23.7.07

Parcial ou imparcial?

Os críticos da imprensa a acusam de parcialidade. Mas o que quer dizer “parcial” e “imparcial” dentro desse debate?

A classe jornalística é uma classe que tem acesso aos fatos mais relevantes da sociedade. Refiro-me aos empresários donos dos grandes veículos de comunicação, pois esses sim têm total acesso à podridão que rola solta pelos bastidores do poder. São como um filtro que nega a verdade inclusive aos seus “operários da informação”. O grande problema é que essa classe, em determinado momento, resolveu utilizar-se desse poder para obter vantagens em detrimento das pessoas que necessitam desse canal de comunicação com o “alto da pirâmide”. Começou a festa!

A parcialidade ou imparcialidade na imprensa pode ser observada sobre dois aspectos diferentes:

Em relação à exposição de suas opiniões, a imprensa não é parcial. Ela é imparcial! Sim, pois essa se inclina a cada momento para um lado de acordo com seus interesses, em detrimento de concordar ou não com os ocorridos. Ela se mantém sempre no meio do muro, e quando aparece um interesse que a faça tornar-se parcial, finalmente temos os jornais, revistas, sites e todo tipo de veículo que trata de nos mostrar o mundo através das lentes da mentira. Logo, a imprensa em relação a seus próprios valores é imparcial ou omissa, pois analisa qual situação é mais proveitosa para seu benefício, e somente após esse exame, parte para um lado do muro.

Penso que a partir daqui o problema não está na parcialidade da imprensa. Não somos em momento algum imparciais em nossas vidas. Podemos muitas vezes nos omitir em relação aos fatos do mundo, mas dentro de nós sempre há uma opinião, um lado pelo qual gostaríamos de seguir. Ora, a omissão seria a negação dessa característica de nossas personalidades, seria o mesmo que pedir que não tivéssemos senso crítico em relação ao mundo e em relação a nós mesmo. Pedir imparcialidade da imprensa (que é feita por pessoas) neste aspecto, seria o mesmo que pedir que essas mesmas se omitissem. Tenho como problema o fato da imprensa ser dirigida e manipulada por pessoas desprovidas de caráter, de senso de justiça e verdade. A imprensa apresenta-se omissa nesse aspecto e vemos o resultado...

Os fatos que se apresentam contra o bem comum, contra o que podemos chamar de justo ou ético, devem sempre ser expostos e criticados pela imprensa, mas sempre de forma transparente e contrapondo-se inclusive com argumentos que possam criticar a posição adotada. Jornalistas devem ser pessoas com senso crítico e com opinião firme. Somente esse tipo de leitura pode promover uma discussão dentro da sociedade que tem acesso às notícias. A imprensa deve prestar um serviço à sociedade. Mas o que estou dizendo? É claro que todos sabemos disso, sendo inclusive esse o discurso de todos os veículos de comunicação. O problema, o grande problema (que está ligado à falta de caráter da imprensa) é justamente a utilização vã deste discurso.

Todas as características que apontei como necessárias ao jornalista, ou a imprensa em geral, remetem a um caráter de parcialidade em relação ao mundo, pois ao afirmar que a imprensa deve ser imparcial, consideramos uma sociedade que não possui o poder de discernir entre uma opinião coerente com certos “valores universais”. A imprensa, desde que relate os fatos como realmente são, pode perfeitamente ser parcial em relação a eles, apresentando sua posição sustentada por argumentos sólidos. A verdadeira imprensa é aquela que bate no peito e se declara de fato parcial em relação a determinado fato e não tem medo de colocar a verdade.

No que concerne à exposição dos fatos, a imprensa não é imparcial, pois esta nunca apresenta os fatos como realmente se dão. A apresentação das notícias é sempre montada de forma a nos fazer tomar uma opinião que já foi pressuposta. Em relação à verdade não temos imparcialidade alguma, mas sim uma parcialidade manipuladora. Caímos aqui no outro aspecto que se relaciona com parcialidade e imparcialidade.

O que penso em relação a esses dois aspectos é que se deve haver uma inversão na atividade de ser parcial ou imparcial. A discussão errônea sobre o parcial ou imparcial ajuda a cobrir com um véu a real discussão que deve ser promovida sobre a imprensa. A crítica à parcialidade, como exposto acima, deve debater a questão da verdade que não é apresentada de forma imparcial ou transparente. A notícia nos chega montada de forma a favorecer a parcialidade tomada pela imprensa. A imprensa parece não argumentar, pois a exposição manipulada dos fatos fala por si e em momento algum pede argumentos. As mentes absorvem o recorte arbitrário da verdade e seguem a opinião mais certa em relação a ele. Eis a manipulação! Os fatos expostos já foram colocados de forma a obter a determinada opinião. Aí está o problema...

A partir da verdade transparente pode-se muito bem argumentar sem problemas. Expor a mentira de modo a manipular nosso senso de “valor” é que faz o caldo entornar. A imprensa pode e deve ser parcial no que concerne à análise crítica de um fato, mas deve ser imparcial ao expor esse fato, de maneira a não se colocar diante dos ocorridos, tornando-nos cegos em relação a eles.

O que eu quero é a verdade! O que eu quero é participar do mundo! O que eu quero é ser livre! O que eu quero é que a imprensa faça seu trabalho e me deixe pensar em paz! É pedir muito? Para esses canalhas, sim!

Um comentário:

Corrupt disse...

A verdade está no seu coração! O "BASTA" tem que ser coletivo! Independente da imparcialidade da imprensa, temos que nos levantar! É tudo nosso!