16.7.12

Aprendendo com a crise

A atual crise econômica, pela qual o mundo capitalista passa, tem muitas lições a nos ensinar.
Os Estados Unidos, com todo seu poder, não puderam evitar os excessos que semearam a situação pouco cômoda em relação a seus investidores.
A Europa, com sua cultura milenar, não pode educar seus herdeiros contra o materialismo desenfreado, levando o continente à bancarrota.
A China abandonou preciosos ensinamentos, de grandes sábios, em prol da corrida pelo lucro.
O Brasil, mesmo após anos de opressão, não exita em cometer os mesmos erros dos grandes impérios que ainda procuram dominá-lo.
Mais do que nunca, o momento é útil para refletirmos sobre o fundo de toda esta crise, compreendendo algo além de disputas de poder e ganhos.
Não importa qual seja a história, o caminho, a cultura ou a posição geográfica. Enquanto os homens continuarem levantando seus altares de ouro, baseada no, até então, incansável culto às suas paixões, a história dos povos será sempre a história da falência, não apenas material, mas principalmente moral.
Não é à toa que os grandes períodos de crise material coincidem com os episódios mais sangrentos da história conhecida.
Mais do que nunca, é tempo de voltarmos à simplicidade da máxima ensinada pelo Mestre nazareno, a fim de nos preenchermos com algo além daquilo que apenas busca atender ao nosso próprio ego:

"ama teu próximo como a ti mesmo".

 

22.6.12

Declaração final da Cúpula dos Povos

Abaixo o documento final da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Rio+20, que se encerra amanhã, dia 23:

Movimentos sociais e populares, sindicatos, povos e organizações da sociedade civil de todo o mundo presentes na Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental, vivenciaram nos acampamentos, nas mobilizações massivas, nos debates, a construção das convergências e alternativas, conscientes de que somos sujeitos de uma outra relação entre humanos e humanos e entre a humanidade e a natureza, assumindo o desafio urgente de frear a nova fase de recomposição do capitalismo e de construir, através de nossas lutas, novos paradigmas de sociedade.

A Cúpula dos Povos é o momento simbólico de um novo ciclo na trajetória de lutas globais que produz novas convergências entre movimentos de mulheres, indígenas, negros, juventudes, agricultores, famílias e camponeses, trabalhadores, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, lutadores pelo direito a cidade, e religiões de todo o mundo. As assembleias, mobilizações e a grande Marcha dos Povos foram os momentos de expressão máxima destas convergências.

As instituições financeiras multilaterais, as coalizações a serviço do sistema financeiro, como o G8/G20, a captura corporativa da ONU e a maioria dos governos demonstraram irresponsabilidade com o futuro da humanidade e do planeta e promoveram os interesses das corporações na conferência oficial. Em contraste a isso, a vitalidade e a força das mobilizações e dos debates na Cúpula dos Povos fortaleceram a nossa convicção de que só o povo organizado e mobilizado pode libertar o mundo do controle das corporações e do capital financeiro.

Há vinte anos o Fórum Global, também realizado no Aterro do Flamengo, denunciou os riscos que a humanidade e a natureza corriam com a privatização e o neoliberalismo. Hoje afirmamos que, além de confirmar nossa análise, ocorreram retrocessos significativos em relação aos direitos humanos já reconhecidos. A Rio+20 repete o falido roteiro de falsas soluções defendidas pelos mesmos atores que provocaram a crise global. À medida que essa crise se aprofunda, mais as corporações avançam contra os direitos dos povos, a democracia e a natureza, sequestrando os bens comuns da humanidade para salvar o sistema econômico-financeiro.

As múltiplas vozes e forças que convergem em torno da Cúpula dos Povos denunciam a verdadeira causa estrutural da crise global: o sistema capitalista patriarcal, racista e homofóbico.

As corporações transnacionais continuam cometendo seus crimes com a sistemática violação dos direitos dos povos e da natureza com total impunidade. Da mesma forma denunciamos a dívida ambiental histórica que afeta majoritariamente os povos oprimidos do mundo, e que deve ser assumida pelos países altamente industrializados, que ao fim e ao cabo, foram os que provocaram as múltiplas crises que vivemos hoje.

O capitalismo também leva à perda do controle social, democrático e comunitário sobre os recursos naturais e serviços estratégicos, que continuam sendo privatizados, convertendo direitos em mercadorias e limitando o acesso dos povos aos bens e serviços necessários à sobrevivência.

A dita "economia verde"é uma das expressões da atual fase financeira do capitalismo que também se utiliza de velhos e novos mecanismos, tais como o aprofundamento do endividamento público-privado, o super-estímulo ao consumo, a apropriação e concentração das novas tecnologias, os mercados de carbono e biodiversidade, a grilagem e estrangeirização de terras e as parcerias público-privadas, entre outros.

As alternativas estão em nossos povos, nossa história, nossos costumes, conhecimentos, práticas e sistemas produtivos, que devemos manter, revalorizar e ganhar escala como projeto contra-hegemônico e transformador.

A defesa dos espaços públicos nas cidades, com gestão democrática e participação popular, a economia cooperativa e solidária, a soberania alimentar, um novo paradigma de produção, distribuição e consumo, a mudança da matriz energética, são exemplos de alternativas reais frente ao atual sistema agro-urbano-industrial.

A defesa dos bens comuns passa pela garantia de uma série de direitos humanos e da natureza, pela solidariedade e respeito às cosmovisões e crenças dos diferentes povos, como, por exemplo, a defesa do "Bem Viver" como forma de existir em harmonia com a natureza, o que pressupõe uma transição justa a ser construída com os trabalhadores e povos.

