25.9.07

Fundação Santo André e o "Movimento Real"

A Fundação Santo André sofreu, ao longo de pelo menos seis anos, ataques progressivos à sua qualidade de ensino. Desligamento de professores por motivos políticos, aumentos exorbitantes nas mensalidades, sucateamento das estruturas dos cursos, quebra da democracia universitária, entre muitos outros motivos não observados por mim, ou talvez outras pessoas que possam realizar essa análise, foram determinantes para que a situação chegasse ao ponto em que chegou nos dias de hoje.

Sim, esta é uma análise fixa e sobreposta de um conjunto de instantes do passado. Tal análise é necessária para um conhecimento mais científico, ou positivo da situação política da F$A, mas de fato não é a única.

A história é o movimento constante de seus agentes e a esse movimento constante deve-se a mudança. Um fato hoje observado carrega em si marcas adquiridas no passado, mas torna-se um vício acreditar que se poderia prever com propriedade, no passado, todos os acontecimentos presentes. Ora, a situação atual da F$A pode realmente carregar em si as marcas de todos os ataques sofridos no passado, mas o risco do erro existir em tal análise é muito, para não dizer, absurdamente provável.

Projetamos no passado o que vivemos no presente, como uma sombra que recobre a estrada que ficou para trás do automóvel e como se antes mesmo desse automóvel por aquele ponto da estrada já observasse nela a sombra apenas agora ali localizada. O movimento estudantil da Fundação Santo André, e todas suas circunstâncias, devem ser observados como uma mutação constante de estados de consciência, de criações e invenções de seus integrantes (alunos, professores, população). Lidamos a cada dia com o movimento, com o tempo que não deve apenas ser recortado, catalogado e padronizado para ser compreendido. O tempo é mudança! O que temos é a mudança... O espírito do movimento estudantil na F$A mudou, se transformou, e isso nem mesmo o maior analista ou materialista histórico poderia prever com tamanha exatidão. Estamos frente a novos desafios e cabe à nossa análise duradoura entrar no interior do movimento, intuí-lo, para então compreendê-lo como uma coisa duradoura.

Caso Odair Bermelho caia, caso a burocracia dentro da F$A seja atacada pelo movimento estudantil, devemos compreender que calcar no passado tais vitórias, seria uma abstração por demais perigosa, uma fuga onde se toma o presente com ares de passado, sendo que esse contribuiu para o presente, mas em momento nenhum se trata do mesmo. Analisar a situação vigente por ela mesma é imprescindível, juntamente com o que hipoteticamente aprendemos com o passado, para que o movimento estudantil dentro dessa universidade realmente seja para nossa realidade material, um movimento, uma renovação constante.

Não devemos nos prender a verdades universais ou fórmulas prontas. Projetar essas fórmulas no passado converte-se em engano grave. Nada existe antes de se realizar, concordariam comigo os materialistas. A idéia que tenho de algo, antes desse algo existir, modifica-se no aparecer desse. Imagino algo, tenho uma idéia sobre esse algo, mas ao concebê-lo positivamente, mudo, mesmo que sutilmente, a idéia que tinha antes dele. Logo, temos uma falha ao tomar as idéias atuais como sombras projetadas no passado. Tomar a previsão retroativa como amiga constitui-se nesse momento em perigosa relação.

Tomemos o devir, tomemos a transformação contínua de idéias e finalmente compreenderemos a política não como o que se pensa ser, mas o que se é. Sem fixidez, sem essências imutáveis, e finalmente, sem “movimentos” que aparecem por um “espaço de tempo” e, assim como tudo aquilo que é recortado e analisado isoladamente, tende a parar e estagnar-se no erro (sendo nem mesmo esse, fixo e imutável)!

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