29.1.07

Público?

Já se perguntou o que de fato é público nesse país? Recorra ao dicionário se for o caso:

Público adj. 1. Relativo ou destinado ao povo, à coletividade, ou ao governo dum país. 2. Que é do uso de todos, ou se realiza em presença de testemunhas. • sm. 3. Conjunto de pessoas que assistem a um espetáculo, uma reunião, etc.; audiência, assistência.

Relativo ou destinado ao povo, que é do uso de todos... O transporte “público” segue a essas definições? A tarifa paga por milhares de pessoas todos os dias exclui? Pessoas muitas vezes tiram algo de suas mesas para ir e vir? SIM! Os direitos que o estado te dá apenas legitimam-se perante uma taxa. A justiça tornou-se um produto que por ser valorado materialmente exclui a quem não pode pagá-lo. Destinado ao povo? Do uso de todos? $2,10, $2,30, $1,90... O preço das passagens nada mais é que exclusão! A periferia não tem acesso aos transportes, muitos trabalhadores não recebem o transporte como benefício em seus empregos e precisam tirar do salário o ir e vir que mais parece um calvário! Não aceite isso! Nosso transporte não é público, assim como muitas outras coisas nesse país. Pagamos impostos e queremos que eles sejam utilizados para o seu verdadeiro fim que é reverter-se para a população em forma de serviços. É um direito universal... UNIVERSAL!
Transporte público? Arrumem outro nome porque esse está totalmente equivocado...Pois é... Quem faz as leis não anda de ônibus e quem anda de ônibus não conhece as leis. É assim que nos querem e se assim ficarmos, continuaremos pagando $2,10, $2,30, $1,90 para o calvário diário. Continuaremos longe de ter algo público de fato! Para todos!

Ônibus: do grego Omnibus - Omni = para todos e Bus = transporte

26.1.07

Ato do MPL em São Caetano

Sábado, dia 27/01 a partir das 13h00, ato do Movimento Passe Livre (MPL) em São Caetano. Concentração na Praça Cardeal Arco Verde. Compareça, solte o verbo no microfone do povo! Por um transporte público e de qualidade! Abaixo a catraca!


FLCA ataca Kassab

No aniversário de São Paulo, durante o show do Tom Zé, a Frente de Luta Contra o Aumento (FLCA), da qual o MPL não faz mais parte, protestou contra o aumento da passagem dos transportes gritando palavras de ordem contra o prefeito Kassab. A manifestação foi comentada por diversos jornais e mostrou que mesmo sem o MPL a Frente continua na luta. Parabéns aos manifestantes da FLCA.


Sobre a saída do MPL-SP da FLCA

Na lista de discussão do MPL-SP foi lançada uma nota esclarecendo a saída da Frente:

Nota do MPL São Paulo

O Movimento Passe Livre vem por meio desta nota anunciar sua saída daFrente de Luta Contra o Aumento (FLCA). Este espaço de articulação para a luta conjunta contra o reajuste das tarifas na cidade de São Paulo foi um passo importante para a defesa de um transporte verdadeiramente público para toda a população. No entanto, uma vez consolidado o aumento das tarifas do transporte coletivo, entendemos que é preciso direcionar nossos esforços para outras atividades, por exemplo debates e formação sobre o que seria um transporte público de verdade, até mesmo na expectativa de que em um próximo aumento mais pessoas estejam conscientes de seus direitos e da necessidade de lutar por eles. O MPL continuará lutando por um transporte público, gratuito e de qualidade para o conjunto da população e conclama a todas as organizações, grupos e movimentos sociais a estarem conjuntamente nesta luta.

São Paulo, 23 de Janeiro de 2007
Movimento Passe Livre de São Paulo


Análise pessoal

As discussões que a Frente quer levar à população restringiam-se simplesmente à luta contra o aumento das passagens, enquanto o MPL busca nesse momento um discussão mais ampla que utiliza-se do problema dos aumentos como indicadores do que na verdade é a negação de um verdadeiro transporte público. A discussão sobre transporte público e tudo o que o termo público carrega em si é muito mais ampla e deve-se, obviamente lutar e manifestar-se contra os aumentos, mas ao limitar-se unicamente a esse aspecto torna seu caráter raso e a longo prazo incapaz de fazer com que o movimento ganhe força dentro de sua proposta real. Penso que esse foi o principal motivo que levou o MPL a sair da FLCA.

18.1.07

Próximas atividades da Frente de Luta Contra o Aumento das Passagens

- Hoje, dia 18, a partir das 16 horas, colhida de assinaturas, panfletagem e contato com a população;

- Domingo, dia 21, oficina de faixas no terminal Santo Amaro. Horário a confirmar;

- Terça, dia 23, próxima reunião da Frente de Luta, local à confirmar. A AJR ofereceu o local caso não seja possível realizar a reunião no local humanista;

- Quinta, dia 25 - ANIVERSÁRIO DA CIDADE DE SÃO PAULO.
Data importante e estratégica para um ato da Frente.


Por um mundo sem catracas!

16.1.07

A Primeira Marcha de 2007

Para quem acha que a APPO foi derrotada, essa é a marcha de 14 de janeiro que afirmou a continuidade da luta em OAXACA.

13.1.07

Ato do MPL em São Paulo



O ato de 11/01 teve aproximadamente 200 pessoas. Estudantes, militantes de organizações e ativistas independentes protestaram contra o aumento dos transportes. O MPL pretende realizar atos simultâneos em várias localidades afim de ampliar o movimento.

O ato, que saiu do Teatro Municipal, seguiu pela Secretaria de Transportes, Praça da Sé, Prefeitura e Pq. Dom Pedro, teve aproximadamente 3 horas de duração. Batucadas e palavras de ordem chamaram a atenção das pessoas pelas ruas do centro de SP. A polícia, como já era de se esperar, seguiu os manifestantes por todo o trajeto do ato, procurando manter a "ordem do estado". Repressão pura!

Na próxima terça-feira às 18h00, no local do Movimento Humanista no bairro de Santa Cecília haverá uma reunião da Frente do MPL. Estão todos convidados a participar e fortalecer o movimento.

O endereço do Movimento Humanista:

Rua Albuquerque Lins, 306 (ao lado do metrô Marechal Deodoro)

Links dos vídeos e fotos do ato:

Vídeos:

http://www.youtube.com/watch?v=9_qCWLTuZ1k
http://www.youtube.com/watch?v=EYRfoGghOWs
http://www.youtube.com/watch?v=T8uwgCfW8Zk
http://www.youtube.com/watch?v=X3bb3yA33FE
http://www.youtube.com/watch?v=105tdi_SxGs
http://www.youtube.com/watch?v=yl2UAhXGhZE
http://www.youtube.com/watch?v=Z0psOvk2DlE
http://www.youtube.com/watch?v=AXX6UT7QIV0

Fotos:

http://s142.photobucket.com/albums/r98/williamdubal/

Por um mundo sem catracas!

11.1.07

Ato Contra Aumento de Passagens

"O Movimento pelo Passe-Livre é um movimento autônomo, independente e apartidário, mas não anti-partidário. Nossa disposição é de Frente Única, mas com os setores reconhecidamente dispostos à luta pelo Passe-Livre estudantil e pelas nossas perspectivas estratégicas. Os documentos assinados pelo Movimento devem conter o nome Movimento pelo Passe-Livre, evitando, assim, as disputas de projeção de partidos, entidades e organizações".

O MPL busca o transporte público fora de qualquer exploração desse setor através da iniciativa privada. É organizado por estudantes de todas as partes do país e já conseguiu fazer muito barulho, embora abafado muitas vezes pela grande mídia.

Hoje (11/01/2007) se realizará em SP um grande ato organizado pelo MPL contra o aumento das passagens. A concentração será em frente ao Teatro Municipal às 16h00 e o início da passeata será às 18h00.

Se você quer ampliar a sua voz, se você quer que a sua indignação perante o descaso dos nossos governantes para com o bem-estar público ganhe os horizontes, una-se a todos os que pensam como você e compareça ao ato. Quanto mais mãos melhor, quanto mais vozes, mais alto gritaremos.

Por um tranporte público gratuito e de qualidade! Fora às empresas privadas! Pelo passe-livre já!


