22.10.07

Tropa de Elite

Capitão Nascimento: herói ou fascista?
Só se fala nisso... Sinto-me na obrigação de falar também, afinal também estou sujeito ao que a Indústria Cultural fabrica. Então vamos lá...
Tropa de elite, fenômeno cultural brasileiro, é o filme mais comentado no cinema nacional, pois trata de um dos problemas mais presentes em nossa sociedade: a relação entre segurança pública, sociedade e os traficantes.
Já li muitas opiniões a respeito, desde aquela que acha o filme fascista por defender a violência do aparato público de segurança, incluindo a tortura de civis para se obter informações, até aquelas que acham que o filme coloca o marginal em seu lugar e resgata a figura do policial como o “mocinho” da história. Esse status teria se perdido em nossa cultura com o surgimento de filmes como Carandiru e Cidade de Deus, que exaltam a figura do marginal humano e sofrido, vítima de um sistema social injusto.
Sim, o filme é tudo isso. Não há como isolar. A mídia (de esquerda ou de direita) vai fazê-lo de acordo com seus interesses, sendo esse um ponto a ser cuidado. Tentei de todas as formas captar a linha seguida por ele. Em certos momentos concordei com os que o intitulam fascista, em outros com aqueles que acharam bom um filme finalmente mostrar o lado da polícia. Tudo é importante aqui e penso que o filme atirou para todos os lados, mas talvez tenha encontrado uma idéia principal nesse emaranhado.
De fato achei bom o filme mostrar o lado da polícia. O que me deixou mais provocado foi o fato de ter me identificado (muito) com a classe média colocada na trama. Em um seminário sobre Foucault, surge a discussão sobre o fato da polícia não apenas oprimir os pobres, mas também tratar a classe média com rispidez extrema. Isso é verdade, quem não sabe? O balde de água fria vem em seguida, quando o aspirante André Matias (personagem em constante dualidade entre seu meio social e sua profissão) afirma que não é a toa que a polícia faz isso, uma vez que é a própria classe média reclamona que financia o tráfico e em momento algum assume sua participação nisso. Esse argumento não traz novidade alguma, mas reconheço que nas minhas rodas universitárias em momento algum levamos esse balde de água fria. O envolvimento com os personagens policiais me fez esquecer a qual lado da guerra eu pertencia. Fui trazido de volta à minha posição nesse momento.
Nem mesmo a relação das ONGs com o tráfico foi polpada. Achei uma das melhores coisas do filme. Para atuar dentro da favela, os jovens de classe média faziam um acordo com os donos do morro. Sem PMs por aqui, pois eles são inimigos. Os mesmos jovens consumiam e vendiam as drogas na faculdade. Terminaram por fazer uma passeata pela paz, protestando contra a morte de dois amigos mortos pelos traficantes. Hipocrisia... Será a forma encontrada pelo filme de ganhar a opinião da classe média? As questões morais doem na alma. E em mim não foi diferente. “Quantas crianças precisam ser mortas para que um playboy aperte um baseado?” Essa doeu!
A classe média toma de um lado, a polícia “convencional” de outro. É evidente a corrupção na PM e o BOPE aparece como o remendo no sistema de segurança. Uma tentativa de remediar uma situação que fugiu do controle do Estado. O filme é bom em espetadas rápidas, como a cena em que um membro da PM aparece em reunião com um político, negociando o apoio à sua candidatura. Sobram farpas para todos. De jogo do bicho a prostíbulos, de proteção policial remunerada por estabelecimentos comerciais a propinas do tráfico. A polícia sobrevive como pode e o BOPE aparece como uma contradição cruel. Um braço do sistema que prega a negação desse jeitinho encontrado pela PM para sobreviver dentro do sistema. Como a polícia sobreviveria sem esse jeitinho, em meio a tanto descaso do Estado? O filme coloca o problema, mas não responde.
E o traficante? O principal da trama, personagem Baiano, em determinado momento é comentado pelo protagonista, capitão Roberto Nascimento: “sei como a história dele termina, mas não sei como começa... Deve ter tido uma infância fodida”. A espetada aqui foi para aqueles que afirmam que bandido é ruim. Nem mesmo o capitão do BOPE nega que a condição pobre do traficante o tenha levado a tal situação. Mais uma sutileza do filme ignorada por muitos.
No meio de tantas referências que nos levam a juízos diferentes e opostos, como descobrir a linha seguida pelo filme? Estado em descaso com a segurança, classe média irresponsável, traficantes implacáveis, uma polícia teoricamente ética no meio disso tudo. A guerra continua.
Penso que o filme no meio disso tudo ressalta o papel do Estado. O BOPE representa o Estado dentro da trama. O Estado que reconhece seus defeitos, mas procura, dentro de suas possibilidades, corrigí-los. Acima de tudo, temos dentro da trama a separação do indivíduo subjetivo e o aparato público. Tropa de Elite coloca aos poucos e em pequenas doses todo conteúdo psicológico das partes envolvidas. Do playboy com “consciência social” ao polícial ético com síndrome do pânico. O substrato que os envolve é um só e parece a todo momento tentar encontrar um ponto de equilíbrio. O policial deve fazer cumprir a lei, o contrato social deve ser garantido. Doa a quem doer...
Tropa de Elite coloca o Estado como o único capaz de conseguir tal feito. Nem as organizações não governamentais, nem a parcela “esclarecida” da sociedade podem substituí-lo. O Estado aqui aparece acima de classes sociais, neutro e jogando na cara de todos as questões morais que envolvem a sociedade.
Em tempos de liberalismo desenfreado, em meio a privatizações e PPPs, o filme aparece como um tapa na cara dos devotos do capital estrangeiro. Não é a toa que liberais como Diogo Mainardi caíram de pau no filme. Essa turma liberal não separou bandido e traficante e os colocou como bandidos da mesma grandeza, farinha do mesmo saco. O Estado mínimo na análise dessa turma é exaltado nas entrelhinhas de seus textos, pois trazem a idéia de que, em momento algum o Estado falido poderia produzir algo de bom dentro dessa guerra urbana. Não discordo disso, mas não com a intenção desse pessoal. Talvez nem mesmo Mainardi tenha feito essa análise, mas a questão aqui está implícita e pode facilmente ser interiorizada. Uma ideologia não precisa ser necessariamente positiva, mas também pode esconder-se nas entrelhinhas da arte. Nesse ponto Tropa de Elite se saiu muito bem.
Tropa de Elite culpa os traficantes, mas não perdoa mesmo é a classe média. O soco que o playboy leva ao final da participação de sua turma na trama é a mensagem final do filme ao seu grande público. O bandido real aqui é essa parcela da sociedade que se organiza em alguns momentos para mudar a sociedade, mas trata de fazer o estrago ao mesmo tempo. O Estado condena os que quebram o contrato social e, em Tropa de Elite, a classe média aparece como a grande vilã na quebra desse contrato. O traficante ainda tem motivos para tornar-se o que é, mas o playboy financiado pelos pais até formar-se na faculdade não tem. E não há ONG que o absolva nesse aspecto. Pelo contrário, isso apenas atrapalha.
Tropa de Elite não trata da raiz do problema. Não aborda como as drogas chegam à favela, não mostra como o Estado possui pessoas de influência que articulam com os chefões milionários do “movimento”. O filme nesse sentido é raso, pois se restringe à guerra entre polícia e marginais, juntamente com as cagadas da classe média. Coloco aqui uma outra opinião que encontrei: a de que “existe uma clara coincidência entre a estréia de Tropa de Elite e o lançamento da nova política de segurança pública adotada pelos governos federal e estaduais. O PAC da Segurança é baseado no aumento da repressão policial, na criminalização da pobreza e dos movimentos sociais” (vide esquerda revolucionária).

