pelo software livre, todos(as) os(as) que se preocupam com os rumos da democracia em São Paulo e no país.

Este é um convite. Um chamado. Uma convocatória que anuncia a realização do I Encontro Paulista pela Democratização da Comunicação e da Cultura, nos dias 19, 20 e 21 de outubro de 2007, na Fapcom - Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação.

É uma oportunidade de debater ações que visem à ampliação radical do acesso à cultura, às tecnologias de informação, aos meios de produção. Tempo de pensar na educação para a comunicação, na comunicação para a educação. Momento de levantar a voz e reivindicar políticas públicas democráticas, que valorizem a comunicação comunitária, livre e popular. Leis que garantam a pluralidade e a diversidade nos grandes veículos de informação. Hora de fazer o coro por transparência, critérios e regulamentação para as outorgas de rádio e TV. De entender o futuro próximo da convergência, da digitalização. De lutar pela inclusão.

Local do encontro: Fapcom - Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Rua Major Maragliano, 191 - Cep. 04017-030 (próxima à Rua Domingos de Morais) - Vila Mariana, entre as Estações do Metro Vila Mariana e Ana Rosa. Inscrições: pelo email: secretaria@sp.comunicacaoecultura.org.br ou pelo telefone: (11) 3877-0824, falar com Mariana.

FONTE: http://sp.comunicacaoecultura.org.br/

15.10.07

Viagens filosóficas à parte, eu quero perguntar umas coisa. Uma única coisa...

O excelentíssimo presidente da república renovou seu mandato ano passado, ou seja, ainda não cumpriu nem metade de seu segundo mandato.

Certo!

Por que diabos a imprensa agora só fala sobre o que pode acontecer na sucessão presidencial em 2009? Temos tantas coisas a dizer, tantos "fatos, fatos e mais fatos", parafraseando Wittgenstein. É realmente curioso, quase inacreditável o fato de que as pessoas não questionem frente aos telejornais e jornais impressos ao longo do Brasil, o fato desses veículos abordarem com destaque exagerado um acontecimento ainda tão distante, frente à todos os demais acontecimentos de nosso país.

Em muitos momentos a mídia cria o fictício sobre o fatual, o dito pelo não dito e transforma o fato fora de hora em fato atemporal. O espectador, sem ação, viaja na velocidade de um bit pelo tempo falso, moldado pela comunicação de massa.

Distrair-nos! Sim... Essa é a meta! A verdadeira política nem de perto passa pelos olhos das massas, a cor desse mundo desconhecido não demonstra seu real comprimento de ondas a quem a observa.

O tempo existe de muitas formas, uma delas é na farsa daquela que manipula tudo. Do material, ao espiritual...

14.10.07

Sobre o que sou, mas já não mais...

Odeio escrever sobre mim, odeio escrever sobre o que sinto sobre mim, odeio colocar-me no centro do texto. Ora, descentralizo o texto para me colocar nele. Coloco o que sinto na borda da página e distorço a linha que leva ao rodapé. Assim me encontro e desencontro, assim permaneço distante e ao mesmo tempo beirando a verossimilhança de meu ser oculto.

Sou o que sou agora, apenas isso, pois o que sou não é mais estático, nunca foi, sei bem agora... Lutei algum tempo contra isso. Admiti a fixidez, a essência imutável. Não é mais assim. O que mais notava em mim seria o que mais mudaria minha forma de enxergar o ser. Enxerguei, percebi – ou me deixei perceber – para mudar, enfim sem sentir-me mal por isso.

Sou o que quero ser nesse momento, sou o que meu estado de consciência definir. Sou esse de agora, sou aquele que foge e busca a filosofia, sou aquele que se aliena e esclarece, sou egoísta e fraterno, diabólico e humano. A missa de minha vida pode ser negra ou pode ser sagrada.

Deus, diabo, negro, branco, sabedoria, ignorância, carne, espírito... Sou a união ambígua e apenas posso buscar a verdade em parte, mas o que não é também influencia meu ser material da mesma forma que aquilo que minha intuição pode captar...

Ao adentrar o movimento percebi o que sempre vi. A verdade perceptível nunca pode ser oculta. Mas o que é o oculto? O que é o imperceptível? As coisas mudam, as coisas se movem, as coisas são... Sendo assim, apenas são. E o que antes era obscuro, apresenta-se à minha consciência de forma clara, cristalina... O que coloco agora no mundo que não colocava antes?