Link Relacionado:

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2005/02/306116.shtml

9.1.07

Youtube: O Retorno

Parece que o YOUTUBE voltou ao normal.

Eita, que chove-não-molha...

Youtube fora do ar

Em cumprimento ao ofício nº 07/2007 processo 583.00.2006.204563-4, assinado pelo merítissimo Juiz de Direito Dr. Lincon Antônio Andrade Moura, por decisão da Quarta Câmara do Tribunal de Justiça do Estado de Sâo Paulo, o site YOUTUBE teve seu acesso proibido a todos os provedores de acesso no Brasil.
A decisão tem período indeterminado. Depende da retirada do site de um certo vídeo de uma tal modelo famosa em um momento de... Digamos... Intimidade.
Infelizmente os vídeos postados por aqui não poderão ser vistos enquanto o acesso ao YOUTUBE não for liberado, portanto perdemos uma ótima ferramenta de divulgação da situação em OAXACA.

Quem diria que uma putaria iria atrapalhar tudo... Com o perdão da palavra...

4.1.07

Somos todos OAXACA!

Desde 22 de maio, após manifestações de professores por aumentos salariais que culminaram em uma marcha de 70 mil pessoas, o estado de OAXACA no México vive dias de uma verdadeira situação revolucionária. Movimentos indígenas e outros movimentos populares a partir desse momento começaram a juntar suas demandas e ampliar o movimento que seguiu em meio à opressão do governador Ulisses Ruiz Ortiz e suas forças federais. Rádios, o palácio do governo e a assembléia administrativa de OAXACA foram tomados pelo povo e colocados à serviço da luta. Estava formada a comuna de OAXACA. A Assembléia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO), que é dirigida pela Coordenação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) e conta com mais de 300 organizações populares e seguem definindo através de discussões abertas a todos seus participantes os próximos passos do levante que cada vez mais pressiona o governador Ulisses Ruiz Ortiz para que haja autonomia de um governo popular e retirada dos militares da região. Durante o confronto já ocorreram diversas mortes como a do ativista Bradley Roland Will que foi atacado durante a filmagem de um confronto entre as forças do estado e o povo de OAXACA. A insurreição popular em OAXACA apresenta-se como uma alternativa ao capitalismo e ao imperialismo das grandes potências econômicas mundiais. O México vem desde o início dos anos 90 sofrendo com as imposições econômicas dos países ricos e curvando-se aos ditames do capital internacional das grandes corporações financeiras. O povo mexicano já cansou dessa situação e a manifestação que iniciou-se como uma demanda salarial dos professores apareceu a partir daí como apenas a ponta do iceberg em um país que discute entre muitos problemas a legitimidade das suas recentes eleições presidenciais em que o candidato “eleito” foi Felipe Calderón do Partido da Ação Nacional (PAN).


Manifestação em 26/11/2006

E no Brasil?

No Brasil manifestações como a de 22 de dezembro que atendeu ao chamado feito pelo EZLN, Exército Zapatista de Libertação Nacional e foi organizado pela Frente de Apoio à Oaxaca, procuram demonstrar apoio e solidariedade à luta do povo mexicano em meio a uma situação totalmente ameaçadora às forças do estado burguês no México e América Latina. A grande mídia nada diz a respeito da situação em OAXACA. Nada se vê nos grandes jornais ou emissoras de televisão. Nem Folha de São Paulo, nem Estadão, nem Globo ou SBT. Para a mídia burguesa brasileira e internacional como a CNN em espanhol nada acontece no México. A Televisa, uma das maiores emissoras de TV do México, não tem mais como esconder a situação e divulga os acontecimentos no México de forma manipulada, procurando colocar a população do país situada em outros estados contra o levante popular de OAXACA. Os meios de apoio e divulgação à essa luta tem se dado principalmente através da Internet em sites feitos por ativistas e vídeos divulgados através do YOUTUBE, onde se pode acompanhar as novidades minuto a minuto e ver cenas de manifestações e confrontos entre as forças opressoras federais e o povo mexicano.

