6.5.07

Inevitável!

Ontem, andando pelo centro de SP durante a Virada Cultural, percebi que aquele ambiente de fato não era saudável. Algo de podre estava no ar, algo de denso me levava a pensar que aquilo não tinha nada de fraterno. O problema foi que em determinado momento me senti como parte integrante, colaborador fiel de tudo aquilo. Não aproveitei a noite e nem sorri como deveria...O universo se mostrou ainda mais complexo, minhas atitudes me desnudaram e o que apareceu foi um triste espetáculo individual. Não cantei, não festejei o que de fato merecia ser festejado. Sou o caos do mundo junto aos meus afins, sou a infelicidade coletiva de um mundo cinza e confuso. Não, não é crise existencial... É que sei o quanto sou torto e quando vejo espetáculos miseráveis como o ocorrido ontem na Praça da Sé, penso que estava no local certo e na hora certa. A plantação é arbitrária, mas a colheita... Inevitável!

***

Faço parte da massa incandescente dos amores perdidos e das ações infundadas.
Faço parte da legião de sofredores cármicos desse mundo confuso e caótico.
Nas festas populares, assim como todos os espíritos inferiores, inclino-me a facilidades mundanas do prazer imediato e vão.
Compartilho toda a dor e inferioridade desse lugar, contribuo diariamente pra que essa situação permaneça assim...
Não me junto aos que poderiam ser melhores companhias, pois não atraio esse tipo de gente. Junto-me aos tortos, pois sou uma peça torta também, mas em momento algum me orgulho disso. Mas de que serve o orgulho, afinal?
Ando pelo mundo olhando as pessoas, observando suas atitudes e perguntando como é possível que meu corpo não faça a coisa certa se minha consciência o condena.
Junto-me aos perdidos, aos que colhem a dor que plantam, faço parte dos pobres de espírito, dos que muito tem para dar, mas ainda não possuem generosidade suficiente para dividi-lo com os que precisam.
Sou feio, sujo e sem expectativas... Tento escapar do mundano, do comum e do trivial, mas caio nele como um patinho.
No meio dos prazeres carnais, fúteis e tristes, dissolvo-me junto aos meus afins; na violência incontida da polícia, junto-me aos que tão erroneamente quanto ela pensam estar com a razão. E que razão poderia me absolver agora?
Vi o mundo das trevas tomar conta da vida e vi a vida gritar desesperadamente pelo ar puro da fraternidade.
Sou participante daqueles que gritam a felicidade aos quatros cantos, mas nada sabem dela. Corro a sorrir e me mostrar fiel ao meu próprio teatro que não convence a ninguém, além da platéia cinza e morta que em prantos me assiste. Platéia que assim como eu corre rumo à colheita minguada e merecida de uma vida vazia.
No dia seguinte da derrota espiritual, retorno ao real e nele não me encontro...
Após tanto buscar somente tenho a tarde vazia, o sorriso que não saiu, a falsa alegria que tanto teve lugar em meus planos, o corpo mal-tratado e a vergonha estampada em meu rosto fraco e sem vida.

Eu nasci, mas ainda não vivi!

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