Quanto mais meu intelecto se une à minha intuição, mais compreendo as coisas. Tirei isso da onde? Não sei... Prova da minha incapacidade, não permanente... Nunca permanente!

Odeio falar sobre mim, odeio escrever sobre mim, escrever sobre mim é escrever uma mentira, pois já não sou o mesmo do começo do texto. Melhor escrever sobre o movimento. Este sim, me acompanhou ao longo das linhas e me ajudou descentralizar o texto, colocar que sinto na borda da página e distorcer linha que leva ao rodapé. Não há fixidez, portanto, talvez haja retorno para algo que já mudou, pois o em si já não é mais, mas com certeza agora é...

1.10.07

Humor ou terror?

1)
"Acordo toda manhã, pulo no chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia de como tenho de agir, isto é, "Just do it"". Empresário da internet de 24 anos, Carmine Colletion, sobre sua decisão de tatuar a logo da Nike no seu umbigo, dezembro de 1997.

2)


Fonte (frase e tira): http://www.malvados.com.br/

26.9.07

A Vale é nossa, mas a liberdade de pensamento...

"Durante os dias 01 a 09 de setembro, brasileiros participaram de um processo de educação popular que questionava a privatização da Companhia Vale do Rio Doce e estimulava a democracia direta".
As perguntas do plebiscito:
1. Em 1997, a Companhia Vale do Rio Doce – patrimônio construído pelo povo brasileiro – foi fraudulentamente privatizada, ação que o governo e o Poder Judiciário podem anular. A Vale deve continuar nas mãos do capital privado?

2. O Governo deve continuar priorizando o pagamento dos juros da dívida exterma e interna, em vez de investir na melhoria das condições de vida e trabalho do povo brasileiro?

3. Você concorda que a energia elétrica continue sendo explorada pelo capital privado, com o povo pagando até 8 vezes mais que as grande empresas?

4. Você concorda com uma reforma da previdência que retire direitos dos trabalhadores?
FONTE: Brasil de Fato


Lindo, lindo... Tudo isso é muito legal! Só temos um problema aqui: não podemos julgar uma vitória, a manipulação contida nesse plebiscito. As perguntas tendenciosas equivalem a você olhar para a urna eletrônica no segundo turno de uma disputa presidencial entre A e B, e a urna apresentar as seguintes legendas:

1- Se você quer votar no candidato A, que trabalhará pelo bem do povo brasileiro em detrimento da corrupção, aperte A e confirme.
2- Se você quer votar no candidato B, que trabalhará por interesses politiqueiros em detrimento da nação, aperte B e confirme.
Ou ainda equivale a perguntar em plebiscito:

1- Você aceita ser espancado diariamente por PMs fazendo hora extra?
2- O que você acha de comer merda pelo resto de sua vida a partir de hoje?
3- Você é a favor da pobreza, da miséria e da injustiça?
4- O governo deve continuar fodendo com a sua vida?

Democracia? Sim, legal! Participação popular? Sim, beleza! Mas é um absurdo como a esquerda em certos momentos parece ser tão imbecil quanto a direita, e como a manipulação ideológica ainda é, infelizmente, o meio encontrado por essa esquerda para tentar mudar o rumo das coisas. Falam cobras e lagartos dos filhos da puta que possuem a comunicação de massa e todo aparato alienante, criticam a Rede Globo, as eleições burguesas, para em seguida me aparecerem com um plebiscito recheado de perguntas retóricas. É óbvio que, quem votou contra a ideologia explícita (nem mesmo implícita) das perguntas, possui uma posição direitista, cuja intenção foi enfraquecer o resultado obviamente esperado da votação.
Sou solidário à causa dos organizadores do plebiscito, mas me recusei a votar. De palhaçadas já chegam as que vemos de dois em dois anos, em frente a uma certa maquininha apitante...
Aperte "liberdade de pensamento" e confirme!

Deuses do Consumo

O carro de luxo Bentley Continental GTC, lançado recentemente na Ásia, é mostrado na Índia, onde custará US$ 517,7 mil (R$ 991 mil)

FONTE: http://www.uol.com.br

***
No mundo do consumo, os objetos nos prometem a felicidade eterna. São como deuses com armaduras sagradas e mensagens com verdades imutáveis. Eles aparecem como promessas de um futuro feliz e trazem esperança num futuro sintético.