Exemplo

A luta dos nossos irmãos latinos deve ser um exemplo de resistência e repúdio frente ao flagelo capitalista, frente à opressão do estado burguês que de longe conhece a democracia e o respeito ao ser humano. A luta do povo mexicano que não é armada, mas apenas resiste às armas do inimigo violento, jamais deve perder o apoio e respeito daqueles que sonham com uma América Latina livre e da mesma forma com um mundo livre da exploração de uma minoria que zela unicamente por interesses próprios em detrimento dos interesses gerais de milhões de pessoas, de trabalhadores, desempregados e famintos que nada mais querem que a sua vida de volta. Se é que um dia eles a tiveram...

FORÇA OAXACA! POR UMA AMÉRICA LATINA LIVRE E SOBERANA!


Links relacionados:

http://www.youtube.com/watch?v=6mgnPedeCZs

http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/11/364282.shtml

http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=21437626

http://www.ler-qi.org/oaxaca

http://oaxacalibre.net/oaxlibre/index.php

http://www.asambleapopulardeoaxaca.com/

http://oaxacalibre.net/boletin/diciembre/30122006/30122006.html

http://www.pstu.org.br/internacional_materia.asp?id=5987&ida=0

3.1.07

Cavando

O que as pessoas pensam? Perguntava-se... Qual o motivo de fazerem o que fazem? Ora, por que diabos tentar entender essas coisas era a maior pergunta. Teria alguma utilidade?
Não havia mais o que fazer aquele dia e o que mais procurava entender era por que diabos as coisas andavam naquele pé. Claro que se fez o que fez era óbvio que as coisas estariam dessa forma, mas sabemos que um fato nunca é auto-sustentável. A não ser que se descubra a raiz de tudo.
O que as pessoas pensam de mim? Era a próxima pergunta. Talvez ao descobrir isso descobriria a chave de todo o resto. A raiz tão procurada. Então era necessário cavar. Cavar o que? Cavar a mim mesmo ou aos outros? Cavar o nada talvez... Mas já estava cansado de cavar o nada e num grito interno procurava cavar alguma verdade enterrada onde ele ainda não sabia.
Estaria nele a raiz? Sua individualidade se realizaria de uma forma que transformasse o que os outros pensam em relação a ele? Talvez... O simples fato de ser o que é para os outros faria com que pensassem algo sobre ele. Isso de certa forma cheirava a convencimento, pretensão... As pessoas não gostavam disso. A possibilidade de controlar o mundo através de sua própria vontade, instabilidade, ignorância ou loucura descarrilada ou controlada parecia por demais um convencimento. Era isso... Mas convencer a quem? Aos outros ou a ele mesmo? A resposta seguinte o guiaria para a superação do primeiro problema.
Passava a vida a tentar agradar e vivia com a cabeça em outro plano. Entendia as coisas por cima, mas não era convencimento ainda. Era só distração. Distração essa que durante muito tempo o atrapalhou e só a partir de um certo momento da vida passou a guiá-lo. Lá de cima ele via o mundo e acenava para que esse mundo sorrisse para ele. Lá do alto não sabia como gritar e começou a despertar em si o medo de acenar e acenar até debruçar-se sobre suas nuvens concretas de sonhos e cair... Como seria a queda? Não sabia, mas gostaria muito de saber, embora não soubesse como pular.
Convencer lá de cima... Tarefa difícil. Acho que não é convencimento. Acho que é pedido de socorro mesmo. Como alguém encontra a outro aqui em cima? Como alguém conhece o medo de quem não está presente? A cada passo passou a perceber que os outros pensavam dele aquilo que ele mesmo queria, mas algo ainda havia de errado. O convencimento ainda o incomodava. Convencer a quem está longe? Convencer de que aqui é melhor ou convencê-los a me deixarem aqui e pensarem bem de mim? Convencimento de si mesmo... Sim, talvez estivesse tentando se convencer. Convencido... Convencido! Sim, ele era mesmo, mas isso não o salvava. A prisão não estava nele. A prisão estava nos outros. A pergunta está feita e escolhida. Ao menos o convencimento o ajudava em algo nesse momento.
