21.2.07

Acabou o carnaval

O carnaval se foi e com ele a alegria sintética de milhares de brasileiros. O carnaval se foi, mas o que mantém as mentes em pé e a esperança pairando numa altitude distante é o fato de que ele sempre volta. Não importa os acontecimentos, os rumos da economia, a violência, as guerras entre estado e bandidos, não importa a fome e a miséria... Não importa. O carnaval sempre volta e com ele os milhões faturados por uma certa emissora de TV, pelo estado, pelas marcas de cerveja e tantos outros vampiros da festa da carne, da libertação antropológica da nação. Ó carnaval!

Qualquer um sai ganhando com ele. Os mais religiosos, os mais carnais, os empresários, os favelados... Todos saem ganhando com o feriado onde o país sorri feliz e comemora a sua miséria alegre. Sim, somos pobres, porém felizes.

O carnaval é o simulacro da fantasia e de como o mundo deveria, segundo as aspirações humanas, ser mais belo e colorido, de como um samba bem tocado e um sorriso alcoolizado podem fazer com que as neuroses desapareçam. Nem que seja por uma noite todos são donos da festa da carne. Artistas pisam no mesmo local sagrado que o populacho, ricos, por alguns instantes deixam-se contagiar com a festa organizada em sua maioria por pessoas que poderiam ser e muitas vezes são os próprios empregados de suas empresas, estrangeiros visitam o país, embasbacados com a beleza de cores do simulacro maravilhoso que desfila pelo caminho mágico da Avenida.


Simulacro! Como atingir o mundo das idéias? O ocidente não sabe como fazer, mas o Brasil tenta da sua forma e pode de fato não funcionar perpetuamente, mas por algumas noites sim. As cores e as temáticas nem sempre compreendidas pela maioria das pessoas celebram o espírito humano em contato com o real. Os acontecimentos históricos ganham vida através do folclore de danças e belas formas. Simulacro!

As mulheres com seus corpos seminus desfilam a carne, ora, é a festa dela! Os padrões de beleza são afirmados na Avenida, os camarotes atraem fotógrafos desesperados por flagras entre artistas. Nas próximas semanas as revistas venderão milhares de exemplares estampando a vida desses mitos da mídia. Como se os camarotes fossem o Olimpo, morada dos Deuses onde a mídia torna-se uma espécie de Prometeu que leva o fogo sagrado desses personagens até os desesperados pelo simulacro. Simulacro!

O carnaval é uma bela festa. É interessante como os homens determinam datas certas para suas válvulas de escape coletivas e como essas convenções passam sem deixar grandes vestígios. Logo a Avenida estará limpa, daqui a nove meses os novos filhos do simulacro nascerão e tudo estará bem. É tempo de pensar em novos sambas-enredo, criar fantasias, carros alegóricos e esquecer de todo o resto. Esquecer para esquecer! É tempo de destruir para reconstruir mais uma vez aquilo que nos faz chegar perto e ao mesmo tempo muito mais longe daquilo que é. O simulacro pode criar seu próprio simulacro e nos afastar cada vez mais das idéias. Será por isso que Platão exilaria os artistas de sua República? Será que ele pensou no perigo da arte alienante que nos afastando cada vez mais da própria cópia do mundo, nos afasta mais ainda do mundo das idéias?

O mundo tornou-se o simulacro de si e nós simulacros de nós, imersos em sonhos e esperanças retorcidas em cores, belas mulheres, propagandas com seus produtos reconfortantes. Não espere nada de novo. Apenas mais um ano de realidade sem importância, rumo a algo grande, rumo a total celebração do equívoco humano! E viva o carnaval! E viva a arte perigosa! E viva a caverna!

Mais um ano em preto e branco... Até o próximo carnaval...

Um comentário:

William Dubal disse...

Eu escrevi mesmo essa droga? Esqueçam!