29.11.07

Martin Heidegger: Kant e o Problema da Metafísica

Heidegger procura uma continuidade a partir da filosofia kantiana, de modo que, para ele, não importa atentar-se essencialmente ao que disse Kant, mas em perguntar o que se realiza a partir de sua filosofia, ou seja, o que se realiza a partir de seus fundamentos, constituindo, assim, uma investigação acerca de seus resultados.

Heidegger aponta que, ao revelar a subjetividade do sujeito, Kant dá um passo atrás no fundamento estabelecido por ele anteriormente, sendo este o novo elemento que surge no processo de fundamentação de sua filosofia.

Os conceitos de razão pura encontrados juntamente com os de uma razão sensível, formando uma unidade, oferecem um problema para se dizer que a subjetividade humana passará a se colocar como anterior aos fundamentos kantianos. Essa subjetividade refere-se ao homem, mas isso remete a uma antropologia que é empírica - não pura - e também abre uma nova questão: como é possível que, numa fundamentação da metafísica, possa-se e deva-se perguntar pelo homem?

As três perguntas originais: "que posso saber?", "Que devo fazer?", "O que me é permitido esperar?" estão colocadas no começo da fundamentação kantiana, mas, ao colocar um fundamento novo ao original, devo estabelecer uma nova pergunta. Chegar a essa pergunta só será possível se nos centrarmos no problema que surgiu: o homem.

Kant só chegou a esse problema através das três perguntas iniciais, mas o que se pode interpretar a partir delas? Se chegamos ao homem, temos que observar como foi construído esse homem dentro do processo de fundamentação. As três perguntas questionam sobre um poder, um dever e um permitir da razão humana. Questionar sobre isso é admitir fundamentalmente uma ausência de poder em determinado aspecto, ou seja, uma finitude desse poder. Se a razão humana fosse toda poder, não haveria necessidade do questionamento acerca de suas possibilidades. Temos, nesse momento, como essencial, como fundamental, como anterior às três perguntas, a finitude da razão humana, sendo ela a causa das primeiras e também do próprio homem.

Um ser que procura conhecer acerca do que fazer, considerando que esse fazer está condicionado a um poder fazer ou não poder fazer, coloca esse dever como problemático, pois seu dever fazer é essencialmente finito. Isso revela uma privação fundamental da razão humana e coloca a finitude como seu fundamento.

Se a finitude é fundamento do homem, ele é a finitude, fazendo-se finito através de sua razão. O movimento filosófico se fez finito através da fundamentação da razão, fazendo com que, inclusive, as três perguntas sejam o próprio fazer-se finito dessa razão.

Temos agora a resposta à questão acerca da possibilidade e do dever de se perguntar acerca do homem dentro de uma fundamentação metafísica, mas vemos surgir um novo problema: a finitude humana. O questionamento acerca do homem agora é o dever filosófico, pois ele assim se faz pela razão que, através disso, caracteriza sua amplitude.

O estudo de nossa natureza interna proposto por Kant ganha uma necessidade e uma orientação dentro deste dever da razão humana, que se coloca no novo problema da finitude do homem.
Sobre o antropológico, podemos chegar à conclusão de que uma fundamentação metafísica pode fundar-se no homem, mas não pode fundar-se numa antropologia, pois a mesma, em momento, algum pode nos levar à pergunta acerca da finitude humana.

Citando Heidegger: “A fundamentação da metafísica é uma dissociação de nosso conhecimento, ou seja, do conhecimento finito em seus elementos”.

22.11.07

Ces't La Vi!

Classe média francesa sem transporte. Será que um dia acordarão para a vida?

"Embora a direção das maiores confederações sindicais defendam o fim da greve, as assembléias de trabalhadores têm optado pela seqüência do movimento. O resultado é que todas as grandes cidades seguem transtornadas pelas paralisações e por uma onda de protestos - que reúnem não só metroviários, mas também estudantes, magistrados, funcionários públicos e até produtores de fumo". O Estado de São Paulo - 22/11/2007

Utilizo como fonte um jornal burguês. E qual opção tenho? Os de esquerda pecam nos excessos quase da mesma forma, e além do mais, nunca se atualizam com a velocidade desejada. Desculpo-me aqui!

