30.5.07


Ataques ao ensino público, aumento abusivo das passagens de ônibus, universidades privadas implantando sistemas de ensino à distância por puras "necessidades de mercado". O inverno chegando, muitos morrendo de frio pelas ruas, na Venezuela o governo fecha uma emissora de TV que falava em nome do imperialismo e nosso presidente simplesmente diz que não vai se manifestar a respeito.
Vivemos o Brasil dos ataques, mas não os ataques aos nossos inimigos, mas os ataques ao povo, os ataques diários de quem coloca seus filhos para estudar no exterior, de quem nunca andou em transportes públicos ou sonhou em apoiar ações anti-imperialistas. Vivemos os tempos da farra dos ricos, dos desumanos, dos que têm e nem sonham em dividir. Vivemos os dias do BIRC (Brasil, Índia, Rússia e China), países em pleno "desenvolvimento"; países em plena ânsia por aceitação no clube do inferno.
Sofremos por todos os lados. Sou professor de escola pública, onde a alegria dos alunos é receber Trakinas na hora do intervalo, cantar músicas de hip-hop e pixar com letras diferentes as paredes e carteiras. Lugar onde professores apáticos sonham em lecionar em escolas particulares e dar as costas para a gênese da desesperança social.
Hoje um representante de uma escola de computação foi levar sua palestra sobre sucesso pessoal. Deu exemplos de homens como Abílio Diniz e Silvio Santos, brincava com a inocência de quem mal chegou a esse mundo e já sonha com outro, pois o que se conhece não chega nem perto do mundo dos sonhos da TV criminosa e produtos de felicidade instantânea. O tal "representante" dizia que não devemos ficar em casa reclamando do governo; dizia que o sucesso de cada um estava em suas mãos. Pelo esforço pessoal de cada um, todos chegariam a uma grande empresa, a um cargo de sucesso com um salário maravilhoso. A promessa de que com tudo isso todos sairiam da periferia e dariam as costas para a realidade: bem vindos ao mundo da ilusão, bem vindos a classe média. E o tal representante, sem saber que também era um fracassado ao provavelmente ganhar um salário de fome para percorrer escolas públicas com um Data Show debaixo do braço, afirmava que com aqueles cursos imbecis todos garantiriam um emprego, provavelmente em uma empresa nojenta de telemarketing. Sucesso!
A ocupação da USP me trouxe um certo ânimo, uma vontade de sair gritando e mostrar a essa gente egoísta e desumana que nós não nos contentaremos com um lugar nesse céu falso. Queremos o humano, queremos o belo e nada poderá nos deter. O problema de tudo isso é que eu penso assim, mas a maioria ainda quer uma passagem só de ida para o céu de brilho fraco e ilusório. A maioria dos alunos da escola onde leciono brilhava seus olhos ao ver exemplos de homens de "sucesso" que não se importam nem um pouco com o fato de alunos de sétima série muitas vezes não saberem nem ao menos escrever um texto simples, com o fato de que o herói de muitos deles é o bandido, o traficante; aquele que em uma ordem inversa, mas nas mesmas proporções é o exemplo de sucesso econômico desse mundo sintético e triste. Os exemplos estão por todos os lados e já chegaram até mesmo ao outro extremo. Estamos cercados!
Muitos dirão que a USP vive dias em que pequenos-burgueses desocupados gritam por motivos próprios e egoístas. Dirão que não passa de uma brincadeira de pseudo-revolucionários armados com IPods e perfis "extremamente libertários" em seus Orkuts. Eu digo que não! Acredito que quando se quer mudar as coisas não se faz mais parte de classe ou ideologia, acredito que quando se decide lutar, ocupa-se a reitoria, a prefeitura, para-se a estrada... Doa a quem doer, faça o que fizer.
A mensagem da foto diz mais do que pode dizer qualquer movimento, seja ele estudantil, por transportes dignos ou contra outras repressões capitalistas. A mensagem diz "ocupe o céu fosco que está em você e contamine-o com o humano, com o fraterno e o imperecível. Não há céu fácil que nos bloqueie e nem promessa de dias confortáveis e egoístas que nos conforme".

O mundo em volta despenca, mas o amor ainda existe... Sem conformismos, sem alienações. Por nós, por um mundo melhor!

Nenhum comentário: