23.4.10

Nas Provas da Senda

A natureza, por livro divino da Sabedoria Celeste, ensina, em toda parte, que a persistência é o sinal luminoso da evolução.
O Sol não se faz menos brilhante quando ilumina o vasto espelho do deserto sem água.
A flor não esconde o perfume que lhe é próprio, porque surjam emanações pestilentas do charco que foi situada.
A fonte não cessa de correr porque o leito em que se movimenta se constitua de pedras.
A árvore não recolhe os seus galhos porque os vermes considerados venenosos lhe venham sugar os frutos.
As estrelas fulguram no seio imenso da noite.
A catarata é a força divina da Terra a despenhar-se no abismo.
O pântano drenado é chão proveitoso.
Só o homem dá curso ao desânimo e à desconfiança, ante os reservatórios inesgotáveis da paciência e da bondade divina do Senhor. Só o homem duvida, dilacera-se, dorme e recua, perdendo, por vezes, benditas oportunidades de elevação para os cimos deslumbrantes da vida.
E, na indisciplina e na intemperança, no desespero e na negação a que se entrega, comumente procura fugir ao quadro de obrigações que lhe cabem, mas, ainda que se projete aos confins do Universo, não encontrará senão a si mesmo, com as suas realidades conscienciais, com o impositivo de tudo recapitular e tudo recomeçar, para reaprender e refazer.
Assim, pois, em nossas lutas naturais do caminho regenerativo e santificante, aceitemos o cálice de nossas provações, seja qual for, sorvendo-lhe corajosamente o conteúdo lembrando que nada vale para nós a fuga dos deveres fundamentais que nos competem, porque, em nos afastando dos aguilhões salvadores dentro da vida, estamos simplesmente recusando em vão o programa sagrado de Deus.

(Pelo espírito Emmanuel em Marcas Do Caminho, de Francisco Cândido Xavier, ditado por espíritos diversos)

18.4.10

Guardemos o Cuidado

"...mas nada é puro para os contaminados e infiéis" (TITO, 1: 15).

O homem enxerga sempre, através da visão interior.
Com as cores que usa por dentro, julga os aspectos de fora.
Pelo que sente, examina os sentimentos alheios.
Na conduta dos outros, supõe encontrar os meios e fins das ações que lhe são peculiares.
Dai, o imperativo de grande vigilância para que a nossa consciência
não se contamine pelo mal.
Quando a sombra vagueia em nossa mente, não vislumbramos senão
sombras em toda parte.
Junto das manifestações do amor mais puro, imaginamos alucinações
carnais.
Se encontramos um companheiro trajado com louvável apuro, pensamos em vaidade.
Ante o amigo chamado à carreira pública, mentalizamos a tirania política.
Se o vizinho sabe economizar com perfeito aproveitamento da oportunidade, fixamo-lo com desconfiança e costumamos tecer longas reflexões em torno de apropriações indébitas.
Quando ouvimos um amigo na defesa justa, usando a energia que lhe compete, relegamo-lo, de imediato, à categoria dos intratáveis.
Quando a treva se estende, na intimidade de nossa vida, deploráveis alterações nos atingem os pensamentos.
Virtudes, nessas circunstâncias, jamais são vistas.
Os males, contudo, sobram sempre.
Os mais largos gestos de bênção recebem lastimáveis interpretações.
Guardemos cuidado toda vez que formos visitados pela inveja, pelo ciúme, pela suspeita ou pela maledicência.
Casos intrincados existem nos quais o silêncio é o remédio bendito e eficaz, porque, sem dúvida, cada espírito observa o caminho ou o caminheiro, segundo a visão clara ou escura de que dispõe.

(Francisco Cândido Xavier, ditado por Emmanuel. Fonte Viva. Rio de Janeiro, RJ: Federação Espírita Brasileira, 1956).

16.4.10

Se Eu Fosse Eu


Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.
E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? Não sei.
Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.
"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legítima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais (De Clarice Lispector, extraído do livro A Descoberta do Mundo. Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 2008).