Fecho aqui minha tese: Tropa de Elite defende um Estado autoritário. Coloca o mesmo como débil e frágil, mas esconde sua podridão mais fundamental. O Estado não controla suas fronteiras, não acaba com as plantações, nem pune severamente os “burgueses do tráfico”. Ao mesmo tempo, a violência por parte da polícia não vai contra a exclusão e o desemprego. Nesse aspecto o BOPE cai no mesmo erro das ONGs e se esconde no fantasma do reformismo cego. A guerra entre os capitães Roberto Nascimento e Baianos não terá fim. A classe média consumista e frustrada não deixará de financiar a diversão sintética em meio ao mundo do fetichista, vazio e deprimente. O Estado colocado em Tropa de Elite é uma idealização ingênua e reflete fielmente a visão de muitos policiais desde sua parcela ética até os corrompidos.
O filme é bom ao colocar de uma forma muito veraz esse aspecto da guerra urbana. De fato quebra a tradição de apenas mostrar o lado do favelado e traz para destaque o trabalhador da segurança que, da mesma forma, é explorado por um sistema cruel. O perigo aqui está no fato de que muitos brasileiros vão tratar a filme como uma abordagem profunda acerca do problema de segurança pública em nosso país. A classe média com “consciência social”, ao ser criminalizada, encerra qualquer tentativa de aprofundamento por não ter moral nenhuma para opinar perante a opinião pública. Pertenço a essa classe, utilizo-me de muitos argumentos encontrados nela e estou aqui tentando, talvez inutilmente, dizer que o filme em certo aspecto é incompleto. O diretor não tinha a obrigação dessa completude; isso não é problema, mas é perigoso. Principalmente por ter se tornado um sucesso de público, ou como disse um jornal gringo, “um fenômeno cultural”.
Por enquanto permaneço com o rosto doendo. Doendo pelo soco que levei do aspirante André Matias e mais ainda por ter sido um possível responsável pela morte de seu amigo de infância, aspirante Neto Gouveia. Permaneço timidamente com minha “consciência social” escrevendo em meu blog lido por meia dúzia de universitários maconheiros. Tive minha participação no filme e reconheço isso, mas em momento algum sucumbirei ao chamado, pois da mesma forma sou vítima de uma merda estrutural do sistema financeiro e político. E já que o Estado se mostrou como o único capaz de controlar a situação, peço que a resolva. A máscara nesse momento pode cair, e finalmente a trama do ano aparecerá apenas como a ponta do iceberg de um problema complexo e imerso numa microfísica onde o poder não permanece isolado em um único ponto. Foucault não estava tão errado e não é a toa que aparece no filme, merecendo inclusive, o Oscar de melhor coadjuvante.

