31.7.06

Volte para si!

Pai libanês carregando filha morta após ataque israelense.
Fuja de si, vamos. Vá pra bem longe daí! Procure sua paz onde ela nunca poderá estar. Apóie-se no seu dinheiro, na sua bandeira, na sua ideologia. Busque a causa dos seus problemas a quilômetros de distância do seu nariz e corra, corra, pois, quem sabe você ainda terá tempo de voltar.
Um Deus que se parece com você pra te levar às maiores atrocidades que um livro sagrado pode citar, um governante imperialista que precisa de muito, muito petróleo para fazer a economia de seu país andar direito, alguns “inocentes” aos quais o estado chama de civis... Misture tudo e apresente através de jornais sensacionalistas o que o mundo inteiro está assistindo: um conflito de dimensões políticas, econômicas e religiosas.
Fuja, continue fugindo... Siga o coelho branco até o fundo de sua toca. Você vai chegar no pior que sua existência material pode te proporcionar, você vai sentir que errou, errou e errou o tempo todo, mas o coelho é bom. Ele vai te mostrar a verdade e nessa verdade você vai perceber que precisa voltar, mas já está bem longe. É hora de voltar... É hora de voltar para si.
Esqueça os valores superficiais, esqueça seu Deus mesquinho e encontre o verdadeiro, o que te valoriza e te mostra diante de um espelho, diante do seu ego imenso e da força que você possui para superá-lo. Não espere que Ele te dê respostas, não espere que Ele te salve, pois apenas você pode fazer isso ao compreendê-lO.
Aceite-se como ser humano e aceite seu próximo como humano. Entenda que aquilo que de fato é bom para você, com certeza será bom para o seu semelhante, mas calma. Você não deve esquecer que ainda mal sabe o que de fato é bom para você.
Moramos em um mundo que tem exemplos brutais de violência e injustiças com os seres humanos. Guerras, conflitos, loucuras legitimadas pelos poderosos... Você acha que não tem culpa disso? Você acha que está isento? O macro parte do micro... As relações afirmadas na base da sociedade fazem com que todo o cosmos terrestre das relações humanas apresente o caos assistido todos os dias ou a paz desejada, mas nem de longe praticada.
Volte, volte para si nesse momento. Não colha os frutos de seu egoísmo, não colha mortos. Esses mortos já não podem mais voltar por hora, mas você deve erguer sua cabeça e lutar. Não reclame, trabalhe. Um trabalho que vai muito além de qualquer conceito que talvez você ainda possa ter. Plante o amor, distribua esse sentimento sem nada pedir em troca. Ajude, ampare, doe-se para ter-se. Faça-o por você, pelo seu próximo, pela vida. Assim o encontro será incrível! A única guerra que de fato vale a pena e que será feita de amor é a guerra de si mesmo. O triunfo é certo!

