18.3.10

Socorre-me de Mim



Oh, Deus,
cura-me de mim,
salva-me de mim mesmo
e das loucuras que carrego em minha mente
e no meu coração.


Limpa-me a cegueira,
livra-me desta catarata
que obscurece os meus olhos
e não me deixa ver a Tua grandeza, a Tua beleza.
Porque me destes olhos para ver,
me destes ouvidos para ouvir:
olhos para ver-Te em toda parte 

e ver a beleza de Ti em todo instante,
ouvidos para ouvir a Tua voz 

na vida que passa ao meio lado de mim.


Mas os meus olhos estão tomados de mim mesmo,
e eu só vejo a mim mesmo e a minha dor.
E os meus ouvidos estão tapados
pelo meu próprio lamento,
pela minha lamúria,
pela minha escuridão,
e eu só ouço a minha própria voz.


Estou cansado, oh Pai,
e cheio de mim mesmo
como um poço que estivesse cheio até a boca
e esvaziado de Sua água cristalina
que sacia verdadeiramente a sede.
Como um poço sem fim.
 

Tu me dás alimento,
me dás a vida,
a brisa que passa,
as estrelas do céu,
a noite que adormece,
a mesa farta,
as flores que vicejam.
Mas eu continuo cheio de mim
e nada me satisfaz.
Nada!


O Senhor soprou
e fez o meu espírito,
colocou-me nesta matéria macia e amena.
Aqui estou eu,
habitando esta matéria.
E mesmo assim não te vejo,
não te escuto,
vivo como se tu não habitasses tudo,
vivo como se tu não estivesses por todos os lados.


Oh, Deus,
estou cheio de mim mesmo.
É como se eu me transbordasse no excesso de mim,
é como se estivesse enfastiado de alimentar-me de mim.
Não, eu não recebo a luz
que a minha volta se resplandece.
Também não sinto a brisa que passa a minha volta,
também não sinto o chão e o odor da terra
que passa a minha volta,
que se levanta quando eu passo.


Eu não me alimento das coisas
que estão fora de mim.
É como se eu mesmo me alimentasse
dos pensamentos que norteiam de mim mesmo,
das preocupações para comigo mesmo,
dos sentimentos que me envolvem.
E nada mais existe
neste universo inteiro,
nesta terra inteira,
nestas árvores,
nestas planícies
a não ser eu mesmo.
E por isso me adoeci,
de tamanha extensão de mim.


Andei, andei,
mas é como se eu não tivesse caminhado um milímetro.
Porque olho para os lados e vejo a mim,
para frente, e vejo a mim,
recuo, e vejo a mim mesmo,
do lado, também estou eu.


E onde está Tua face amada e querida?
Onde habita Tua paz que eu não acho?
E o Teu significado?
E o Teu sentido que nos enche de júbilo e de alegria?


Grito como um anjo destemido e desesperado.
Oh, Deus, onde estás que não respondes?
Mas como não estás e não respondes
se sou eu que não tenho olhos de Te ver
e ouvidos de ouvir a Tua resposta que resplandece
por todo o lado doente de mim mesmo?


Oh, Deus,
vem e socorre-me de mim,
apara um pouco estas arestas,
abre o espaço,
penetra-me,
entra dentro do meu peito,
faze-me sentir a Tua grandeza,
um pouquinho que seja.


***

O que é fazer parte da natureza a nossa volta?

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