29.8.07

Henri Bergson

"Todos já tiveram ocasião de notar que é mais difícil avançar no conhecimento de si do que no mundo exterior. Fora de si, o esforço para aprender é natural, nós o praticamos com uma facilidade crescente, aplicamos regras. Em relação ao interior, a atenção deve permanecer tensa e o progresso torna-se cada vez mais penoso; quase acreditaríamos ir contra a natureza. Não há nisto algo de surpreendente? Somos interiores a nós mesmos e nossa personalidade é o que deveríamos conhecer melhor".
___________________Henri Bergson, O Pensamento e o Movente

Bergson dá um trabalho dos diabos. O cara tem umas sacadas que seres por demais "racionais" penam para compreender, mas em passagens como essa o estudo de sua filosofia vale todo sacrifício.

24.8.07

O que resta?

Em uma nação, os investimentos em educação devem se guiar pela renda da maioria de sua população. Um exemplo disso é o fato de que grande parte dos alunos carentes da rede pública de ensino vêm de famílias desestruturadas, além de morar em um ambiente que em nada se parece com aquele exposto nas telas de TV pela cultura de massa. Sem esperanças em uma vida melhor, sem amor familiar muitas vezes por ter sido apenas mais um filho em famílias com tantos outros, esse aluno não encontra em lugar algum, muito menos na escola um ambiente agradável e acolhedor. Quanto mais pobre e esquecido pelo Estado, mas ele necessita de um espaço dessa grandeza.

Quando a família não basta, quando as estruturas familiares deixam a dever para o futuro cidadão, cabe ao Estado acolhê-lo. A escola é uma extensão da família, mas não deve em momento algum depender de suas estruturas. A escola deve, sempre que a família não der conta de dar uma base sólida de ordem psicológica, moral e social ao aluno, fazer tal trabalho. Se o aluno carente passar pela escola, e ainda nessa não encontrar esse acolhimento, correrá o sério risco de viver em estado de exclusão pelo resto de sua vida, embora ainda possa encontrar por outros meios que não serão tratados por aqui, o caminho certo para uma vida digna.

O Estado deve, em nosso país, investir fortemente em educação. Deverá ser o maior investimento já feito em nossas terras para que dê conta de tamanha população excluída dos recursos mínimos para uma boa qualidade de vida. O Estado brasileiro investe fracamente nessa área. O aluno carente em momento algum encontra satisfação em entrar em uma escola, embora viva em um ambiente onde as condições estéticas e morais encontram-se depauperadas. Não seria nem um pouco difícil concorrer com esse ambiente encontrado nas favelas e demais bairros periféricos do Brasil. Não seria difícil criar um ambiente agradável, com profissionais bem treinados e remunerados, onde as crianças e jovens excluídos pela sociedade capitalista esquecessem por algumas horas de suas situações precárias de vida e de seus ambientes familiares frágeis. Nesse momento a educação não seria mais uma coisa desagradável na vida do aluno, mas um prazer que até o presente momento parece uma utopia em nosso sistema de ensino. Obviamente não podemos generalizar o comportamento humano dizendo que todos esses alunos teriam um excelente rendimento em seus estudos, mas não é necessário um grande estudo para se afirmar que o ensino ganharia muito com tais ações.

O cidadão que tem um ensino de qualidade, desenvolve internamente características que, se não estimuladas, poderiam permanecer imersas dentro de si por toda sua vida. O corpo sedentário atrofia-se assim como o intelecto, o corpo que se droga definha, assim como a mente que se ocupa de coisas inúteis envenena a alma. Uma educação de qualidade forma um ser consciente de muito mais coisas, pois seu mundo se amplia, sua linguagem enriquece e recorta o mundo de muitas formas. Em outras palavras, quem tem um ensino de qualidade é livre em seus pensamentos e ações muito mais que aquele que nunca entrou em contato com os estímulos cognitivos necessários ao saber. Espíritos críticos brotam em nossa sociedade ao semearmos a educação de qualidade que tanto sonhamos.

