12.7.06

Até que se prove o contrário...

Acabei de assistir ao filme Edukators, interessante longa-metragem alemão. Ele não nos dá fórmulas pra revolução, não nos direciona a nada... Apenas exprime a angústia, indecisão e dúvida que é viver tendo conhecimento desse grande absurdo em que vivemos. Sim, o capitalismo ainda é o grande astro desse blog. Gostaria de coração que não fosse! Lá vão as linhas inspiradas pelo filme...

O aperto que se segue em meu peito é absurdo... Talvez pelo fato de ser causado por coisas absurdas. A vida que levamos é absurda, os sentimentos confusos e misturados em nossas mentes são absurdos, a rotina parece absurda. De perto ninguém é normal, muito menos eu, muito menos a sociedade, o sistema, o estado, a ordem das coisas...
Não espere entender o que estou dizendo, isso não soa como um dos textos corriqueiros, não soa como uma imitação safada de Clarice Lispector. Isso simplesmente nasce do absurdo, e constitui-se como um absurdo que é meu pensamento.
Carros, casas, celulares, computadores, internet, TV, famílias, revistas de comportamento semanais, jornais, igrejas, rádios, outdoors... Tudo parece seguir uma lógica nefasta, esquelética, mórbida... Absurda! As pessoas andam pelas ruas como zumbis, correm para seus ônibus, trens, ultrapassam sinais vermelhos, pagam multas, comem porcarias socadas em tupperwares surrados, aquecidos em “banhos-maria” ridículos, pagam impostos, divorciam-se, registram seus filhos. E onde está a vida disso tudo? Onde está a sanidade em desejar que seu chefe esteja morto, que a empresa que te paga um salário de merda exploda, que o “desgraçado que te empurrou no trem lotado se foda”? Onde está? Eu só vejo o absurdo...
Os finais de semana parecem esmolas, funcionam como antidepressivos na mente de trabalhadores infelizes que sentem uma angústia corriqueira no domingo à noite... O Fantástico, os gols da rodada, uma última olhada no trinco da porta antes de apagar as luzes e ir dormir e acordar e servir ao senhor Capital Todo Poderoso, em nome dO Pai, dO Filho... Amén!
O absurdo me transformou nessa toupeira chorona, nesse filósofo-escritor-de-meias-verdades-sem-eira-nem-beira, me sequelou como um derrame, como um acidente de trânsito. Acordei desse absurdo e o observo de fora, mas em muitos momentos percebo ainda estar imerso nele, vivendo seus princípios, respirando seus gases. Tornei-me egoísta em muitos momentos, pré-conceituoso em outros, amargurado, desanimado, sem medo... Talvez um dos grandes absurdos em mim seja esse... Perdi o medo de estragar minha vida. Talvez porque já não saiba mais o que seja exatamente viver nesse grande absurdo, já que o que se pensa viver seja apenas o que vejo a minha volta: uma mentira sem tamanho! Mas que absurdo!
Entrego-me aos que dizem que somos produtos de nosso tempo, de nosso sistema, regime, sociedade... O que impera é nada mais do que o absurdo e o que digo aqui, o que sinto, o que me faz por muitas vezes chorar em silêncio no ir e vir do cotidiano fúnebre em que emergimos é nada mais do que um absurdo produzido por ele mesmo. Pois não diga que não é sem me provar que existe alguma forma pensada de libertação disso tudo sem parecer absurda, seja para as mentes adormecidas ou mesmo para quem sonha com essa liberdade tão distante.Vivemos do absurdo, sonhamos o absurdo na espera de que ele não exista mais. Mais um absurdo, diga-se de passagem... Até que se prove o contrário!

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