A França tem dado um exemplo no que se refere à luta contra reformas liberais de seu governo. O governo de Nicolas Sarkozy mostra-se contraditório, pois ao mesmo tempo que afirma abrir espaço para negociações, diz não abrir mão de seus objetivos - ou uma coisa ou outra, senhor Sarkozy. As reformas liberais defendidas pelo governo visam aumento do tempo de trabalho dos servidores públicos. O que temos hoje para os servidores é um tempo de contribuição de 37,5 anos; o que as reformas propõe é um aumento para 40 anos. Esse tempo já existe para os trabalhadores da iniciativa privada, como assinalado nos jornais burgueses com o intuito de dizer "por que só os servidores públicos podem?". Exatamente! Os demais trabalhadores que lutem para terem 37,5 anos de contribuição previdenciária ao invés de criticar os servidores de seu país.

Reforma Universitária

Nada diferente do Brasil. Uma maior autonomia universitária pregada pelas reformas assinala para um começo de diálogo por parte das instituições públicas com a iniciativa privada. Estudantes aderiram às paralizações dos trabalhadores estatais de gás, eletricidade e educação, além dos transportes, com o intuito de apoiar suas demandas e também lutar contra o avanço liberal frente ao ensino universitário público.

Um país como a França, que possui um dos melhores serviços públicos do mundo, vai sofrer com essa reforma, caso ela passe. O que a mídia de massa coloca é que a maior parte da população apóia Sarkozy, enquanto uma minoria acha que as greves deveriam persistir. Não duvido do fato da maioria ser a favor do governo. Um país que engorda sua classe média não poderia contar com posição diferente. Manipulados ou não, os fatos mostram que mais uma vez essa camada da sociedade só enxerga seu próprio umbigo, e no caso da França um umbigo cheirando a perfume do "bão", regado a croissant e champanhe finíssima. Coisa de fresco que nem de perto sabe o que é viver como os pobres diabos do Sudão.

Mas o que quero assinalar é sobre o conteúdo da frase acima: Os sindicatos demonstram que há um início de "abre pernas" em relação às propostas do governo. É óbvio que tratam-se de sindicatos corruptos. O próprio jornal burguês aqui diz que as assembléias não querem o fim das greves, ao contrário das direções sindicais. O momento é de não se curvar perante oportunismos e "peleguices". Luiz Marinho tem em qualquer lugar...

Ces't La Vi !

11.11.07

Para Além do Bem e do Mal

A moral da religião cai sobre nossas cabeças como um martelo. Quem crê em um deus, seja ele qual for: um deus calcado nas regras morais da conduta humana, um deus que aparece como a verdade do universo, sofre e carrega consigo a dor de pautar sua conduta nos mais diversos aspectos da vida.

Creio em Deus... No meu caso é o Deus dos cristãos. Algo quase lógico para alguém que nasceu no país em que nasci, respirando a cultura que respiro. Não há problemas em relação a essa tradição cultural. Admito! Creio em Jesus Cristo e em suas regras morais. Não sou praticante do catolicismo, nem do protestantismo: sou um espírita! Creio na sobrevivência da alma em detrimento do corpo material, creio na evolução progressiva do espírito dentro de uma ordem hierárquica que vai levando esse viajante evolutivo cada vez mais alto na ordem divina.

Creio, mas não me sinto feliz... O espiritismo é cristianismo, assim como o catolicismo e o protestantismo. A diferença vem da interpretação e dos métodos encontrados nessa religião. O mestre é o mesmo. A moral cai sobre mim, as questões acerca da minha conduta me transformaram em alguém que muitas vezes está no mundo, participa dele, mas não consegue de fato interagir.