O que as pessoas pensam? Se descobrisse, talvez chegasse à raiz que agora era descoberta apenas em superficialidade. A raiz está nos outros, mas em que lugar deles? O que os outros pensavam dele não estava totalmente preso ao seu conhecimento, mas talvez não devesse estar, caso contrário teria diferença entre o que pensa ele e o que os outros pensam?
Mas não importa só o que os outros pensam dele, importa também o que pensam delas mesmas e do mundo. Então o que as pessoas pensam sobre elas também importa? Bom, agora o que penso de mim também importa, então... Perdeu-se a raiz novamente.
Há algo que se encontra em todas essas questões: O pensar! Sim, o pensar, portanto não importa o que se pensa de si mesmo, dos outros ou das coisas, mas sim o que se pensa do próprio pensar.
A raiz era essa e estava o tempo todo na sua frente. O pensar o constituía em uma troca intensa e extasiante. A existência mútua que o pensar chamaria através das palavras de coexistência. O pensar que faz com que sejamos o que quisermos e o que não quisermos. O pensar que em um instante torna-nos reis e em outros torna-nos plebeus. O pensar.
No fim da tarde não mais pensou. Agora que achou a raiz talvez deva esquecê-la por algum instante. Convencimento... Sim, me convenço pelo meu próprio pensamento e devo salvar a mim e a ele para que obrigatoriamente ambos possam salvar-se. Não pensou naquele instante. Talvez para poder sair fora de todo esse pensar e analisá-lo de longe e fora dele ao mesmo tempo, não deixando de fazer parte dele e o pensar fazer parte de si mesmo.
Analisou-o como quem analisa um inseto frente à lente ampliadora. Não o deixaria voar. Não o deixaria enterrar-se novamente. O pensar é tão magnífico, o pensar é tão incrível e seguro de si que permite até mesmo que possamos sair dele. O pensamento sabe que não há salvação individual e sabe que não há como sair, mas há como voltar.
Não importa mais a questão sobre quem pensa o que sobre quem agora. Só importa o pensamento. Só importa a compreensão do que é a própria compreensão muda, mas de grito imperecível e vibrante.
Não queria mais ser nada. Só queria pensar. Não mais estava no alto. O convencimento dele era seu próprio pensar. Agora com os pés no chão acenava para cima e compreendia que nada era ruim. Apenas o fato de não saber o que havia acabado de se convencer ser a raiz da sua questão, mas não se convenceu de que havia encontrado a chave e então mais uma vez parou e pensou. Pensar não era a raiz... De início decepcionou-se, mas ao olhar para trás percebeu o caminho que havia seguido e alegrou-se.
Convenceu-se que deveria seguir e descobrir afinal de contas em que lugar o pensamento poderá encontrar a tal chave. Olhou para frente e não viu nada. A cegueira mostrou algo nunca antes visto, mas que ainda não se converteria em palavras. Não importa, pois lembrava que lá de cima não havia o que dizer. Mais uma vez quis descer e sabia como encontrar a escada, não mais pensaria em pular. A escada estava em algum lugar... Assim seguiria. Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão, pois nem toda raiz é formada apenas de chão e nem toda nuvem forrada de convencimento é etérea como a palavra não dita que espera ansiosamente sua forma que um dia será pensada e isso por si daria total consistência ao fato que inicialmente aparecia como insustentável por si. Autonomia essa dada pela chave de toda a questão, embora ainda desconhecida.

