28.3.11

Até Onde Só Esporte?

Neste último domingo, após euforia da partida entre São Paulo e Corinthians, durante a qual me peguei gritando, tal como primata, vociferando, contra vizinhos corintianos, insultos em alto e bom som, após o já famigerado centésimo gol de Rogério Ceni, peguei-me, mais tarde, imerso na seguinte reflexão:

No campo das projeções do espírito, este, pode-se dizer, busca a sublimação das forças materiais. Assim, esporte é o efeito da abstração da guerra pela busca da mudança das contendas materiais em exaltação da realização de valores morais, visando transformar o efeito existente no ato do choque das diferenças humanas. À luz do espírito, falando de futebol, a guerra surge sublimada entre as quatro linhas e, fora delas, nas arquibancadas em volta, seja nos acentos dos estádios ou frente aos monitores de TV que transmitem as partidas. O futebol nos surge, assim, como palco das lutas morais, por meio do qual os homens procuram educarem-se utilizando regras estabelecidas, buscando também uma ética esportiva a ser cumprida dentro de campo e (por que não?) fora dele. Tal busca nada mais seria, a partir desta visão, como a micro expressão da busca social pela harmonia entre seus agentes.

Diante da possibilidade de tal afirmação, reflitamos acerca do primitivismo envolvido no ato de torcer pelo mal do adversário, sejamos sinceros no quão carregado de egoísmo e orgulho podem estar nossas atitudes no que se refere às discussões esportivas. Sei que muitos dirão que isso é apenas futebol, que não devemos levar a sério assunto tão banal. Tal afirmação não deixa de ser verdade, de fato acreditamos que não se deve dar tanta importância aos campeonatos e rivalidades entre times, mas esta afirmativa apenas ganha validade a partir do momento em que tais eventos não revelem, por meio da sua aparente banalidade, sentimentos tão profundamente arraigados a nós mesmos, prejudicando as relações humanas.

No campo de futebol os sentimentos menos nobres também podem encontrar escalação, a partir do momento em que estes encontram válvula de escape, aliviando o recalque social que os impede manifestação mais explícita. Assim, avaliemos nossa postura frente aos eventos esportivos e, aplicando mais especificamente à nossa cultura, principalmente ao futebol, com intuito de enxergarmos o quão moralmente deficiente apresentamo-nos em relação às tais válvulas de escape sociais, aparentemente tão banais, mas que podem revelar deficiências profundas em nossa personalidade. 

Pensei.

21.3.11

Teoria, Processo e Resultado

Parece que não estamos mais acostumados a considerar a potência que a palavra ciência possui, talvez devido ao caráter manipulador e restrito que ela adquiriu na atual sociedade. É tão interessante esta restrição que aplicamos, culturalmente, à ciência, que me peguei surpreso refletindo sobre três características fundamentais que ela possui, a saber, teoria, processo de comprovar e resultado. Talvez, sob formas diferentes (e isso é discutível), este tenha sido o modo como a ciência se manifestou ao longo da história. Talvez o que diferencie as ciências (no sentido de diferença histórica) é o fato de que estes três fatores, em diversos momentos, foram relacionados a outros setores da vida, a outras formas de conhecimento e até mesmo confundidos com estas outras formas.
Assim, pensemos na riqueza que pode, ou não, adquirir a prática de formular teoria, comprová-la e produzir resultado a partir disso. E que contradição a restrição científica de nosso tempo apresenta quando relacionada com o seu potencial recalcado, a partir do momento em que consideramos que essa ciência recalcada é tomada como a principal forma de conhecimento na sociedade contemporânea.

Opinião velha, opinião nova

Agora que estamos vivos achamos que nossa cultura é boa, mas a próxima geração terá outra opinião. Em qualquer momento histórico, o que todo mundo gosta é aceito como verdade, mas depois os gostos mudam e as verdades também. Este tipo de verdade é muito caprichosa. Podemos ver, no entanto, que, apesar de existirem diferentes opiniões, os elementos da natureza continuam existindo; o Sol e a Lua, por exemplo. Antigamente, os homens pensavam que o Sol girava em torno da Terra, depois  disseram que a Terra gira em torno do Sol. Em ambos os casos, o Sol continuava nascendo, desaparecendo, dando luz e calor. O Sol nada tinha a ver com estas teorias. Da mesma forma, existe uma realidade objetiva sobre Deus, apesar de qualquer opinião.


_______________Srila Acharyadeva

17.1.11

Nina Lemos: Público do "BBB" rejeita crise existencial de transexual

 Bom, nós não assistimos BBB, não é? Hum, tá certo... Bom, mas achei bacaninha o texto escrito pela colunista da Folha e o reproduzo aqui:


Com quem será que a Ariadna vai ficar? Ou, em outras palavras, quem vai ser o mané que vai pegar um transexual achando que ele-ela era mulher? Parecia óbvio que a audiência do "BBB" iria cair nesse truque. Afinal, essa é a primeira vez que um trans é colocado dentro da casa. Do lado de fora, a especulação era feita. "Quem vai ser o primeiro."

Pelo jeito, ninguém. Antes mesmo que aconteça algum desabafo (os participantes da casa não sabem que Ariadna é trans, como uma espécie de pegadinha), ou role algum beijo, o público já se prepara para colocar a moça para fora do programa. E no primeiro paredão. Assim, sumariamente. Tchau.

A vontade de ver alguém cair em uma pegadinha (e não é assim que a produção do programa trata a moça ao fazer com que ela própria precise contar seu "segredo"?) parece ser menos forte do que a de ver gente "bonita e animada", como o batalhão de fortões e gostosas que dominam o programa (alguém sabe diferenciar ali quem é quem?).

Ari não cai no conto dos estereótipos. Não é um "travesti encrenqueiro". Muito menos uma "bicha fofoqueira". Ela é uma moça quieta, com olhar meio triste e recatada. Talvez seja por não cair no clichê que ela esteja prestes a ser gongada pelo público, que, segundo pesquisas, já escolheu que ela deve voltar para casa sem ganhar nada. Ou seja, não quer mais vê-la. Chega.

Ariadna já soltou suas confissões no "BBB". Em tom triste, disse que tem um segredo. Para alguns, contou que foi garota de programa. Diz que tem problemas com a família. Talvez seja crise demais para os telespectadores do "Big Brother", que pelo jeito preferem ver bunda e músculos (e isso não falta) a uma crise existencial do estilo: "Conto ou não conto?" ou "Será que meus pais vão me perdoar?".

O público não quer saber dos problemas de Ariadna! Ela que se vire. E que vá chorar em casa, que é lugar quente. Enquanto isso, na tela da TV, a turma dos fortões (que já se mostra poderosa) comenta a bunda das moças na piscina. Mais interessante, não?