É óbvio que em um país como a Índia, pouquíssimas pessoas poderão adquirir o carro da foto acima, mas acima de tudo, o que temos aqui é a intenção de promover a manutenção do consumo, do sonho, da esperança em adentrar o reino da felicidade e do luxo. Em um país que há pouco vendeu-se à maldição imperialista, tornou-se inevitável o culto aos objetos.
Na sociedade de consumo somos assim: enxergamos as coisas como essência de nós mesmos. Como se viessem antes de nós, como se existissem independentes de nós, de nosso ser, tornando-se nossos constituintes fundamentais.

Os deuses do consumo são deuses exatamente por isso... Promovem a inversão do homem, mascaram a vida e nos prometem um "Olimpo" do consumo. A utopia pós-moderna é mantida pela classe média que cultua aos objetos como essências imutáveis e necessárias.

Possuir significa existir e existir sem possuir tornou-se o não-ser! Que poder têm os deuses do consumo!

25.9.07

Fundação Santo André e o "Movimento Real"

A Fundação Santo André sofreu, ao longo de pelo menos seis anos, ataques progressivos à sua qualidade de ensino. Desligamento de professores por motivos políticos, aumentos exorbitantes nas mensalidades, sucateamento das estruturas dos cursos, quebra da democracia universitária, entre muitos outros motivos não observados por mim, ou talvez outras pessoas que possam realizar essa análise, foram determinantes para que a situação chegasse ao ponto em que chegou nos dias de hoje.

Sim, esta é uma análise fixa e sobreposta de um conjunto de instantes do passado. Tal análise é necessária para um conhecimento mais científico, ou positivo da situação política da F$A, mas de fato não é a única.

A história é o movimento constante de seus agentes e a esse movimento constante deve-se a mudança. Um fato hoje observado carrega em si marcas adquiridas no passado, mas torna-se um vício acreditar que se poderia prever com propriedade, no passado, todos os acontecimentos presentes. Ora, a situação atual da F$A pode realmente carregar em si as marcas de todos os ataques sofridos no passado, mas o risco do erro existir em tal análise é muito, para não dizer, absurdamente provável.

Projetamos no passado o que vivemos no presente, como uma sombra que recobre a estrada que ficou para trás do automóvel e como se antes mesmo desse automóvel por aquele ponto da estrada já observasse nela a sombra apenas agora ali localizada. O movimento estudantil da Fundação Santo André, e todas suas circunstâncias, devem ser observados como uma mutação constante de estados de consciência, de criações e invenções de seus integrantes (alunos, professores, população). Lidamos a cada dia com o movimento, com o tempo que não deve apenas ser recortado, catalogado e padronizado para ser compreendido. O tempo é mudança! O que temos é a mudança... O espírito do movimento estudantil na F$A mudou, se transformou, e isso nem mesmo o maior analista ou materialista histórico poderia prever com tamanha exatidão. Estamos frente a novos desafios e cabe à nossa análise duradoura entrar no interior do movimento, intuí-lo, para então compreendê-lo como uma coisa duradoura.

Caso Odair Bermelho caia, caso a burocracia dentro da F$A seja atacada pelo movimento estudantil, devemos compreender que calcar no passado tais vitórias, seria uma abstração por demais perigosa, uma fuga onde se toma o presente com ares de passado, sendo que esse contribuiu para o presente, mas em momento nenhum se trata do mesmo. Analisar a situação vigente por ela mesma é imprescindível, juntamente com o que hipoteticamente aprendemos com o passado, para que o movimento estudantil dentro dessa universidade realmente seja para nossa realidade material, um movimento, uma renovação constante.

Não devemos nos prender a verdades universais ou fórmulas prontas. Projetar essas fórmulas no passado converte-se em engano grave. Nada existe antes de se realizar, concordariam comigo os materialistas. A idéia que tenho de algo, antes desse algo existir, modifica-se no aparecer desse. Imagino algo, tenho uma idéia sobre esse algo, mas ao concebê-lo positivamente, mudo, mesmo que sutilmente, a idéia que tinha antes dele. Logo, temos uma falha ao tomar as idéias atuais como sombras projetadas no passado. Tomar a previsão retroativa como amiga constitui-se nesse momento em perigosa relação.