Sendo essa uma tarefa de grande esforço financeiro, mas não prático, por que o governo, que investe tanto em seus bancos em meio à crise financeira mundial, não faria esse pesado investimento em educação? Vivemos em um sistema econômico onde a livre-concorrência dos mercados virou uma briga comprada pelo Estado. A lógica é que, quanto mais enriquecemos e distribuímos a renda nacional, mais ampliamos o poder de consumo de nossa população. O capital gira mais, o país enriquece, chegam os investimentos de outros mercados e com isso o social, que aqui apresenta-se como posterior à economia, cresce juntamente. A educação, a saúde, os transportes e tantos outros serviços públicos devem submeter-se à economia para obterem melhorias. O governo pode investir em todas essas áreas, mas espera que a economia se fortaleça mais para que não fique para trás no mercado financeiro. O Estado não mais se preocupa com seus serviços essenciais em primeiro plano, mas sim com a forma como vai gerar e girar a riqueza de seu território.

Penso que a espera pelo crescimento econômico é um caminho por demais tortuoso e longo. A educação geraria uma nova sociedade, evoluiria a cultura de nosso país e criaria cidadãos com muito mais possibilidades de melhorar as condições sociais de nosso país ao desenvolver uma postura crítica e de ação. A preocupação fundamental com o crescimento econômico dá bases para o egoísmo e gera um ciclo que temo não chegar ao fim. O problema é que esse modelo de desenvolvimento é aquele defendido por todos os nossos governantes e criar uma sociedade crítica traria para esses sérios problemas. A sociedade não pode colocar em suas mãos as decisões acerca do Estado segundo eles. A cultura de massa deve permanecer como o principal meio de propagação das idéias que trazem para a sociedade uma cultura consumista e alienante.

Os países desenvolvidos possuem uma educação de qualidade em comparação aos menos favorecidos e nesse ponto toda defesa da educação dilui-se. A educação não conseguiu despertar uma consciência contra a lógica capitalista nas pessoas, pois nesse momento a cultura de massas aparece como o grande vilão. A economia consegue de uma forma muito mais eficiente dar conta das demandas do Estado, mas a comunicação de massa ainda permanece para que o simulacro do consumo permaneça nas mentes e gire a economia de varejo. O problema nesses países veio justamente do fato de que os investimentos nos serviços essenciais do Estado aguardaram o crescimento econômico. A alienação cresceu juntamente com a economia e a própria educação se dá dentro dessa cultura. A luta pela consciência foi perdida nesses territórios até o momento.

A luta pela educação deve se dar de forma urgente nos países pobres, mas não encontro soluções para que possamos proporcionar tal reforma sem cortar laços definitivos com nações poderosas sem criar no imaginário mundial, uma imagem semelhante a Cuba. O isolamento econômico seria a melhor solução? Investir em educação significaria fugir de uma série de obrigações que nossos governantes possuem em relação ao sistema capitalista. Fugir de tais obrigações geraria um ambiente de conflito geopolítico perigoso e tenso. Comprar tal briga de longe está nos planos de nossos representantes...

Trago a todos a um beco sem saída, onde expresso minha crise. Sou professor da rede pública e nesse momento penso que apenas o prazer de ensinar me faz continuar nesse caminho. Meus ideais estão vazios e sem a mínima sustentação. Se esse texto apresenta falhas ou contradições, é porque os ideais que impeliram-me à docência encontraram uma luta de proporções imensas e angustiantes.

Restam as relações humanas, o amor ao ensino e ao conhecimento. Resta a esperança, essa não precisa ser racional, mas puramente intuitiva... Salvo-me fora de mim!

14.8.07

V A Z I O

Tá, mas e daí?
Não ia dizer nada sobre isso, mas... Não agüento!

Cansei... Movimento encabeçado pela OAB, ONG’s, Associações e demais entidades. O PT diz que se trata de um golpe, os membros do Cansei dizem que trata-se de um movimento apartidário. As informações que me chegam através da mídia acerca desse assunto são tão verídicas quanto um filme de ficção científica. O que dizer? Direi o que dá...

Golpista ou não, mentiroso ou não, a idéia desperta uma posição ativista na sociedade. Isso é bom? Penso que sim. Pode ser manipulador? Pode! Pode ser elitista? Sim! Mas vamos ao que interessa...

O brasileiro estuda em uma escola pública falida, uma piada... Antes de ingressar nela, nasce e cresce em famílias que aumentam de forma desproporcional. Sem amor, sem atenção devida, muitos crescem à margem de uma estrutura familiar adequada, namoram o crime e a “vida loka”. Eles entram para a idade adulta sem oportunidades ou perspectivas, representam a maioria, formam a sociedade brasileira. Suas vidas, sem maldade, são uma grande piada, logo, a sociedade brasileira é uma piada, um rascunho do que tem que ser um país justo e digno.