17.10.07

Primeiro Encontro Paulista Pela Democratização da Comunicação e da Cultura

Comunicadores(as) populares, jornalistas profissionais, sindicalistas, assessores(as) de organizações sociais, produtores culturais, artistas, estudantes, militantes dos movimentos sociais, do movimento hip hop, da mídia alternativa, dos movimentos pelo software livre, todos(as) os(as) que se preocupam com os rumos da democracia em São Paulo e no país.

Este é um convite. Um chamado. Uma convocatória que anuncia a realização do I Encontro Paulista pela Democratização da Comunicação e da Cultura, nos dias 19, 20 e 21 de outubro de 2007, na Fapcom - Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação.

É uma oportunidade de debater ações que visem à ampliação radical do acesso à cultura, às tecnologias de informação, aos meios de produção. Tempo de pensar na educação para a comunicação, na comunicação para a educação. Momento de levantar a voz e reivindicar políticas públicas democráticas, que valorizem a comunicação comunitária, livre e popular. Leis que garantam a pluralidade e a diversidade nos grandes veículos de informação. Hora de fazer o coro por transparência, critérios e regulamentação para as outorgas de rádio e TV. De entender o futuro próximo da convergência, da digitalização. De lutar pela inclusão.

Local do encontro: Fapcom - Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação. Rua Major Maragliano, 191 - Cep. 04017-030 (próxima à Rua Domingos de Morais) - Vila Mariana, entre as Estações do Metro Vila Mariana e Ana Rosa. Inscrições: pelo email: secretaria@sp.comunicacaoecultura.org.br ou pelo telefone: (11) 3877-0824, falar com Mariana.

FONTE: http://sp.comunicacaoecultura.org.br/

15.10.07

Viagens filosóficas à parte, eu quero perguntar umas coisa. Uma única coisa...

