6.2.07

Das disciplinas semipresenciais

Salas com mais de 500 alunos, nas ruas o trânsito não denuncia alunos indo até suas faculdades, eles estão em casa estudando. Na frente de um computador as relações sociais passam a existir através de códigos binários. No lugar de “olá, como vai você?”, temos 010101...
Os cursos à distância ou semipresenciais podem até trazer resultados eficientes, mas uma questão não pára de martelar minha cabeça: onde fica o humano?
A partir do momento em que uma turma de alunos se encontra em uma sala, algo mágico acontece. Em um lugar inicialmente hostil e estranho a todos, nascem amizades e o que é aprendido é trocado através da linguagem e todo tipo de experiência social. O professor que está lá, de pé, na frente de todos fala e ouve também, aprende com os alunos (e por que não?), interage, relaciona-se... Cria-se uma atmosfera onde há uma troca intensa. Essa é a verdadeira coexistência das relações humanas que faz o aprendizado tornar-se não apenas um conjunto de informações, mas sim algo que passa a estar na vida social do aluno.
No curso de filosofia, a partir desse ano, os calouros inauguram a decadência do nosso curso. Uma disciplina semipresencial foi implantada e sem nenhuma discussão prévia com os alunos. Alguém garante que em longo prazo o curso inteiro de filosofia não seguirá esse modelo? A ânsia de lucro, a mercantilização do ensino falou mais alto aqui. Nos cursos virtuais não existe o problema do espaço físico, logo, pode-se dobrar, triplicar, quadruplicar o número de alunos em uma “sala”. Enfim, os lucros são muito maiores e é isso que importa, não é? O dinheiro fala mais alto e mais uma vez o humano é deixado em segundo plano em nome dele.
Filósofos! Somos filósofos! O diretor do nosso curso, a coordenação também é teoricamente. Mas o papel do filósofo não é questionar? Por que esses nossos “representantes” não trouxeram essa entre outras questões que tratam do distanciamento do ensino de qualidade, do afrouxamento das relações entre aluno e professor, da mercantilização do ensino e de como pode ser perigoso inclusive para nossos professores adotar esse tipo de ensino semipresencial uma vez que esse método remete a um enxugamento no corpo docente? Nossos “representantes” simplesmente acataram uma determinação da instituição sem ao menos procurar trazer a discussão aos alunos.
Não façamos como nossos “representantes” fizeram. Não deixemos o questionamento de lado. É nosso trabalho! Temos que ir contra essa coisificação do ser humano. E o que é a ação social senão uma intensificação das relações humanas em prol da própria humanidade? Trabalhemos, antes que o 010101 tome conta de nós. Antes que textos como esse passem a chegar às pessoas unicamente por um e-mail sem cara, sem expressão, sem ser.


Apenas 010101...

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