A mídia divulga o cansei, daí esse cara que cresceu e chegou à idade adulta nas condições acima citadas, entra em contato com informações incompletas acerca do movimento. Informações que apenas entram em “detalhes” sobre o movimento através da Internet... Esse cidadão mal sabe apertar a tecla “enter”, mas tudo bem... Hebe Camargo, Regina Duarte, Ivete Sangalo e sei lá mais quem aparecem fazendo publicidade sobre o movimento. Elas também estão cansadas, logo, também cansei!

Mas o movimento não luta contra isso? Sim, não duvido! Então qual o problema? Não é bom que as elites façam algo pelo país com sua educação e esclarecimento intelectual superior às classes menos favorecidas? Não é bom que se utilizem de uma cultura minoritária em nome daqueles que não tiveram a mesma sorte? Bom, concordo... Mas temos um problema aqui...

Esse movimento é vazio! V A Z I O! Não propõe nada! Absolutamente N A D A! Colocam vídeos no YouTube, anúncios em jornais, revistas e o diabo. Eles criticam o caos aéreo, a roubalheira, os empresários pilantras, os políticos corruptos... Chamaram a população para uma manifestação silenciosa no próximo dia 17 em frente à Praça da Sé, em SP. Qual idéia trazem para a solução desses e tantos outros problemas que assolam o país? Nenhuma...

Qual idéia o cara que nasceu nas condições desfavorecidas citadas acima tem para a melhoria do país? Nenhuma também... Ele também reclama do governo, de sei lá o que está acontecendo com os aviões, do salário... Papagaio fala, o pobre fala, a elite fala, você e eu falamos... Mas e daí?

E daí nada!

Será possível que um movimento vazio como esse que deve estar custando um dinheirinho legal para seus “patrocinadores” tenha apenas a intenção de dizer nada?
Eles partem do vazio da sociedade e da falta de tudo em nós... Até da falta de palavras para se reclamar do que realmente deve ser reclamado. Eles são como nós? Não! Eles querem o que? Não sei... Mas com certeza isso não está sendo dito nas divulgações desse movimentozinho tosco. Não mesmo!

Manipulação... Das elites, da mídia, de um grupo político... Mas que coisa mais mal contada! Essas coisas me assustam porque se a safadeza chegou a ponto de tentar manipular as pessoas dessa forma... É porque a coisa tá feia!
Agora, o que está havendo de fato? A que pé anda essa guerra obscura que só chega a nós através de palhaçadas como esse movimento?
Fora da informação não há salvação... Sacou? Preciso dizer mais?
Abaixo a mídia corrupta! Entendeu, agora?

12.8.07

Estado Burguês?

A idéia de Estado nasceu de diferentes pensadores, em diversas correntes filosóficas e se desenvolveu ao longo da história. O Estado moderno nasceu com a intenção de um "moderador" laico e neutro entre as classes sociais.
É claro que essa idéia está longe de ser realizada em sua plenitude, mas quando digo "Estado", me refiro, em essência, a essas e outras características que moveram os homens a tentar realizar esse projeto.
Desse modo, quando ouço certas correntes ideológicas referindo-se ao Estado como "Estado Burguês", penso se esse seria um termo correto, ou se na verdade o termo correto seria "Estado controlado pela burguesia", pois uma vez que o estado é neutro entre as classes, ele jamais poderia ser burguês.
Bom, segundo Heidegger, a essência não é fixa... Podemos argumentar nesse sentido também.
Pensarei melhor nisso!
Apenas ame ao máximo de pessoas que puder... Sinta a felicidade!

Não há nada melhor... Não há nada melhor que amar ao próximo!

2.8.07

Greve dos Metroviários: a imprensa fala, os papagaios repetem!

Parece a Sé em horário de pico, mas é a greve dos metroviários...
O caos em São Paulo! Isso lá é novidade? O telejornal mostra o empurra-empurra pelos terminais de metrô que tiveram suas linhas funcionando em apenas 17% no dia de hoje. Mulheres grávidas, idosos chorando, pessoas chegando atrasadas em seus empregos! A greve dos metroviários explodiu hoje na capital paulista e o recorte escolhido para apresentar a situação dessa vez mostrou extamante essas cenas. Para que? Eu diria... Para favorecer ao governo do Estado, colocando o populacho contra os trabalhadores do metrô. Siiim...

