23.3.07

O que você sabe? O que eu sei?

O que você pode afirmar sobre o mundo? O que você sabe de fato? Você pode garantir que o Sol nascerá amanhã? Como? O conhecimento pode dizer o futuro? A experiência direta com esse mundo é mesmo algo seguro? Confiar em seus sentidos é algo que nos livra do engano? Seus sentidos nunca te enganaram? Por que a ciência é a melhor forma de explicar o mundo se as teorias científicas estão baseadas em incertezas tanto quanto a religião e a filosofia? Por que afirmam que a ciência é a base mais segura de conhecer o mundo se todas as teorias científicas foram derrubadas ao longo da história? Existe mesmo progresso a ponto de podermos afirmar que estamos em um período histórico com desenvolvimento suficiente para nos acharmos superiores às gerações passadas? O que é desenvolvimento de fato? Se a tecnologia é assim tão importante para a humanidade, por que estamos cada vez mais imersos em problemas que antes não possuíamos?

Ninguém pode afirmar nada sobre o mundo. Todas as formas de conhecê-lo levantam hipóteses dubitáveis. Por mais que se apóie sobre sólidas argumentações, não existe conhecimento que consiga contradizer a todos os outros racionalmente e mesmo que o faça, quem foi que disse que a razão é de fato a melhor forma de conhecer? A arte utiliza a razão ou puramente os sentimentos. A arte é uma forma de conhecer o mundo e expressar esse conhecimento. Ela está errada? A religião está errada? Afirmar que Deus criou tudo o que existe é uma hipótese que não pode ser contradita com propriedade por nenhuma outra forma de conhecimento. Pode-se refutar, pode-se criar outra explicação... Pode-se dizer que tudo sempre existiu ou afirmar o Big-Bang, a Matrix... São hipóteses tão dubitáveis quanto a afirmação acerca da incerteza de Deus. Pode a filosofia dizer a verdade sobre o mundo? A verdade existe? A verdade é que não existe verdade? Alguma verdade tem que existir necessariamente? Todos os filósofos ao longo da história foram derrubados pelos que vieram depois ou tiveram seus pensamentos modificados, “melhorados” (ou não)... Não restou pensamento intacto, livre de críticas... A verdade fala por si e é indubitável. Falo da idéia de verdade, mas até mesmo essa afirmação não está livre de refutações. Até mesmo a mais simples afirmação sobre o mundo está exposta à crítica. Parece um labirinto. Parece uma prisão...

Apenas me resta a dúvida. Descartes seguiu o mesmo caminho a ponto de duvidar de tudo à sua volta, até mesmo de si. Ele escolheu seu caminho, mas nesse momento permaneço aqui, parado, porque até mesmo Descartes foi refutado e seu pensamento colocado em dúvida. A dúvida é a certeza e a pergunta é a minha única forma de seguir adiante no mundo. A pergunta é meu único combustível. Vejo à minha volta acadêmicos com títulos que muitos nunca conquistaram, mas para que? Algum deles conseguiu dizer algo que me livra dessa dúvida? Os mestres, doutores, pós-doutores e todo tipo de acadêmico sabe mais que aquele sertanejo que nunca saiu de seu vilarejo e possui conhecimentos míticos sobre o mundo? O Big-Bang é um mito, a teoria do caldo primordial é um mito, os átomos são mitos, deuses são mitos, as ciências em geral estão fundadas nesses mitos. Temos as coisas que não podem ser vistas, experimentadas pelos nossos dubitáveis sentidos e toda ciência em determinado momento encontra-se com essas coisas. Isso é a metafísica. Isso é para além da física, além do palpável, além do sensual... E não há como desprender-se disso. Qualquer conhecimento parte de uma metafísica, de um mito ou de algo que apenas está preso ao nosso pensamento, à nossa razão. Estamos presos a essa divisão de águas e nem mesmo os empiristas podem negar isso. Eles podem deslegitimar tudo que não é posto na experiência, podem dizer que essa metafísica não é de fato algo verdadeiro, é uma abstração, mas em momento algum podem negar que em pensamento elas não existam. Elas existem, mesmo que sem legitimar-se pela experiência. Negar não é provar a não-existência. Negar é apenas negar. O pensamento existe, pois estou pensando nesse exato momento. Vejo, ouço, sinto, falo e disso também não posso duvidar, mas nem mesmo saber que penso e que sinto me trazem o conhecimento sobre o mundo. É como entregar ao aluno o lápis, o caderno e o livro. Essas são suas ferramentas para aprender, mas ao possuir essas ferramentas ele ainda não conhece nem mais nem menos do que conhecia sobre o mundo. Apenas conhece sobre si mesmo. Ele é alguém que possui o lápis, o caderno e o livro, mas que ainda nada sabe sobre o mundo. Nada mesmo...

Algo posso afirmar a partir daqui. Existe aquilo que é colocado na experiência direta com os meus sentidos e aquilo que apenas habita o meu pensamento. Entretanto, isso não me dá certeza de mais nada, não me traz a verdade, caso ela exista. Apenas tenho o problema colocado e nada mais. Ainda me resta perguntar... O que você sabe? O que eu sei? Só me resta a pergunta e talvez só me reste a crença. Nem mesmo ela pode ser refutada nesse momento. Pode ser, mas ainda não sei.


Só me resta perguntar sobre o mundo. Como dizia Sócrates: “só sei que nada sei”. A filosofia fecha o ciclo, que na verdade nunca foi aberto, assim como a noção de existência, de mundo, de eternidade para os gregos: um ciclo eterno, sem começo nem fim...

Só sei que nada sei... Só me resta a pergunta!

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