Aos melancólicos...

existencialistas ou não:


Sabeis por que uma vaga tristeza se apodera por vezes de vossos corações e vos faz achar a vida tão amarga? É o vosso Espírito que aspira à felicidade e à liberdade e que, preso ao corpo que lhe serve de prisão, esgota-se em vãos esforços para dele sair. Mas, vendo que são inúteis, cai no desencorajamento, e o corpo, suportando sua influência, a languidez, o abatimento e uma espécie de apatia se apodera de vós, e vos achais infelizes.
Crede-me! Resisti com energia a essas impressões que enfraquecem em vós a vontade. Essas aspirações para uma vida melhor são inatas do Espírito de todos os homens, mas não a procureis neste mundo; e no presente, quando Deus vos envia seus Espíritos para vos instruírem sobre a felicidade que vos reserva, esperai pacientemente o anjo da libertação que deve vos ajudar a romper os laços que mantêm vosso Espírito cativo. Pensai que tendes a cumprir, durante vossa prova sobre a Terra, uma missão de que não suspeitais, seja em vos devotando à vossa família, seja cumprindo os diversos deveres que Deus vos confiou. E se no curso dessa prova, e desempenhando vossa tarefa, vedes os cuidados, as inquietações, os desgostos se precipitarem sobre vós, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os francamente, eles são de curta duração e devem vos conduzir para  perto dos amigos que chorais, que se regozijarão com a vossa chegada entre eles, e vos estenderão os braços para vos conduzir a um lugar onde os desgostos da Terra não têm acesso (Pelo espírito François de Genève em O Evangelho Segundo o Espiritismo, p.74. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2007).

14.4.10

Solidão

"O presidente, porém, disse: - mas, que mal fez ele? E eles mais clamavam, dizendo: seja crucificado" (MATEUS, 27:23).

À medida que te elevas, monte acima, no desempenho do próprio dever, experimentas a solidão dos cimos e incomensurável tristeza te constringe a alma sensível.
Onde se encontram os que sorriram contigo no parque primaveril da primeira mocidade? Onde pousam os corações que te buscavam o aconchego nas horas de fantasia? Onde se acolhem quantos te partilhavam o pão e o sonho, nas aventuras ri dentes do início?
Certo, ficaram...
Ficaram no vale, voejando em círculo estreito, à maneira das borboletas douradas, que se esfacelam ao primeiro contacto da menor chama de luz que se lhes descortine à frente.
Em torno de ti, a claridade.. mas também o silêncio...
Dentro de ti, a felicidade de saber, mas igualmente a dor de não seres compreendido...
Tua voz grita sem eco e o teu anseio se alonga em vão.
Entretanto, se realmente sobes, que ouvidos te poderiam escutar a grande distância e que coração faminto de calor do vale se abalançaria a entender, de pronto, os teus ideais de altura?
Choras, indagas e sofres...
Contudo, que espécie de renascimento não será doloroso?
A ave, para libertar-se, destrói o berço da casca em que se formou, e a semente, para produzir, sofre a dilaceração na cova desconhecida.
A solidão com o serviço aos semelhantes gera a grandeza.
A rocha que sustenta a planície costuma viver isolada e o Sol que alimenta o mundo inteiro brilha sozinho.
Não te canses de aprender a ciência da elevação.
Lembra-te do Senhor, que escalou o Calvário, de cruz aos ombros feridos. Ninguém o seguiu na morte afrontosa, à exceção de dois malfeitores, constrangidos à punição, em obediência à justiça.
Recorda-te dele e segue...
Não relaciones os bens que já espalhaste.
Confia no Infinito Bem que te aguarda.
Não esperes pelos outros, na marcha de sacrifício e engrandecimento. E não olvides que, pelo ministério da redenção que exerceu para todas as criaturas, o Divino Amigo dos Homens não somente viveu, lutou e sofreu sozinho, mas também foi perseguido e crucificado.

(Francisco Cândido Xavier, ditado por Emmanuel. Fonte Viva. Rio de Janeiro, RJ: Federação Espírita Brasileira, 1956).