O Sr. José Serra declarou a greve como abusiva, uma vez que vem de uma categoria que já tem "benefícios demais". A coisa não termina por aí! O governador ameaçou demitir os grevistas caso a paralisação não chegue ao fim. Serra ainda declarou que a greve possui um caráter político, pois os sindicato dos metroviários está em vias de realizar suas eleições em setembro.

Calma, calma... Muita calma nessa hora! Desligue a TV e o rádio um pouquinho; saia do Terra e do UOL, feche o jornal, a VEJA, a ISTO É, dá-me tua mão (momento Clarisse Lispector), e vamos tentar pensar um pouco...

A greve é abusiva? Para quem? Para o patrão toda greve é abusiva, para o explorador, os movimentos pelos direitos trabalhistas nada mais são que badernas criadas para atrapalhar os planos de lucros certos. O estado injusto, dominado por uma classe canalha e egoísta foge cada vez mais dos direitos de seus trabalhadores, seja nos transportes, na saúde ou na educação. A categoria em greve pediu maior participação nos lucros e resultados, sendo que a discussão em torno dessa reivindicação vem sendo feita há quatro meses. Os trabalhadores nada mais são que os maiores responsáveis pelos lucros de seu patrão. Pedir uma fatia maior no bolo que eles mesmos fizeram tem algo de injusto? O patrão, no caso, é o Estado; aquele que explora o trabalho dessas pessoas, devolve muito pouco a eles em forma de capital e ainda por cima não fazem nada para melhorar a situação caótica dos transportes públicos.

Vamos falar da imprensa! Hoje nos telejornais da RECORD, BAND e GLOBO, o que foi assistido não foi a informação do que realmente acontece em torno dessa reivindicação trabalhista. A discussão de quatro meses entre metroviários e o Estado aparece como um detalhe nas manchetes dos telejornais dessas emissoras, como se fosse uma nota de rodapé. Mas e o corpo do texto? O corpo do texto é um espetáculo onde as pessoas reclamam do absurdo da greve, onde multidões aparecem amontoando-se para pegar os poucos metrôs que estavam em funcionamento. O empurra-empurra, os desmaios, os trabalhadores atrasados, a volta caótica para casa são as verdadeiras estrelas onde o culpado pela situação não é o Estado, mas sim os metroviários! Trabalhadores como todos os outros que, ao contrário de muitos, resolveram bater o pé e dizer que não aceitam a exploração de seus patrões. Mas quem se importa com isso?

O que temos é uma novela onde o egoísmo das pessoas e a falta de consciência coletiva são os grandes motores da mentira da mídia! Se a greve é uma disputa política no sindicato? Não sei, mas... É até engraçado! Quem são os políticos, quem é o Sr. José Serra para dizer isso? Tudo nessa merda é uma disputa! Politicagem, senhor governador... Esse seria o termo correto a ser usado. Algo que vocês todos fazem no comando do Estado!

A TV não mostra e nem vai mostrar o ato de irresponsabilidade que foi colocar os funcionários que normalmente não exercem a função de pilotos do metrô para tal atividade, deixando em risco a população. A TV também não comenta o estranho fato das linhas VERDE e AZUL do metrô, que levam aos bairros mais abastados da cidade, serem as focadas para funcionarem normalmente, ao passo que a linha VERMELHA, que leva para a Zona Leste se transformou no caos. Por que isso? Deixa que a periferia se revolte! Deixem a linha dos menos abastados paralisada! Assim teremos todos contra os trabalhadores em greve! Fácil, fácil... O espetáculo fica por conta da imprensa! Pode rodar...

Os cegos, ovelhas da mídia esquecem que o empurra-empurra não existe apenas em decorrência da greve, mas diariamente nos horários de pico da capital paulista. Já entrou às 17h00, 18h00 nas estações da Luz, Sé, no terminal de Santo Amaro, Jabaquara? Precisa de greve para o caos? Cadê a indignação agora? Cadê o Jornal Nacional? A raiva do povo nesse momento vira azia... E mais tarde vai diluir-se em frente a uma TV, quando esses pobres diabos chegarem em suas casas!

O que teremos amanhã será um festival de repetições. Verei em muitos discursos pelas ruas, a papagaiada dita pelos “Bonners” e “Amorins” do cotidiano. Os poderosos pagam o leilão da imprensa, ela faz o serviço e o populacho repete tudo no dia seguinte. Uma terra de papagaios! Acho que o Zé Carioca é mesmo nosso grande símbolo. Adequado por demais à alienação coletiva!

Ah, a greve continua! Quem não gostou... Que vá ligar a TV!