O amor natural

Não era desses que se destacava ou pelo menos pensava assim. Não gostava de ter que buscar as coisas. Ora, se tudo vinha de uma natureza determinada, por que as coisas deveriam ser dessa forma? Ao mesmo tempo tinha o poder de enxergar um pouco melhor o que acontecia com as outras pessoas do que consigo mesmo. Tinha raiva de quem demonstrasse muito amor por ele. Não sabia porquê, mas definitivamente não gostava de ser o melhor em nada. O mundo já estava cheio disso.
Amava uma pessoa, mas sabia que a chave de tudo estava em compreender a relação dele com esse amor e sua vida. O amor... Ora, o amor... Sentimento que esconde perigos, mas na verdade o que gera os perigos é a sua não compreensão. Amar é necessário, mas amar de forma igual a todas as criaturas desse mundo. Mas e a reprodução humana? De fato existia esse porém.
Senso comum! Senso comum! O problema não era o senso comum, mas o que havia sido tomado como senso comum. Parece que o mundo inteiro cria uma “natureza paralela” ao afirmar suas inverdades. Parece que o tempo todo você sofre expiação por negar a “natureza paralela” e ao mesmo tempo paga expiação por não exercer direito a sua própria natureza divina. Caridade... Ele deveria ser caridoso. Talvez o livre arbítrio da humanidade a permita ser essa criadora de naturezas artificiais. Afinal de contas o artificial domina nossos dias, assim como a matéria é uma cópia, uma artificialidade de uma essência divina, de um paralelo que existe, de uma idéia constante de tudo.
Mas e a caridade? O que havia de mal na revolução? Matar um bocado de pessoas que não concordem em seguir a natureza. Matar todas e levantar uma bandeira! Burgueses, seus dias estão contados. Pessoas com ódio, mais do que vocês conseguem conter levantar-se-ão contra vocês! E depois? Vitória? E o ódio? Sumiu? Mortos por todo o mundo e bandeiras espalhadas. O terror foi espalhado. Uma violência não muda opiniões. Para quem não concorda com a revolução só resta o silêncio e o medo. Para quem sobreviveu sem concordar com isso só resta o sonhar com um mundo melhor, mas esse mundo será melhor? Uma sociedade crescida às custas de uma reação de ódio em cadeia poderia construir algo que seguisse finalmente a natureza? A natureza divina possui essa dialética? A verdade não se impõe, logo não se nega. A natureza é a verdade. Por que teria que negar-se? Sua afirmação seria a melhor forma de vive-la...
Estava naquela noite pensando em sua vida e atitudes. Escrevia como uma última válvula de escape... Precisava escrever! Ler já não lhe era suficiente. Na verdade, será que ler era mesmo a saída? Será que pensar e escrever não seriam melhores? Sua cabeça estava a ponto de estourar se não fizesse algo. Ouvia AIR, música eletrônica. Eletrônica... Esperava por ela em seu MSN. MSN... Esperava para garimpar como foi o dia da pessoa que ele ainda amava, esperava para poder saber o que ocorria. Perde-la seria como perder a pessoa com quem mais possuía intimidade no mundo, mesmo após o fim de tudo. Mesmo após o fim daquela história toda. Nesse dia havia desistido de sair para ver os amigos. E o que adiantava ficar com drogados? E o que adiantava beber e sorrir... Sorrir para o nada! Esquecer a realidade que não é real... Esquecer a natureza artificial... E o que importava conhecer alguém que pudesse beijar e fazer sexo? Para que essa busca? A natureza aproxima os semelhantes assim como as fatalidades não existem. Assim como o que aconteceu hoje, foi culpa de quem passou por aquilo. A natureza é uma ordem e sua infração gera situações tristes. Tristeza... Não é da natureza... Definitivamente a natureza não é sofrer, mas sua infração gera o sofrer. Algo de fato não natural. Não deveria procurar afinar-se com quem vai contra a natureza, não deveria deixar sua amizade com aquela que um dia havia sido “sua” para ficar com outra pessoa. Com a natureza isso já não tinha nada a ver, mas com sua vontade ainda tinha e muito.
Esquece! Esquece! Ela não te quer mais! O carinho ainda resta, mas aquele “amor”... Peraí... O amor! O amor é da natureza! O amor não te faz sofrer! Isso que ele sentia... De fato não se constituía em amor, mas numa dessas mutações da “natureza artificial”. Sentia-se melhor agora, talvez...