26.7.06

Meu Sonho Acordado

Sonho em ser alguém. Sonho em ser alguém que não conheço. Sonho em ser alguém mais humano, mais justo, mais consciente de si. Sonho como um marxista que sonha com a revolução, como um pacifista sonha com a paz, como um sem-terra sonha com seu chão. Antes de tudo isso sonho em ser melhor. Sonho em poder dominar meu próprio ego, passar por cima de minhas imperfeições. Não, não sonho em ser perfeito, pois nem sei o que é ser perfeito. Sonho em conviver com meus erros que são inevitáveis, em não me punir através de meu inconsciente. Inconsciente... Sonho com o momento em que meu consciente renove meu inconsciente. Sonho em ser bom!
Sonho primeiramente em me reformar e desenvolver meu auto-amor, pois sei que antes de qualquer mudança no meu meio, no mundo em que estou inserido, devo mudar a mim. Não posso saber o que é de fato bom para o meu semelhante sem ao menos saber o que é bom para mim.
Eu tinha Deus como alguém que nos enfraquecia e nos impedia de pensar, de ser por nós mesmos. Alguém que impunha suas leis em detrimento de suas criações. Grande engano... Como filósofo acredito que existe uma Verdade absoluta, eterna, imutável e que todas as outras explicações acerca de nosso universo surgem dela. Pois bem. Hoje acredito que essa Verdade é Deus. E que se de fato eu for contra essa verdade estarei imerso no equívoco, no erro filosófico. Deus não nos faz fracos e nem nos impõe nada. Ele acredita na nossa capacidade e nos dá o livre arbítrio para decidirmos através de nosso próprio discernimento. Ele não nos castiga por não o seguirmos, ele não nos puxa para o seu lado. Deus respeita nossas escolhas e com muito pesar assiste às conseqüências geradas por nossos atos, sejam eles bons ou ruins.
Eu sou fraco sim, mas graças à oportunidade que me foi dada nessa vida me tornarei forte. Serei tudo aquilo que sonho ser. Devo isso à Verdade que encontrei, sem imposições, dogmatismos ou ideologias que apenas prendem a si mesmas. Minha fé deve ser racional e ter como base o amor e não o medo, minha fé deve ser transformadora e encontrar na minha filosofia a lógica e a racionalidade que tanto busco em minha vida.
O eu desconhecido vai se revelar e espero que junto com ele muitos outros eus talvez ainda utópicos revelem-se para meus semelhantes. Quero que o “conheça-te a ti mesmo” vire uma epidemia, que entre nos corações e mentes de toda a humanidade, transformando esse planeta num lugar seguro e digno. Eu quero e vou trabalhar para isso. Não só para mim, mas para todos que eu puder. Estou longe, muito longe disso, mas a emoção que me toma ao escrever esse texto me dá esperanças de que vou conseguir. Se não agora, talvez daqui a cem anos, se não daqui a cem anos terei mais duzentos, quinhentos, mil! Vou chamar Deus de Verdade, pois essa palavra me fascina. E agradeço a essa Verdade por me dar oportunidade de mudar sempre, sempre... Uma verdadeira metamorfose ambulante, como já dizia Raul Seixas. Mudar no bom sentido é entender sua própria experiência em relação ao mundo e absorver dela tudo o que for melhor para sua existência; a existência autêntica de Heidegger ou o ser por si de Hegel. O individualismo que defendo encontra um porquê maior de ser. Eu mudo, eu crio, eu reformo e creio que nesse ponto revolução e reforma podem casar-se perfeitamente. Sobre isso talvez nem Marx e seu materialismo poderiam ir contra, pois o eu reformado e conscientizado por si e em conjunto com muitos outros são capazes de revolucionar o mundo. Só que com respeito ao semelhante e sem ao menos derramar uma única gota de sangue em nome de uma só coisa que de fato realmente importa: a Verdade!

Eesse blog muda junto comigo. Pra melhor... Sempre!

12.7.06

Até que se prove o contrário...

Acabei de assistir ao filme Edukators, interessante longa-metragem alemão. Ele não nos dá fórmulas pra revolução, não nos direciona a nada... Apenas exprime a angústia, indecisão e dúvida que é viver tendo conhecimento desse grande absurdo em que vivemos. Sim, o capitalismo ainda é o grande astro desse blog. Gostaria de coração que não fosse! Lá vão as linhas inspiradas pelo filme...

