3.3.08

O Onipresente e o Particular

A vida particular, em seu atual estágio de envolvimento com a indústria cultural, toma para si uma necessidade nauseante de se encaixar nas novelas, seriados e todo tipo de material que busca apresentar-se como espelho da realidade, mas na verdade é causa primeira da antítese do real individual no capitalismo monopolista.

A vida banal, a rotina das ruas, a princípio parece o motor do que assistimos nos programas televisivos, sendo eles dramas, romances ou comédias. O pensamento que se tem sobre estes elementos, veiculados pela indústria cultural, nos parecem uma representação fiel, talvez ingênua da vida como ele é. Tal juízo surge como um mistificador que cobre o pano de fundo real de um processo que fatalmente passa pelas relações econômicas.

A indústria cultural atua como o ópio contemporâneo do povo. A religião não mais dita a alienação sem antes passar pelo crivo dos anúncios publicitários e interesses editoriais das grandes empresas de comunicação. Aliado a isso, os meios de comunicação tornam dependentes de sua onipresença, inclusive, os governantes que todos os dias aparecem como protagonistas nas primeiras páginas e principais manchetes do dia, representando a peça da vida no teatro cruel da informação corporativa.

A indústria cultural dita a vida. Todos os dias, ao andar pelas ruas, o que se observa é um espetáculo de clones das personalidades da mídia. Vemos o comportamento forçado de coadjuvantes de um sistema que apenas busca, através da informação e do entretenimento, a distração para uma vida que passa longe do bem-estar colocado pelos holofotes dos estúdios e editoriais das grandes revistas. A necessidade de seguir o comportamento estampado todos os dias na TV é um exemplo cruel de como o sentido dessa relação segue pelas antenas das emissoras e, apenas então, encontra a vida. A TV não representa a vida, mas cruelmente a cria pensando sempre o novo, que é sempre o mesmo, todo instante ao seu público, gerando uma liberdade que passa longe de qualquer devir. A liberdade da indústria cultural limita-nos ao mesmo, aparentando a larga opção.

O amor previsível das novelas gera o “eu te amo” escravizado, o final onde o mocinho sai como vencedor gera a fé no cotidiano e, pior ainda, até mesmo aqueles que não assistem à TV estão paralisados por esse simulacro. A própria imersão nessa sociedade faz com que os “rebeldes da indústria” sejam influenciados. Cada telespectador carrega em seus olhos uma tela, na qual o que assistimos é o mesmo que nas grandes emissoras. Cada palavra, cada centímetro de roupa, cada letra de música cantada, cada relato da vida pessoal confirma, diabolicamente, a onipresença da indústria cultural.

O “grande irmão” já não tem mais a necessidade de observar cada minuto da vida banal. O controle social chega a tal ponto que os indicativos de consumo, em comparação aos anúncios, mostra aos donos da informação e do entretenimento o que se deve ou não ser feito. A cada beijo apaixonado, a cada flash curioso, a cada nota tocada o que se esconde como cosmos é o valor de troca. Ao produzir seus clones, a indústria cultural produz novos homens. Ao reproduzir a arte, agora imutável, como uma idéia fora desse mundo, ela reproduz seres humanos à sua imagem e semelhança. Os artistas foram banidos da república, a arte passou longe das luzes da fama, restando sua antítese que brilha como um ideal, ou melhor dizendo, como ator principal de um drama, com grande sucesso de público.

6 comentários:

rafael andolini disse...

pois é...
raro os caras q mesmo com um trampo legal, ainda conseguem ser fiéis ao que pensam, sente e desejam.
vai parecer meio gay, mas tenho orgulho de ser seu amigo cruj.
e é isso.

William Dubal disse...

Putz... Assim é demais pra mim. Snif! Hehehe...

Beat disse...

Gostei muito do texto, tenho pensado sobre isso ultimamente também. Essa semana ví você com um livro do Adorno, qual era? Tô pensando em pegar algo dele pra ler.

E isso aqui tá meio pederasta hein! kkkk

William Dubal disse...

Hahaha... Deixemos as práticas gregas de lado.

Então, eu peguei vários livros do Adorno. Vou fazer meu TCC sobre indústria cultural. Estou lendo algumas coisas.

Anônimo disse...

Interessante!

Você acha que a indústria cultural se transformou em uma instituição[digo isso no sentido de institucionalização dos conceitos filosóficos e sociais] que tem em suas raízes sua própria essência, pois a informação tendenciosa e a ideologia são instrumentos clássicos para transformar um conceito humano em instituição.

O que acha?

Elaine Cristina disse...

Seus textos me deixam com medo... medo de descobrir demais, medo do tapa ser muito forte, medo de me perceber como parte de tudo isso...
Abraço