28.2.06

Materialismo: Felicidade e Cultura ao Alcance de Todos

Esse texto, talvez muito confuso, é um ensaio acerca de alguns pensamentos do filósofo Herbert Marcuse, do antropólogo Roque de Barros Laraia e estudos recentes sobre história da filosofia.

Felicidade limitada... O que dizer do motor da humanidade na atual sociedade de consumo? Você a tem como um bem obrigatório na sua folha de gastos mensal?
O modelo de felicidade imposto pela classe dominante limita-se ao eu dentro do materialismo, ao eu preso aos sentidos e negador da alma humana em si. O refúgio na arte é profundamente planejado pela burguesia. A cultura afirmativa que existe nesse universo torna o homem passivo e preso em seus próprios pensamentos de liberdade... A interiorização do pensamento frente a realidade não permite a exteriorização dos sentimentos humanos através da ação. Eles permanecem presos através da produção de todo tipo de arte que toma um papel de “campo limitado da manifestação da alma humana”, mas não a verdadeira alma, pois essa mesma foi vinculada aos sentimentos humanos pela cultura afirmativa.
O pensamento de alma é desvinculado de qualquer sentimento ou necessidade humana. Numa ótica Aristotélica a essência dava-se através do conhecimento além de qualquer necessidade ou utilidade para o homem. O conhecimento permanece além de qualquer percepção inicial. A idéia da classe dominante parte daí... Aceitar essa condição seria como negar o ser humano. A felicidade deveria ser trazida para o campo do útil e o bom não seria mais vinculado a esse patamar de conhecimento não prático, não útil para o cotidiano, não produtor de bens de consumo.
O ócio é condenado, assim como tudo que foge da cultura dominante. Não se encontrar nessa cultura seria como não se encontrar no mundo, mas claro, esse é um aspecto geral, independente de sistema ou organização social. Aonde quero chegar é na forma como o sistema atual apega-se a esse aspecto da relação homem-cultura.
Um exemplo prático é o de se dar conta de como funciona esse mecanismo cultural e automaticamente, perder a vontade de acordar todos os dias e trabalhar. Esse mecanismo de defesa da alma (nesse momento exclusa do materialismo e marginalizada) logo vai gerar a infelicidade material desse indivíduo e sua privação de bens de “necessidade básica”, sendo que até mesmo esses bens seriam questionáveis.
Ainda assim, existe o risco de, com esse determinado grau de consciência, o indivíduo cair em grupos ou “tribos” apaziguadores de classe e que de certa forma direcionam-no para uma certa utilidade dentro da sociedade de consumo. Temos como exemplos o movimento punk, hippie ou partidos políticos.
Mas o que realmente quer dizer separar a alma dos sentimentos? Tornar-se uma rocha? Não. Dou como exemplo o fato de uma pessoa tomar consciência a respeito do verdadeiro papel que a família, os relacionamentos amorosos, o entretenimento ou o consumo exercem sobre ela. Ela pode concordar e aceitar a idéia de que a família é um dos alicerces da ideologia burguesa, os relacionamentos monogâmicos existem para afirmar essa estrutura familiar, o entretenimento ocupa-se de alienar e distrair o indivíduo quanto à realidade e o consumo move e alimenta o capitalismo transformando-o em um “João-bobo” que apenas gira o capital. Mesmo assim, perder esses valores até o momento universais e verdadeiros torna-se uma tarefa quase impossível. A política e a economia curvam-se perante a cultura. Como passar a negar uma estrutura familiar onde você está inserido, deixar de “possuir” a pessoa com a qual você estabelece um relacionamento amoroso, ignorar a mídia a sua volta ou parar de desejar bens de consumo que nos são mostrados em vitrines e outdoors? Difícil. Essa é a unificação proposta pela cultura afirmativa... Os sentimentos unidos ao eu. A dominação da alma pelos mesmos é não saber como lidar com eles e sofrer frente aos seus anseios.
A ótica Aristotélica separava a verdadeira alma devido a esse perigo. A cultura não deve ser usada como manipulação, ideologia. A cultura não deve ser usada ou manipulada... ela deve apenas existir e como disse Nietzsche, “uma vez que nos encontramos de alguma forma felizes, não podemos fazer nada que não seja promover a cultura.” Livrar-se desses sentimentos não seria negar os sentimentos, mas sim aceitar um conhecimento da alma e tudo o que ele traz para sua existência. A negação da manipulação mental burguesa... a aceitação do seu verdadeiro eu!