4.3.07

Base sólida

Sim, eu procurei aqui e ali de todas as formas. Tentei alcançar a sutileza da palavra e o carinho sem espera de recompensa. Talvez em minha vaidade quisesse conquistar prestígio e amigos que me fizessem sentir como em um desses seriados americanos.

Procurei em tudo o que me tirava a consciência manca, procurei nos movimentos políticos e também na esfera daqueles que apenas desejam o conforto imediato de uma vida sintética. Nada achei... Procurei na cegueira religiosa a falta de mobilidade que possivelmente me traria paz. Fracasso!

Por trás de tudo o que busquei me alegrava com amigos que fazia e nesses afetos me sentia forte para seguir em frente. O desânimo sempre me abatia cada vez que observava o fim para o qual eu estava trabalhando. As relações pareciam andar sobre um mar de ódio e revolta antes de conquistar por fim a essência de todas as coisas... Que triste caminho a trilhar!

O ser humano é belo! Suas relações quando baseadas na sinceridade e amor ao próximo exprimem o que há de mais sublime em nossa existência, refletindo a sutileza da felicidade. A felicidade é sutil!

Em todos os movimentos que visitei, busquei amigos. Sempre os encontrei, mas deparava-me com calorosas discussões de rivais teóricos e tudo que via era que aquela fraternidade do meu “grupo” muitas vezes não ultrapassava os muros de nossas sedes. Muitas vezes não experimentava o que era de fato almejar e praticar a edificação de uma sociedade justa e fraterna. Queríamos ampliar nosso “grupo” e nada mais... Aceite o mundo como nós o vemos e sejamos camaradas...

Procurei em muitos lugares. Não em todos, mas talvez não precise mais...

Em toda a história da humanidade o homem sempre procurou dar grandes rumos à história. Sempre buscou encontrar grandes explicações para o mundo, para a existência e nessas tentativas sempre se frustrou.

Mudar a sociedade! Impor o que acho ser melhor! É isso? E de que adianta ser socialista, anarquista, democrata, capitalista convicto? De que adianta ler Platão, Marx, Rosseau, Lênin, a bíblia, discutir, ter opinião formada se você ainda assim não enxergar um palmo diante do nariz?

Pode de algum ato ruim surgir a bondade? Pode de uma guerra surgir a paz? Não encontro na história um momento de paz que durasse por muito tempo! Não observo uma só nação que tivesse vencido um combate sem colher de forma negativa suas expiações por pregar a destruição.

Estou confuso como há muito tempo! Sinto meus defeitos morais coçando a pele e espero mudar, mas não só devo esperar. Tenho que fazê-lo! Talvez já saiba como, mas... Não sei...

O que quero dizer é que tentei de muitas formas mudar o mundo e me sentir bem com isso, mas não vejo outra forma de fazê-lo senão construindo com bases sólidas minhas relações. Quantas vezes descobrimos que aquela pessoa pela qual alimentávamos um grande desejo de repulsa em determinado momento mostrou-se outra? Quantas vezes você não mudou de opinião sobre o que pensava sobre alguém que te inspirava aversão? Não era bem isso... Enganei-me a seu respeito. Enfim a afinidade, o amor, retiram o véu das intolerâncias...

O amor é a base sólida que falo e somente através dele podemos edificar nossas vidas, lutando contra os mais nocivos sentimentos que ainda habitam nossas almas. Ódio, inveja, egoísmo... Pode-se derrubar o inimigo possuindo esses cárceres do espírito? Pode alguém que odeie profundamente construir uma sociedade justa, fraterna e igual? A unidade na diversidade, dizia Platão, mas pode a imposição aceitar a diversidade?

Não há bases para a construção de tal unidade de forma ampla. No individual cabe a nós trabalhar o começo de tudo o que de melhor está por vir! Não existe forma de mudar o mundo sem antes mudar a mim. Sou imperfeito, mas é nas minhas buscas que encontro algo perdido e é no serviço humilde, perseverante e renunciador que descubro a tão sonhada base!

A caridade se faz necessária! Vontade de mudar o mundo? Tenho muita. Lutar contra as injustiças? Devemos sempre, mas já parou pra pensar por que essas injustiças existem? Procuramos no sistema econômico, nas organizações sociais, nos movimentos que existem aos montes e não paramos para enxergar a frágil estrutura que sustenta esses indicadores. Não venho aqui negar a importância desses movimentos, uma vez que sempre procuro divulgá-los por aqui, mas questionar as bases morais onde eles se apóiam.

Seres humanos e suas imperfeições! Reféns de seus prazeres imediatos, de seus egos inflados... Não há luta, não há guerra que mude isso! Somente se conhecem os valores de justiça e fraternidade quando praticados com coração aberto. Somente olhando o capitalista, o punk, o anarquista, o pobre, o rico, o filósofo, o ignorante, o assassino, o ladrão, o político, o operário como eles são, entenderemos esse dado fundamental. Eles são as estruturas frágeis que compõem o mundo. Eles são o caos pedindo o remédio e não há destruição que os torne mais humanos! Não há espada que cure feridas abertas. Pelo contrário...

Não sei bem o que estou escrevendo aqui, mas devo dizer que não mais acredito na paz regada a sangue e nem em disputas políticas que almejem unicamente o poder, seja de uma classe ou qualquer setor da sociedade. Não creio mais em salvação através de sistemas infalíveis enquanto antes não houver a transformação íntima e qualitativa de meu espírito e de cada um ao meu redor. O trabalho deve ser feito com humildade. Humildade para compreender que apenas nos pequenos atos encontramos a base sólida para o mundo, para compreender que não há verdade maior que aquela que não conseguimos exprimir em palavras e se isso for contemplação eu quero contemplar! E também quero agir!

Sim, afirmo aqui mais uma vez: a felicidade é sutil...

Um comentário:

Mari disse...

Li todos. Gostei muito! Parabéns... Vc está se aperfeiçoando. Nada como a prática, não é mesmo?!
Um beijo!