Tomemos o devir, tomemos a transformação contínua de idéias e finalmente compreenderemos a política não como o que se pensa ser, mas o que se é. Sem fixidez, sem essências imutáveis, e finalmente, sem “movimentos” que aparecem por um “espaço de tempo” e, assim como tudo aquilo que é recortado e analisado isoladamente, tende a parar e estagnar-se no erro (sendo nem mesmo esse, fixo e imutável)!

A greve continua!!!

Calendário para a semana, tirado em assembléia de segunda-feira (24/09):

25/09 (terça-feira): Aula Pública sobre as irregularidades na gestão "Odair Bermelho" - às 20h no Auditório da FAFIL (Pinicão)

26/09 (quarta-feira): aula pública organizada nas salas de aulas pelos professores dos cursos

27/09 (quinta-feira): ATO PÚBLICO NA FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ - Contando com a presença, além de todos os alunos em greve, de estudantes, entidades, etc, que apóiem a luta na F$A!

28/09 (sexta-feira): Assembléia geral

29/09 (sábado): Encontro dos estudantes da F$A no período matutino; Concentração para PASSEATA às 14h.

23.9.07

Passeata


A passeata com alunos e professores da F$A contou com cerca de 300 pessoas e percorreu o centro de Santo André, partindo da Câmara dos Vereadores. Durante o ato houve preocupação por parte dos alunos em informar, através de um jornal, a população de Santo André sobre o que vem ocorrendo com a Fundação Santo André.
Antes do ato decidiu-se realizar amanhã na FAFIL, às 19h30, uma assembléia que determinará os rumos do movimento.

21.9.07

As Últimas da F$A


Calendário Cultural:
21/09 - Sexta-feira-Show com "Mamelo Sound System" e outras bandas, à partir das 21h - Pátio do Colégio
- Oficina de malabares, artesanato, apresentação de filmes, entre outros - Salas do Colégio
22/09 - ATAQUE CULTURAL, à partir das 13h - Quadra e bosque da F$A;
23/09 - ATAQUE CULTURAL, à partir do sábado - Mesmo Local.
CINEOCUPA - 3 seções de cinema por dia:
20/09
- 9h/15h/20h
21/09
- 9h/15h/20h
22/09 e 23/09
- horário à definir
22/09
Passeata
Saída: Fundação Santo André às 12h00
Ponto do encontro com professores: 13h00 na Câmara dos Vereadores. Professores, alunos e simpatizantes seguirão juntos rumo ao centro da cidade.
- Na Rádio Movimento tem um especial com áudios da reunião ocorrida no dia 18/09 na Câmara Municipal de Santo André. O prefeito João Avamileno estava presente e se pronunciou.
- Acompanhe também com detalhes o que anda acontecendo na F$A acessando o blog criado pelos estudantes. A FAFIL continua em greve geral de professores e alunos!

15.9.07

Fundação Santo André em luta!!!

Na noite de quinta-feira, 13/09/07, foi realizada uma assembléia no Centro Universitário Fundação Santo André. A assembléia tratou de decidir e deliberar ações em repúdio aos constantes ataques que seus cursos andam sofrendo. Aumentos abusivos de mensalidades têm visado o fechamento de cursos em função de demandas mercadológicas. O que se procura hoje na F$A é a ampliação de cursos com maior demanda de mercado em detrimento de outros que não correspondem a essa lógica.

Outros problemas andam rondando a F$A nos últimos anos, como fechamentos de salas, além de falta de equipamentos e de professores, o que só contribui para a decadência da qualidade de ensino no local e sucateamento dos cursos em risco de fechamento.

Após a assembléia do dia 13/09/07, cerca de 700 alunos invadiram a reitoria da faculdade. Em apenas 4 horas de ocupação a tropa de choque chegou ao local, e o que se viu foi a evidência triste do que é o desrespeito aos estudantes por parte da reitoria da F$A e do Estado. Bombas de efeito moral, tiros de borracha, spray de pimenta e cacetetes foram os instrumentos utilizados na triste repressão da polícia.

Alguns estudantes foram feridos e 8 foram presos.

