14.10.07

Sobre o que sou, mas já não mais...

Odeio escrever sobre mim, odeio escrever sobre o que sinto sobre mim, odeio colocar-me no centro do texto. Ora, descentralizo o texto para me colocar nele. Coloco o que sinto na borda da página e distorço a linha que leva ao rodapé. Assim me encontro e desencontro, assim permaneço distante e ao mesmo tempo beirando a verossimilhança de meu ser oculto.

Sou o que sou agora, apenas isso, pois o que sou não é mais estático, nunca foi, sei bem agora... Lutei algum tempo contra isso. Admiti a fixidez, a essência imutável. Não é mais assim. O que mais notava em mim seria o que mais mudaria minha forma de enxergar o ser. Enxerguei, percebi – ou me deixei perceber – para mudar, enfim sem sentir-me mal por isso.

Sou o que quero ser nesse momento, sou o que meu estado de consciência definir. Sou esse de agora, sou aquele que foge e busca a filosofia, sou aquele que se aliena e esclarece, sou egoísta e fraterno, diabólico e humano. A missa de minha vida pode ser negra ou pode ser sagrada.

Deus, diabo, negro, branco, sabedoria, ignorância, carne, espírito... Sou a união ambígua e apenas posso buscar a verdade em parte, mas o que não é também influencia meu ser material da mesma forma que aquilo que minha intuição pode captar...

Ao adentrar o movimento percebi o que sempre vi. A verdade perceptível nunca pode ser oculta. Mas o que é o oculto? O que é o imperceptível? As coisas mudam, as coisas se movem, as coisas são... Sendo assim, apenas são. E o que antes era obscuro, apresenta-se à minha consciência de forma clara, cristalina... O que coloco agora no mundo que não colocava antes?

Quanto mais meu intelecto se une à minha intuição, mais compreendo as coisas. Tirei isso da onde? Não sei... Prova da minha incapacidade, não permanente... Nunca permanente!

Odeio falar sobre mim, odeio escrever sobre mim, escrever sobre mim é escrever uma mentira, pois já não sou o mesmo do começo do texto. Melhor escrever sobre o movimento. Este sim, me acompanhou ao longo das linhas e me ajudou descentralizar o texto, colocar que sinto na borda da página e distorcer linha que leva ao rodapé. Não há fixidez, portanto, talvez haja retorno para algo que já mudou, pois o em si já não é mais, mas com certeza agora é...

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