O aperto que se segue em meu peito é absurdo... Talvez pelo fato de ser causado por coisas absurdas. A vida que levamos é absurda, os sentimentos confusos e misturados em nossas mentes são absurdos, a rotina parece absurda. De perto ninguém é normal, muito menos eu, muito menos a sociedade, o sistema, o estado, a ordem das coisas...
Não espere entender o que estou dizendo, isso não soa como um dos textos corriqueiros, não soa como uma imitação safada de Clarice Lispector. Isso simplesmente nasce do absurdo, e constitui-se como um absurdo que é meu pensamento.
Carros, casas, celulares, computadores, internet, TV, famílias, revistas de comportamento semanais, jornais, igrejas, rádios, outdoors... Tudo parece seguir uma lógica nefasta, esquelética, mórbida... Absurda! As pessoas andam pelas ruas como zumbis, correm para seus ônibus, trens, ultrapassam sinais vermelhos, pagam multas, comem porcarias socadas em tupperwares surrados, aquecidos em “banhos-maria” ridículos, pagam impostos, divorciam-se, registram seus filhos. E onde está a vida disso tudo? Onde está a sanidade em desejar que seu chefe esteja morto, que a empresa que te paga um salário de merda exploda, que o “desgraçado que te empurrou no trem lotado se foda”? Onde está? Eu só vejo o absurdo...
Os finais de semana parecem esmolas, funcionam como antidepressivos na mente de trabalhadores infelizes que sentem uma angústia corriqueira no domingo à noite... O Fantástico, os gols da rodada, uma última olhada no trinco da porta antes de apagar as luzes e ir dormir e acordar e servir ao senhor Capital Todo Poderoso, em nome dO Pai, dO Filho... Amén!
O absurdo me transformou nessa toupeira chorona, nesse filósofo-escritor-de-meias-verdades-sem-eira-nem-beira, me sequelou como um derrame, como um acidente de trânsito. Acordei desse absurdo e o observo de fora, mas em muitos momentos percebo ainda estar imerso nele, vivendo seus princípios, respirando seus gases. Tornei-me egoísta em muitos momentos, pré-conceituoso em outros, amargurado, desanimado, sem medo... Talvez um dos grandes absurdos em mim seja esse... Perdi o medo de estragar minha vida. Talvez porque já não saiba mais o que seja exatamente viver nesse grande absurdo, já que o que se pensa viver seja apenas o que vejo a minha volta: uma mentira sem tamanho! Mas que absurdo!
Entrego-me aos que dizem que somos produtos de nosso tempo, de nosso sistema, regime, sociedade... O que impera é nada mais do que o absurdo e o que digo aqui, o que sinto, o que me faz por muitas vezes chorar em silêncio no ir e vir do cotidiano fúnebre em que emergimos é nada mais do que um absurdo produzido por ele mesmo. Pois não diga que não é sem me provar que existe alguma forma pensada de libertação disso tudo sem parecer absurda, seja para as mentes adormecidas ou mesmo para quem sonha com essa liberdade tão distante.Vivemos do absurdo, sonhamos o absurdo na espera de que ele não exista mais. Mais um absurdo, diga-se de passagem... Até que se prove o contrário!

5.7.06

O Eu e O Outro...

Me inspirei na Sra. Lispector para escrever isso. Ela foi um ser iluminado em sua forma de escrever e expressar o humano. Inspiração... E o que mais devemos buscar nos artistas? Apenas isso...
O personagem desse pequeno texto é você que aí está lendo isso! O que vai querer? Jogar-se no abismo de si? Ou continuar a ser o outro?


Vejo-me através das coisas... Vejo-me... Vejo-me? Sou um reflexo das coisas em mim, sou a bandeira deflagrando a minha inumanidade.
Vejo-me através das coisas... Vejo-me no celular, no carro, na roupa, na TV, no DVD, no computador, no perfil expresso em um site de relacionamentos. Vejo-me no outro... Eu não olho para mim porque o que verei não será fácil de entender ou digerir. Eu sou indigesto. As coisas são feitas sob uma necessidade e um compromisso enorme de serem perfeitas para poderem me refletir da forma que desejo. Vejo-me assim... Por trás da foto tirada pela câmera digital, da lataria brilhante e som potente que fazem parte do meu carro que corre, corre, corre... Para onde? Para bem longe de mim. O meu mundo é o seu mundo porque eu sou o que você quiser que eu seja. Eu faço as coisas, mas não me enxergo como autor delas. Vejo-me nelas como alguém que se espelha em um deus qualquer... Não me olho no espelho real e não me encaro. Escondo-me na rotina do emprego, das contas, do salário (também indigesto), do chefe, do trânsito, da happy-hour, do garoto pedindo um trocado no farol... Renasço! Renasço todos os dias nas coisas e nas suas formas. Formas que passo a ter como um molde, como uma matéria disforme procurando algo para ser. Me torno então uma coisa e assim permaneço. É mais fácil e mais seguro. É direito! A vida? Não me importa vivê-la... Sou uma coisa e nela permaneço para ser usado juntamente a você para que possamos continuar criando essas formas, onde a coexistência de mim com o mundo anula-se e torna-se apenas uma existência no objeto, no definido, no perfeito que eu por mim apenas não posso ser. Eu sou incompleto e ao afirmá-lo, passo minha vida a me contradizer criando coisas perfeitas que saem de mim mesmo e me aprisionam, afinal de contas, vejo-me nas coisas e me apoio nelas para não cair no abismo que sou EU!