Os vídeos abaixo são da assembléia realizada no dia seguinte, 14/09/07. Na mesma noite, em assembléia interna, os professores da FAFIL (Faculdade de Filosofia e Letras), em protesto às atitudes da reitoria, deliberaram uma greve e não assinaram o ponto. Os estudantes também decidiram pela greve e manutenção diária das manifestações em protesto aos ataques de Odair Bermelho (reitor da F$A), além de um ato público na prefeitura de Santo André. Além da greve, os professores divulgaram um manifesto repudiando a violência ocorrida na quinta-feira.
Momento da leitura do manifesto escrito pelos professores da FAFIL: “Não descansaremos enquanto os responsáveis por essa arbitrariedade não forem punidos”.
A mídia de massa veiculou timidamente os ocorridos como se ainda esperasse por algo ou por mais nada. De Rede Globo a Bandeirantes tivemos notícias em seus respectivos jornais locais. O Diário do Grande ABC, cujo acionista é Odair Bermelho, tratou logo de publicar a declaração por parte da F$A de que a acusação de aumentos abusivos não procede e que trata-se de uma antecipação por parte dos alunos a uma decisão que ainda não foi tomada.

A luta deve continuar em repúdio aos anos de descaso e sucateamento da F$A, contra os aumentos abusivos de até 126% nas mensalidades. A maior manifestação já vista dentro da F$A não pode ter sido em vão!

A LUTA É DE TODOS!
















29.8.07

Henri Bergson

"Todos já tiveram ocasião de notar que é mais difícil avançar no conhecimento de si do que no mundo exterior. Fora de si, o esforço para aprender é natural, nós o praticamos com uma facilidade crescente, aplicamos regras. Em relação ao interior, a atenção deve permanecer tensa e o progresso torna-se cada vez mais penoso; quase acreditaríamos ir contra a natureza. Não há nisto algo de surpreendente? Somos interiores a nós mesmos e nossa personalidade é o que deveríamos conhecer melhor".
___________________Henri Bergson, O Pensamento e o Movente

Bergson dá um trabalho dos diabos. O cara tem umas sacadas que seres por demais "racionais" penam para compreender, mas em passagens como essa o estudo de sua filosofia vale todo sacrifício.

24.8.07

O que resta?

Em uma nação, os investimentos em educação devem se guiar pela renda da maioria de sua população. Um exemplo disso é o fato de que grande parte dos alunos carentes da rede pública de ensino vêm de famílias desestruturadas, além de morar em um ambiente que em nada se parece com aquele exposto nas telas de TV pela cultura de massa. Sem esperanças em uma vida melhor, sem amor familiar muitas vezes por ter sido apenas mais um filho em famílias com tantos outros, esse aluno não encontra em lugar algum, muito menos na escola um ambiente agradável e acolhedor. Quanto mais pobre e esquecido pelo Estado, mas ele necessita de um espaço dessa grandeza.

Quando a família não basta, quando as estruturas familiares deixam a dever para o futuro cidadão, cabe ao Estado acolhê-lo. A escola é uma extensão da família, mas não deve em momento algum depender de suas estruturas. A escola deve, sempre que a família não der conta de dar uma base sólida de ordem psicológica, moral e social ao aluno, fazer tal trabalho. Se o aluno carente passar pela escola, e ainda nessa não encontrar esse acolhimento, correrá o sério risco de viver em estado de exclusão pelo resto de sua vida, embora ainda possa encontrar por outros meios que não serão tratados por aqui, o caminho certo para uma vida digna.

O Estado deve, em nosso país, investir fortemente em educação. Deverá ser o maior investimento já feito em nossas terras para que dê conta de tamanha população excluída dos recursos mínimos para uma boa qualidade de vida. O Estado brasileiro investe fracamente nessa área. O aluno carente em momento algum encontra satisfação em entrar em uma escola, embora viva em um ambiente onde as condições estéticas e morais encontram-se depauperadas. Não seria nem um pouco difícil concorrer com esse ambiente encontrado nas favelas e demais bairros periféricos do Brasil. Não seria difícil criar um ambiente agradável, com profissionais bem treinados e remunerados, onde as crianças e jovens excluídos pela sociedade capitalista esquecessem por algumas horas de suas situações precárias de vida e de seus ambientes familiares frágeis. Nesse momento a educação não seria mais uma coisa desagradável na vida do aluno, mas um prazer que até o presente momento parece uma utopia em nosso sistema de ensino. Obviamente não podemos generalizar o comportamento humano dizendo que todos esses alunos teriam um excelente rendimento em seus estudos, mas não é necessário um grande estudo para se afirmar que o ensino ganharia muito com tais ações.