O excelentíssimo presidente da república renovou seu mandato ano passado, ou seja, ainda não cumpriu nem metade de seu segundo mandato.

Certo!

Por que diabos a imprensa agora só fala sobre o que pode acontecer na sucessão presidencial em 2009? Temos tantas coisas a dizer, tantos "fatos, fatos e mais fatos", parafraseando Wittgenstein. É realmente curioso, quase inacreditável o fato de que as pessoas não questionem frente aos telejornais e jornais impressos ao longo do Brasil, o fato desses veículos abordarem com destaque exagerado um acontecimento ainda tão distante, frente à todos os demais acontecimentos de nosso país.

Em muitos momentos a mídia cria o fictício sobre o fatual, o dito pelo não dito e transforma o fato fora de hora em fato atemporal. O espectador, sem ação, viaja na velocidade de um bit pelo tempo falso, moldado pela comunicação de massa.

Distrair-nos! Sim... Essa é a meta! A verdadeira política nem de perto passa pelos olhos das massas, a cor desse mundo desconhecido não demonstra seu real comprimento de ondas a quem a observa.

O tempo existe de muitas formas, uma delas é na farsa daquela que manipula tudo. Do material, ao espiritual...

14.10.07

Sobre o que sou, mas já não mais...

Odeio escrever sobre mim, odeio escrever sobre o que sinto sobre mim, odeio colocar-me no centro do texto. Ora, descentralizo o texto para me colocar nele. Coloco o que sinto na borda da página e distorço a linha que leva ao rodapé. Assim me encontro e desencontro, assim permaneço distante e ao mesmo tempo beirando a verossimilhança de meu ser oculto.

Sou o que sou agora, apenas isso, pois o que sou não é mais estático, nunca foi, sei bem agora... Lutei algum tempo contra isso. Admiti a fixidez, a essência imutável. Não é mais assim. O que mais notava em mim seria o que mais mudaria minha forma de enxergar o ser. Enxerguei, percebi – ou me deixei perceber – para mudar, enfim sem sentir-me mal por isso.

Sou o que quero ser nesse momento, sou o que meu estado de consciência definir. Sou esse de agora, sou aquele que foge e busca a filosofia, sou aquele que se aliena e esclarece, sou egoísta e fraterno, diabólico e humano. A missa de minha vida pode ser negra ou pode ser sagrada.

Deus, diabo, negro, branco, sabedoria, ignorância, carne, espírito... Sou a união ambígua e apenas posso buscar a verdade em parte, mas o que não é também influencia meu ser material da mesma forma que aquilo que minha intuição pode captar...

Ao adentrar o movimento percebi o que sempre vi. A verdade perceptível nunca pode ser oculta. Mas o que é o oculto? O que é o imperceptível? As coisas mudam, as coisas se movem, as coisas são... Sendo assim, apenas são. E o que antes era obscuro, apresenta-se à minha consciência de forma clara, cristalina... O que coloco agora no mundo que não colocava antes?

Quanto mais meu intelecto se une à minha intuição, mais compreendo as coisas. Tirei isso da onde? Não sei... Prova da minha incapacidade, não permanente... Nunca permanente!

Odeio falar sobre mim, odeio escrever sobre mim, escrever sobre mim é escrever uma mentira, pois já não sou o mesmo do começo do texto. Melhor escrever sobre o movimento. Este sim, me acompanhou ao longo das linhas e me ajudou descentralizar o texto, colocar que sinto na borda da página e distorcer linha que leva ao rodapé. Não há fixidez, portanto, talvez haja retorno para algo que já mudou, pois o em si já não é mais, mas com certeza agora é...

1.10.07

Humor ou terror?

1)
"Acordo toda manhã, pulo no chuveiro, olho para o símbolo e ele me sacode para o dia. É para me lembrar a cada dia de como tenho de agir, isto é, "Just do it"". Empresário da internet de 24 anos, Carmine Colletion, sobre sua decisão de tatuar a logo da Nike no seu umbigo, dezembro de 1997.

2)


Fonte (frase e tira): http://www.malvados.com.br/