O verdadeiro cristão não é feliz nesse mundo. Não que eu seja um exemplo, mas exatamente pelo fato de não ser um exemplo, me condeno. Condeno-me em todos os aspectos da vida, tanto social como interna. Cobro de meu espírito toda a conduta necessária para realizar minha tarefa neste lugar. Sei que não faço o suficiente, mas minha ciência frente a esse fato e minha ignorância frente a minha conduta criam um paradoxo angustiante.

A todo instante vejo as pessoas negarem a verdade da religião, fugirem de seus fundamentos e, com isso, criarem para si mesmas uma carga cada vez maior de conseqüências negativas para seus corpos e mentes. Esse é o fundamento básico da minha religião: quem o mau faz, para si o faz!

Eu também faço o mau... Eu também me prejudico, por isso sofro. Sou impotente frente às provas colocadas ao meu ser; sou ignorante e fraco. Reconheço tudo isso, mas em momento algum consigo aliviar meu espírito em relação ao mundo. Nem mesmo a humildade – que também assumo ser falha em muitos momentos – me tira da dor cristã. Sim, a dor cristã de cobrar-se o tempo todo, de buscar seguir o Mestre e perceber que o afastamento dEle é constante e gradativo. Sou inconstante e negativo muitas vezes, mas em outras sinto a bondade brilhar em meu âmago. De que adianta? Não enxerguei nada até o momento...

Estou cansado de lutar para pautar-me frente ao infinito. Estou cansado de me espelhar numa metafísica estranha. Meu coração está apertado frente à minha fé diminuta. Ainda acredito em Deus, ainda acho que a bondade, a caridade e o amor ao próximo são os faróis do mundo, mas não sei exatamente o quanto sei sobre isso. Não sei exatamente até que ponto o que afirmo acerca disso é fundamento ou discurso vazio. Não sei muita coisa. O sofrimento ensina, bem dizem os espíritas. A plantação é arbitrária, mas a colheita obrigatória. E assim sigo meu caminho... Sofrendo e reconhecendo que, se sofro, é porque errei. O problema é que sinto que até mesmo quando acerto não estou certo. O mundo, as pessoas em minha volta, na maioria das vezes não refletem aquilo que eu deveria ser. Se estou perto dessas pessoas, é porque minha conduta assemelha-se à conduta delas, de modo que percebo que não consigo mais compreender o que há de errado com minhas atitudes, minha vida, minha fé.

Essas linhas estão confusas, mas de outra forma não poderia ser: quem as escreve está confuso. Na verdade não quero mais essas questões morais se abatendo sobre minha vida, não quero mais ser pautado pela metafísica. Não quero mais isso! O problema é que estou preso pela crença no divino, fui contaminado pela cultura ocidental, pela fé cristã da vida eterna e da piedade.

Não quero me transformar em um Nietzsche, não quero negar a humanidade. Na minha opinião, Nietzsche dizia afirmar a vida, - ao contrário dos cristãos, como ele afirmou - mas esse, da mesma forma a negava: negava por se esconder do convívio social, por acreditar ser um ser por demais evoluído, por estar frente a seu tempo. Esse homem esqueceu que a vida é o mundo; a vida não é o que está em uma filosofia em si, nem no que ainda há por vir. Eu não quero negar a vida, não quero me distanciar das pessoas e seus defeitos morais.

Talvez meu problema seja julgar demais os outros, mas sei a que isso se deve! Deve-se ao fato de que, na medida em que trago para mim a tarefa se cumprir a conduta cristã, torno-me um juiz do mundo. Sei que erro nesse sentido; sei que não é nada disso que o Mestre pregou, mas tomo isso como uma doença em mim. Mas nem mesmo sei sé é esse o problema. Deve ser mais que isso.

Estou no calvário. Mas quero sair dele! O consumismo, o culto ao objeto, o “cada um por si” funcionam muito para os outros. Sei que todos sofrem de um modo ou de outro, mas a tentativa de seguir o cristianismo não me trouxe nem conforto material e nem tranqüilidade espiritual. Os espíritos evoluídos dirão que se trata de um momento em que devo aprender. Talvez seja, mas se tenho vontade de ser de outra forma, se essa forma for errada e isso for me trazer dor... Aceito a condição! Eu quero paz, mesmo que artificial! Alguma dose dessa paz! Enquanto o divino não me tocar...

Ainda sobre Nietzsche, acho que em um momento ele foi brilhante: o bem não me trouxe conforto, o mal tão pouco. Quero me projetar para fora disso; quero fugir dessa tradição dualista! Quero estar para além do bem e do mal! Sou uno, e aceitar essa condição é negar esse ser uno, mas mutável: paradoxo fundamental para se compreender minha relação com o mundo. Relação essa extremamente confusa e problemática!

Viver é buscar a liberdade... Ao menos para os pobres diabos que caem no questionamento acerca da própria vida!

5.11.07

Linha do Trem

Outro dia gastei um bom tempo no Linha do Trem. Uma tira melhor que a outra com o melhor do humor ácido. E o que há de melhor para se esquecer por alguns instantes de todo o resto? Abaixo algumas das que eu mais gostei:




Eu odeio dinheiro!

David Alfaro Siqueiros
As vezes acho que as coisas estão desmoronando... As vezes acho que o cara de anos atrás que era contra o sistema e procurava depender o mínimo possível dele está sucumbindo. Calma, ainda sou contra essa merda, mas sinto cada vez mais que não consigo ser feliz sem ter um carro, um canto para morar, sem consumir coisas... É como se eu estivesse com uma doença grave, e soubesse muito bem disso, e odiasse essa doença com todas as minhas forças, mas não conseguisse me curar. Talvez não odeie tanto assim, talvez ache que odeie muito, mas não.
Ontem pensei o dia todo em voltar a ganhar bem, em deixar por um pequeno tempo de lado minha alegria de acordar todos os dias e me dirigir a um trabalho agradável, que me fizesse sentir útil, feliz... E por que não continuo nele? Por que a vida não é só aquelas horas do dia em que faço o que gosto. O dinheiro está muito mais enraizado em nossas vidas que algumas horas de trabalho feliz. O dinheiro nos acompanha por onde quer que andemos. Os meus alunos ficam para trás quando deixo a escola, os muros da escola permanecem por lá, mas o dinheiro... Esse está sempre em volta. Seja nos outdoores, na comida, nos meios de locomoção, nas relações humanas, sempre mediadas pelos objetos do mundo do consumo...
Tente lutar! Tente! Mas se não for forte, se não resistir muito não conseguirá. Chega-se em uma idade em que se olha para trás e começa a medir sua vida pelos bens que acumulou. Eu não queria, não mesmo! Mas o fato é que o mundo te olha assim, as pessoas que você ama, que você respeita ou que dependem de você te olham assim. É difícil porque ao negar tudo isso você entra num emaranhado cada vez maior, cada vez mais profundo. Quando se quer sair é muito complicado.

Não desistirei de ser professor, de prestar um concurso público ou talvez dar aula para os "mais abastados", mas o fato é que no momento não posso mais. Não consigo mais viver sem ser "bom" aos olhos alheios. Os olhos alheios recriam o sistema econômico, a cultura consumista. Eu sou consumista, eu respiro coisas, eu sou uma coisa... Me sinto nauseado, me sinto triste como um drogado que precisa de mais uma dose. Crise de abstinência. O fato é que preciso das pessoas... O máximo de pessoas que eu puder ter.
Não desisti, mas quero ter condições materiais para ser aquilo que sonho. E se falhar em ser aquilo que sonho, ao menos estarei dentro da roda diabólica novamente. Ao menos poderei consumir...
Não sei bem o que estou dizendo, mas sou sincero. Esse blog sou eu...