17.6.06

Individualismo, Individualidade... Satisfaction?

É um esboço, um rascunho. Ainda há muito o que se dizer sobre isso, mas estudar e organizar idéias não é algo que se faça da noite para o dia. Por enquanto...

O universo está ao seu redor, a única pessoa que está fadada a conviver com você o resto de sua vida é você mesmo. Negar esse fato é negar sua própria vida e seu próprio ser.
Satisfação! O preenchimento de vazios em seu viver. Sartre já dizia que “o nada é uma ferida no coração do ser”.
O sofrimento do próximo te dói? Angustia-te? Faz-te sentir-se mal? Vamos iniciar uma viagem dentro de você e de seus sentimentos em relação ao mundo. Tudo parte do centro do seu umbigo, tudo existe ao seu redor como uma tentativa de um bem-estar e felicidade unicamente seus.

Pegue um santo, uma freira, um peregrino, alguns desses trabalhadores de projetos assistenciais. O que procuram? O bem-estar do próximo? De fato, mas essa não é a finalidade de suas ações. Satisfação! É isso que Madre Tereza buscava todos os dias ao abdicar de uma vida comum, é isso que o Papa faz todos os dias ao levantar, é isso que Chico Xavier recebia ao atuar no mundo, ao oferecer todo seu tempo a ajudar pessoas.
Essas personalidades, conhecidas pela sua entrega ao próximo apenas faziam essas coisas por um motivo: elas se sentiam bem por isso. O bem estar e satisfação ao ajudar o próximo os moviam dia após dia rumo aos seus trabalhos assistenciais. Se em algum momento isso incomodasse algum deles, ou causasse um mal estar, eles continuariam sua empreitada? Creio que não!

Até mesmo o maior sacrifício feito por um ser humano em prol de alguém ou alguma causa, é feito por proporcionar o mínimo de satisfação dentro de determinada situação. Estamos de fato inseridos em situações que são fatalidades. Um mundo desigual, uma família com alguém muito doente, aspirando cuidados. Você vai decidir. Cuidar da sua mãe doente ou deixá-la para trás? Ajudar o mundo a ser um lugar melhor ou viver sua vida como se nada acontecesse? Decisões! Você nunca escolheria a pior opção para você. Se te contrariasse ter que ajudar a sua mãe, mas mesmo assim você ajudasse, isso significaria que dentro dessa situação delicada você fez a opção que melhor te beneficiasse. Consciência limpa, talvez. E quanto a ajudar o mundo? Vai largar sua “vida” para defender alguma causa política, assistencialista ou religiosa? Satisfação. Dentro de um poço cheio de lagartos e cobras você escolhe por cortar os próprios pulsos ao ser comido vivo! Dos males o menor! Satisfação...

Essa série de situações vem para ilustrar a afirmação de que não importa o que você faça em sua vida, no mundo. Tudo desde tornar-se um santo a viver pensando apenas em si mesmo remete a um único fim: satisfação! Você de fato é um ser individualista e isso está intrínseco a você como a afirmação de que a única pessoa que está fadada a conviver com você o resto de sua vida é você mesmo.

O individualismo é exorcizado por aqueles que criticam a sociedade capitalista dita como individualista, mas nesse momento a questão não está em acabar com o individualismo. Isso seria a negação do seu próprio ser! A questão está em saber como esse individualismo humano está sendo canalizado e utilizado pela sociedade.


Ídolos, moda, dinheiro, concorrência de mercado. São palavras que se casam perfeitamente ao bem estar nos dias de hoje. Numa sociedade onde cada um deve achar seu lugar ao sol, o sentimento de INDIVIDUALIDADE é cada vez mais interiorizado pelas pessoas. Dar-se bem em uma entrevista de emprego, combater a empresa concorrente, ganhar mais que o outro, afimar-se dentro dessa selva. Individualidade é vista como afirmação de personalidade, um direito que deve ser respeitado pelo próximo. “Respeite minha individualidade”. Ser diferente, ser melhor... A moda e a mídia debruçam-se sobre esses preceitos. A ideologia dominante quer vestir o que se difere das classes inferiores, quer diferenciar-se delas. As classes dominadas absorvem a ideologia e procuram o mesmo. Procuram diferenciar-se de todos seja ganhando mais, tendo o melhor carro, a melhor casa, roupas diferentes, pensando diferente, agindo melhor e dizendo isso a todos.
Ìdolos! Os jovens, principalmente, procuram diferenciar-se através de seus ídolos. Ao identificar um ídolo na música, por exemplo, o jovem (que ainda não está tão preso a conceitos de como se deve vestir) procura igualar-se ao seu ídolo em suas roupas e atitudes. O jovem quer seu ídolo apenas para si! Não o divide com mais ninguém! Já teve um ídolo? Já quis que ele morasse dentro do seu armário para você poder pegá-lo sempre que quisesse? Isso quer dizer: TER UM ESTILO DE VESTIR, PENSAR E AGIR só seus. Um modelo que apenas você tem e não divide com mais ninguém. Só existe um porém: Ao sair na rua, a constatação é de que seu ídolo não é só seu. Ele foi adotado como modelo por muitos outros... Acalme-se. A mídia cria um a cada dia e é só pegar o próximo. O ciclo começa de novo e a frustração continua. Os modelos mudam com a idade, mas tem sempre o mesmo caráter: afirmar a individualidade!

A doença é essa. A individualidade afirma a “personalidade”, a “particularidade” de cada pessoa. Só que ao utilizar modelos comuns numa cultura de massas, seguir modas, lutar dentro de uma regra onde a luta é servir a este ou aquele bem material não tem nada a ver com essa “particularidade”. Sua satisfação, seu individualismo não está canalizado para saber de fato o que é bom para você, mas para transformá-lo muitas vezes numa vitrine que expõe um estilo, uma moda ou uma tendência.

O fato é que a interiorização da individualidade não existe, mas sim a sua exteriorização numa cultura de massas. Aí está a negação! Exteriorizar o que não pode ser exteriorizado. Ao curvar-se a pensamentos fabricados por uma minoria, as pessoas deixam de olhar para dentro de si mesmas e saber de fato o que é bom para elas. Conhecer a si mesmo é compreender que ser individualista não é o que prega o capitalismo e sua sociedade de consumo. Isso não é individualismo, mas sim individualidade. Ser individualista é simplesmente ser, é compreender que o que é bom para si mesmo de fato é bom para o seu próximo, é bom para a sociedade. Respeito e liberdade: todos querem isso, mas não os querem para os outros. Não se sabe de fato o que se está fazendo consigo mesmo, portanto que dirá com o universo ao seu redor.