Era só pensar na natureza. Era só entender o que é de fato natural e o que não é! O que de fato seguia o que deveria ser seguido e o que não deveria. Não existe filósofo com suas verdades muitas bem pensadas que recriaria a natureza de uma forma irreversível! Talvez essa seja a aspiração de alguns. Criar alguma natureza que substituísse a natureza divina seria a vitória da dialética sobre a própria verdade. A dialética da antinatureza! Sempre seria assim... A antinatureza seria uma constante na existência. Tolice! A verdade é imutável, pois se não fosse, a própria não existiria.
Agora conversava no MSN com uma nova amiga. E para que se atrair por ela? E pra que fazer alguém achar ruim isso? Egoísmo! Ela já tinha alguém... Alguém com egocentrismo e vaidade o suficiente para se aborrecer com o fato de roubá-la dele. Para afirmar a natureza deve-se... Afirmá-la! Nada mais... Não produzir o sofrimento. Lembra? O sofrimento não é da natureza.
Seja agradável e não desperte desconfiança. Desconfiança! O mal dos dias atuais! Ninguém confia em ninguém e nem mesmo aqueles que querem mudar isso e se reúnem para fazê-lo! O amor é necessário aqui, viu? Não queria ser agradável o tempo todo, mas não podia pensar que ir contra a sua vontade é falso, pois nesse momento sua vontade de não ser agradável iria contra a natureza, logo, era algo que na essência não era de fato natural. Fácil...
Precisava exercer a natureza! O processo que o tirou dela era de afirmação de uma antinatureza ou de uma natureza artificial. A coisa toda começou na infância e piorou na adolescência. Os adolescentes são rebeldes, pois seu próprio inconsciente grita desesperadamente pela natureza! Ele foge como louco da antinatureza! É inútil... Algo sempre é levado mesmo por aqueles que a negam após a vida adulta e muitos dos que a negam criam problemas horríveis de personalidade. Cruel! A antinatureza é cruel! Da mesma forma seria necessário afirmar a natureza. Como se nascesse novamente e voltasse a se desenvolver. Seria necessário forçar-se em todos os momentos. Seria preciso afirmar tudo o que antes foi negado. A negação dos sentimentos de ódio, rancor, egoísmo, ganância e tantos outros.
Não era desses que se destacava mesmo, mas deveria ser assim mesmo. Em todos os momentos em que tentou ser de outra forma se deu mal. Não se tratava de omitir-se, mas de ser aquilo que realmente era. E o que ele era? Apenas sabia aquilo que havia feito, aquilo que havia construído para si e aquilo que havia destruído. Era o mais perfeito espelho do seu ser. A imagem de fato não dizia o ser, pois do contrário não seria a imagem. Seria o próprio ser, mas as imagens são muito úteis. São úteis pra quem não sabe ao certo quem é ou o porquê de ter construído ou destruído algo. E por que o mundo não era assim? Se essa matéria densa e mutável só nos serve para aprender, logo, o tempo material era a imagem de nós mesmos... Era a escola da alma, o espelho de nosso ser. Era a natureza ali, apenas sendo, apenas permanecendo na sua certeza inerte.
E por que a vida era tão mutável? Não percebíamos? Não respirávamos a essência vital? Que mostro nos ocultava o ser das coisas? Que túnel nos levaria ao que é? Talvez ele levasse de volta o passado, mas o passado é imagem... Não queria mais a imagem. Não queria mais ter que perdê-la e nem passar pelo que passou. Queria aprender a amar, mas ainda não sabia como. Como seria melhor amar? O que era de fato amar? Estaria a resposta ou a entrada para o túnel no meio daquilo que ele destruiu? Estaria a natureza ali? Não sabia...
Olhe para dentro de si, observe o tempo. Já tem o passado agora a resposta para o que tanto procura. O que fizeste estar aqui e agora parado frente ao seu espelho vital? O que criaste para que as ações lhe dessem rugas em sua face mutável e sonolenta? Acorda para o tempo porque é a ele que deves apegar-se nesse momento. Vivemos em máscaras, vivemos em situações onde o palco nos ilumina e apenas nós... Apenas nós protagonizamos a nossa existência em meio a um vai e vem de convidados. O tempo é espelho, mas também é busca... É prisão, mas também é a saída. De tudo na matéria o que mais nega a eternidade, mas o que mais nos projeta para ela é o próprio relógio!
Naquela noite na mais quis ligar seu computador, não mais quis odiar... Naquela noite percebeu que o amor era aquilo que não havia ainda sido, mas que ainda poderia ser muitas outras coisas além do que foi. Não havia resposta pronta, mas o túnel existia e nos destroços da vida procurava por si mesmo e de fato sabia que no mínimo ainda era movimento e se alguém ousasse pará-lo, olharia serenamente para esse alguém e o amaria apenas. Era o sinal de que a natureza de fato existia em algum lugar dentro dele.