5.7.06

O Eu e O Outro...

Me inspirei na Sra. Lispector para escrever isso. Ela foi um ser iluminado em sua forma de escrever e expressar o humano. Inspiração... E o que mais devemos buscar nos artistas? Apenas isso...
O personagem desse pequeno texto é você que aí está lendo isso! O que vai querer? Jogar-se no abismo de si? Ou continuar a ser o outro?


Vejo-me através das coisas... Vejo-me... Vejo-me? Sou um reflexo das coisas em mim, sou a bandeira deflagrando a minha inumanidade.
Vejo-me através das coisas... Vejo-me no celular, no carro, na roupa, na TV, no DVD, no computador, no perfil expresso em um site de relacionamentos. Vejo-me no outro... Eu não olho para mim porque o que verei não será fácil de entender ou digerir. Eu sou indigesto. As coisas são feitas sob uma necessidade e um compromisso enorme de serem perfeitas para poderem me refletir da forma que desejo. Vejo-me assim... Por trás da foto tirada pela câmera digital, da lataria brilhante e som potente que fazem parte do meu carro que corre, corre, corre... Para onde? Para bem longe de mim. O meu mundo é o seu mundo porque eu sou o que você quiser que eu seja. Eu faço as coisas, mas não me enxergo como autor delas. Vejo-me nelas como alguém que se espelha em um deus qualquer... Não me olho no espelho real e não me encaro. Escondo-me na rotina do emprego, das contas, do salário (também indigesto), do chefe, do trânsito, da happy-hour, do garoto pedindo um trocado no farol... Renasço! Renasço todos os dias nas coisas e nas suas formas. Formas que passo a ter como um molde, como uma matéria disforme procurando algo para ser. Me torno então uma coisa e assim permaneço. É mais fácil e mais seguro. É direito! A vida? Não me importa vivê-la... Sou uma coisa e nela permaneço para ser usado juntamente a você para que possamos continuar criando essas formas, onde a coexistência de mim com o mundo anula-se e torna-se apenas uma existência no objeto, no definido, no perfeito que eu por mim apenas não posso ser. Eu sou incompleto e ao afirmá-lo, passo minha vida a me contradizer criando coisas perfeitas que saem de mim mesmo e me aprisionam, afinal de contas, vejo-me nas coisas e me apoio nelas para não cair no abismo que sou EU!

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