***

Quando se fala em cristianismo muitos pensam em senso comum. O que não se observa, muitas vezes, é que a prática do evangelho, a busca pela reforma íntima proposta nos ensinamentos do Cristo é muito pouco ou nada praticada em nossos dias. A evolução da raça, de acordo com a doutrina espírita, existe e trouxe a humanidade até onde está. A razão humana conquistou prodígios infindáveis na caminhada humana, mas quando se fala em evolução moral, muito do que se conquistou em termos racionais transforma-se em lama que nos impede de caminharmos mais adiante em nosso caminho evolutivo. Nesse campo o atraso ainda é imenso e encontra-se em relação desigual com o intelecto.

A prática dos ensinamentos morais do Cristo ainda nos parece coisa avessa ao cotidiano. Muito se fala sobre eles, adotamos, em grande parte do tempo, os critérios destes ensinamentos para julgar nossos semelhantes, mas nem de longe temos o impulso de tentar praticá-los. Um grande exemplo deste distanciamento entre a moral cristã e a vida está no fato de que personalidades que deram grandes exemplos de renúncia pessoal em prol das causas humanitárias ainda são vistos como exceções à regra geral, são como prodígios que devem sempre ser mencionados, mas que trazem, perante os olhos do senso comum, suas condutas como algo praticamente inimitável.

O próprio exemplo do Cristo é isolado e tratado como fonte de salvação pela adoração, mas quase nunca como fonte de conduta nos mais variados momentos da vida. É nesse esquecimento, nessa falta de interesse que ainda prevalece em nosso mundo de expiações que aqueles que procuram realizar sua reforma íntima, seja seguindo os ensinamentos do Cristo, seja adotando qualquer outra conduta moral baseada em princípios religiosos, encontram a caminhada solitária, quase nunca compreendida pela massa que anda sem rumo pelos caminhos da materialidade.

A todos aqueles que caminham solitariamente encontrando em poucos momentos companhia fraterna na elevação das ações, que a mensagem de Emmanuel surge como injeção de ânimo, baseada no exemplo máximo do Cristo. É no exemplo do Mestre que encontramos o tripé que traz os imperativos que os sustentam: trabalha, espera, confia!

11.4.10

Saída Moral Para a Ciência, Saída Racional Para a Fé.

A ciência procura explicar, a partir de postulados e axiomas, traduzidos em idioma matemático, toda natureza que compõe a existência, afastando-se da fé. A religião, por sua vez, afasta-se da ciência, ignorando que a ciência do homem deve caminhar junto com suas verdades divinas. A união entre ciência e fé faz parte da nova etapa da caminhada humana, etapa essa que encontrará na filosofia o arcabouço que irá ancorar o fim da separação positivista entre essas três formas de conhecimento em nome de um conhecimento universal. E qual a melhor forma de definir a busca pelas verdades científicas ou Deus como a busca pela universalidade? Cabe aos filósofos compreenderem a nova ordem das coisas.

A música da cantora evangélica Mariana Valadão, a princípio, é vista como mais uma daquelas com letra de louvor, própria das músicas de tema religioso. Agora, olhando sobre a ótica científica e buscando compreender que, desde a religião primitiva até o monoteísmo mais tardio, podemos dizer que a cosmologia do universo converge com o que se pode chamar de leis físicas ou de Deus. É a fé e a razão ou fé raciocinada batendo às portas. Atualmente os cientistas prostram-se frente suas teorias assim como os religiosos frente a Deus. A razão, limitada até então, irá unir-se ao que há de mais sagrado, mas ainda assim reconhecendo a validade de tudo aquilo que é lógico. É o fim da tensão entre homem e mundo...

Dos mais altos montes ao mais fundo mar
A criação revela Tua glória
Há perfumes e cores em todo lugar
Cada ser entoando uma música
Te adorando

Impossível descrever
Tu chamas cada estrela do céu pelo nome
Tu és tremendo Deus
Impossível compreender
Maravilhados prostramo-nos diante de Ti
Tu és tremendo Deus

Que comanda os relâmpagos e os trovões
E dá ordens a chuvas sobre as nações
Quem criou Lua e Sol e a fonte da luz
Fez os dias e as noites e a tudo conduz
Incomparável

Impossível descrever
Tu chamas cada estrela do céu pelo nome
Tu és tremendo Deus
Impossível compreender
Maravilhados prostramo-nos diante de Ti
Tu és tremendo Deus

Tu és tremendo Deus
Tu és tremendo Deus

Impossível descrever
Tu chamas cada estrela do céu pelo nome
Tu és tremendo Deus
Impossível compreender
Maravilhados prostramo-nos diante de Ti
Tu és tremendo Deus

Conseguiu ler diferente? Trata-se de uma música de tema religioso, que trás em si a proposta de adoração ao Deus que, segundo sua letra, é responsável pelos eventos naturais. Ora, a mesma devoção por Deus é a própria devoção à natureza. Agora, imaginemos que a mesma ciência que procura manipular o mundo, de forma indiscriminada, resolva adotar o princípio de adoração e investigar o mundo baseado na fé. É de esperar que a fé carregue consigo os códigos morais encontrados em qualquer religião. Assim, a mesma ética que o homem adota ao escolher seguir o caminho da fé, de acordo com o código referente à sua religião, seria a ética que a ciência, unida à fé, adotaria em relação ao mundo. Temos aqui o fim da razão instrumental, da exploração e manipulação dos recursos naturais do nosso planeta sem levar em consideração o caráter sagrado que nos guarda a própria natureza. 

Ao mesmo tempo, a fé cega, transformada em dogma irracional ou em fanatismo, não reconhece, no próprio homem, a capacidade de evoluir em ciência. A fé raciocinada é aquela que, unindo fé e ciência, trata de trazer para outros campos do conhecimento a presença de Deus, aumentando sua força e corroborando, cada vez mais, suas verdades divinas. Na verdade, a própria divindade aqui passa a se "suavizar", pois passa a ser algo absolutamente natural, e o homem, membro da natureza criada por Deus, passa a fazer parte de uma forma muito mais presente desta criação, tanto em fé (tudo aquilo que a ciência ainda não pode explicar) como em razão (a faculdade que pode nos aproximar de Deus, a exemplo da fé).

4.4.10

Nosso Lar

Trailer do filme baseado no livro Nosso Lar, de Francisco Cândido Xavier, ditado pelo Espírito André Luiz:

Ocidente, Oriente e a Nova Fé

A humanidade evoluiu apoiada em dupla base no que diz respeito a construções de valores espirituais. Por um lado, vemos um ocidente racional, apoiado nos sentidos materiais, que deu margem a uma polarização cética em termos de espiritualidade. Na outra face, encontramos a subjetividade sensível oriental, que construiu seu conhecimento espiritual sobre bases intuitivas, propiciando uma fé pouco compreendida na qual a prioridade é sentir por si mesmo. Durante milênios tais crenças nos pareceram contraditórias, de impossível reconciliação. Mas é no alvorecer deste milênio que tais correntes estabelecem seus primeiros diálogos. A humanidade começa a amadurecer espiritualmente a ponto de sentir e de compreender o que sente. A Doutrina Espírita traz valores essenciais para tal entendimento, no entanto, também não é ela a fonte sublime da verdade. Muito longe estamos de compreender verdades. A fé e o raciocínio haverão de efetivar novas aquisições em conjunto, e é a partir desta concepção e do respeito a todas as formas de crer que a humanidade será promovida à nova compreensão existencial (Pelo espírito Castro em Nas Brumas da Mente, de Rafael de Figueiredo, ditado por François Rabelais. Catanduva, SP: Instituto Beneficente Boa Nova, 2008).

3.4.10

Esperança

Saúdo-te, Esperança, tu que vens de longe, inundas com teu canto os tristes corações, tu que dás novas asas aos sonhos mais antigos, tu que nos enches a alma de brancas ilusões.

Saúdo-te, Esperança. Tu forjarás os sonhos naquelas solitárias desenganadas vidas, carentes do possível de um futuro risonho, naquelas que inda sangram as recentes feridas.

Ao teu sopro divino fugirão as dores como tímido bando de ninho despojado, e uma aurora radiante, com suas velas cores, anunciará às almas que o amor é chegado. 

Pablo Neruda