6.3.10

Como Me Tornei Louco...

Perguntais-me como me tornei louco.
Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

Gibran Khalil Gibran

3 comentários:

Elaine Cristina disse...

Já que o texto não é seu, me sinto a vontade para fazer um comentário que não é meu!

"Não há nada mais tranquilo do que ser o que se sente
E poder amar, perder, chorar, depois ganhar assim tão livremente"

Trecho de 'sinceramente' de Sergio Sampaio.

Unknown disse...

É...por isso que Alberto Caeiro diz que os filósofos são homens doentes...

William Dubal disse...

Muito bom, gente... Muito bom.