O cidadão que tem um ensino de qualidade, desenvolve internamente características que, se não estimuladas, poderiam permanecer imersas dentro de si por toda sua vida. O corpo sedentário atrofia-se assim como o intelecto, o corpo que se droga definha, assim como a mente que se ocupa de coisas inúteis envenena a alma. Uma educação de qualidade forma um ser consciente de muito mais coisas, pois seu mundo se amplia, sua linguagem enriquece e recorta o mundo de muitas formas. Em outras palavras, quem tem um ensino de qualidade é livre em seus pensamentos e ações muito mais que aquele que nunca entrou em contato com os estímulos cognitivos necessários ao saber. Espíritos críticos brotam em nossa sociedade ao semearmos a educação de qualidade que tanto sonhamos.

Sendo essa uma tarefa de grande esforço financeiro, mas não prático, por que o governo, que investe tanto em seus bancos em meio à crise financeira mundial, não faria esse pesado investimento em educação? Vivemos em um sistema econômico onde a livre-concorrência dos mercados virou uma briga comprada pelo Estado. A lógica é que, quanto mais enriquecemos e distribuímos a renda nacional, mais ampliamos o poder de consumo de nossa população. O capital gira mais, o país enriquece, chegam os investimentos de outros mercados e com isso o social, que aqui apresenta-se como posterior à economia, cresce juntamente. A educação, a saúde, os transportes e tantos outros serviços públicos devem submeter-se à economia para obterem melhorias. O governo pode investir em todas essas áreas, mas espera que a economia se fortaleça mais para que não fique para trás no mercado financeiro. O Estado não mais se preocupa com seus serviços essenciais em primeiro plano, mas sim com a forma como vai gerar e girar a riqueza de seu território.

Penso que a espera pelo crescimento econômico é um caminho por demais tortuoso e longo. A educação geraria uma nova sociedade, evoluiria a cultura de nosso país e criaria cidadãos com muito mais possibilidades de melhorar as condições sociais de nosso país ao desenvolver uma postura crítica e de ação. A preocupação fundamental com o crescimento econômico dá bases para o egoísmo e gera um ciclo que temo não chegar ao fim. O problema é que esse modelo de desenvolvimento é aquele defendido por todos os nossos governantes e criar uma sociedade crítica traria para esses sérios problemas. A sociedade não pode colocar em suas mãos as decisões acerca do Estado segundo eles. A cultura de massa deve permanecer como o principal meio de propagação das idéias que trazem para a sociedade uma cultura consumista e alienante.

Os países desenvolvidos possuem uma educação de qualidade em comparação aos menos favorecidos e nesse ponto toda defesa da educação dilui-se. A educação não conseguiu despertar uma consciência contra a lógica capitalista nas pessoas, pois nesse momento a cultura de massas aparece como o grande vilão. A economia consegue de uma forma muito mais eficiente dar conta das demandas do Estado, mas a comunicação de massa ainda permanece para que o simulacro do consumo permaneça nas mentes e gire a economia de varejo. O problema nesses países veio justamente do fato de que os investimentos nos serviços essenciais do Estado aguardaram o crescimento econômico. A alienação cresceu juntamente com a economia e a própria educação se dá dentro dessa cultura. A luta pela consciência foi perdida nesses territórios até o momento.

A luta pela educação deve se dar de forma urgente nos países pobres, mas não encontro soluções para que possamos proporcionar tal reforma sem cortar laços definitivos com nações poderosas sem criar no imaginário mundial, uma imagem semelhante a Cuba. O isolamento econômico seria a melhor solução? Investir em educação significaria fugir de uma série de obrigações que nossos governantes possuem em relação ao sistema capitalista. Fugir de tais obrigações geraria um ambiente de conflito geopolítico perigoso e tenso. Comprar tal briga de longe está nos planos de nossos representantes...

Trago a todos a um beco sem saída, onde expresso minha crise. Sou professor da rede pública e nesse momento penso que apenas o prazer de ensinar me faz continuar nesse caminho. Meus ideais estão vazios e sem a mínima sustentação. Se esse texto apresenta falhas ou contradições, é porque os ideais que impeliram-me à docência encontraram uma luta de proporções imensas e angustiantes.

Restam as relações humanas, o amor ao ensino e ao conhecimento. Resta a esperança, essa não precisa ser racional, mas puramente intuitiva... Salvo-me fora de mim!