Exigimos uma transição justa que supõe a ampliação do conceito de trabalho, o reconhecimento do trabalho das mulheres e um equilíbrio entre a produção e reprodução, para que esta não seja uma atribuição exclusiva das mulheres. Passa ainda pela liberdade de organização e o direito a contratação coletiva, assim como pelo estabelecimento de uma ampla rede de seguridade e proteção social, entendida como um direito humano, bem como de políticas públicas que garantam formas de trabalho decentes.

Afirmamos o feminismo como instrumento da construção da igualdade, a autonomia das mulheres sobre seus corpos e sexualidade e o direito de uma vida livre de violência. Da mesma forma reafirmamos a urgência da distribuição de riqueza e da renda, do combate ao racismo e ao etnocídio, da garantia do direito a terra e território, do direito à cidade, ao meio ambiente e à água, à educação, a cultura, a liberdade de expressão e democratização dos meios de comunicação.

O fortalecimento de diversas economias locais e dos direitos territoriais garantem a construção comunitária de economias mais vibrantes. Estas economias locais proporcionam meios de vida sustentáveis locais, a solidariedade comunitária, componentes vitais da resiliência dos ecossistemas. A diversidade da natureza e sua diversidade cultural associada é fundamento para um novo paradigma de sociedade.

Os povos querem determinar para que e para quem se destinam os bens comuns e energéticos, além de assumir o controle popular e democrático de sua produção. Um novo modelo energético está baseado em energias renováveis descentralizadas e que garanta energia para a população e não para as corporações.

A transformação social exige convergências de ações, articulações e agendas a partir das resistências e alternativas contra hegemônicas ao sistema capitalista que estão em curso em todos os cantos do planeta. Os processos sociais acumulados pelas organizações e movimentos sociais que convergiram na Cúpula dos Povos apontaram para os seguintes eixos de luta:

Contra a militarização dos Estados e territórios;

Contra a criminalização das organizações e movimentos sociais;

Contra a violência contra as mulheres;

Contra as grandes corporações;

Contra a imposição do pagamento de dívidas econômicas injustas;

Pela garantia do direito dos povos à terra e território urbano e rural;

Pela soberania alimentar e alimentos sadios, contra agrotóxicos e transgênicos;

Pela garantia e conquista de direitos;

Pela solidariedade aos povos e países, principalmente os ameaçados por golpes militares ou institucionais, como está ocorrendo agora no Paraguai;

Pela soberania dos povos no controle dos bens comuns, contra as tentativas de mercantilização;

Pela democratização dos meios de comunicação;

Pelo reconhecimento da dívida histórica social e ecológica;

Pela construção do Dia Mundial de Greve Geral;

Voltemos aos nossos territórios, regiões e países animados para construirmos as convergências necessárias para seguirmos em luta, resistindo e avançando contra o sistema capitalista e suas velhas e renovadas formas de reprodução.


28.3.11

Até Onde Só Esporte?

Neste último domingo, após euforia da partida entre São Paulo e Corinthians, durante a qual me peguei gritando, tal como primata, vociferando, contra vizinhos corintianos, insultos em alto e bom som, após o já famigerado centésimo gol de Rogério Ceni, peguei-me, mais tarde, imerso na seguinte reflexão:

No campo das projeções do espírito, este, pode-se dizer, busca a sublimação das forças materiais. Assim, esporte é o efeito da abstração da guerra pela busca da mudança das contendas materiais em exaltação da realização de valores morais, visando transformar o efeito existente no ato do choque das diferenças humanas. À luz do espírito, falando de futebol, a guerra surge sublimada entre as quatro linhas e, fora delas, nas arquibancadas em volta, seja nos acentos dos estádios ou frente aos monitores de TV que transmitem as partidas. O futebol nos surge, assim, como palco das lutas morais, por meio do qual os homens procuram educarem-se utilizando regras estabelecidas, buscando também uma ética esportiva a ser cumprida dentro de campo e (por que não?) fora dele. Tal busca nada mais seria, a partir desta visão, como a micro expressão da busca social pela harmonia entre seus agentes.

Diante da possibilidade de tal afirmação, reflitamos acerca do primitivismo envolvido no ato de torcer pelo mal do adversário, sejamos sinceros no quão carregado de egoísmo e orgulho podem estar nossas atitudes no que se refere às discussões esportivas. Sei que muitos dirão que isso é apenas futebol, que não devemos levar a sério assunto tão banal. Tal afirmação não deixa de ser verdade, de fato acreditamos que não se deve dar tanta importância aos campeonatos e rivalidades entre times, mas esta afirmativa apenas ganha validade a partir do momento em que tais eventos não revelem, por meio da sua aparente banalidade, sentimentos tão profundamente arraigados a nós mesmos, prejudicando as relações humanas.

No campo de futebol os sentimentos menos nobres também podem encontrar escalação, a partir do momento em que estes encontram válvula de escape, aliviando o recalque social que os impede manifestação mais explícita. Assim, avaliemos nossa postura frente aos eventos esportivos e, aplicando mais especificamente à nossa cultura, principalmente ao futebol, com intuito de enxergarmos o quão moralmente deficiente apresentamo-nos em relação às tais válvulas de escape sociais, aparentemente tão banais, mas que podem revelar deficiências profundas em nossa personalidade. 

Pensei.

21.3.11

Teoria, Processo e Resultado

Parece que não estamos mais acostumados a considerar a potência que a palavra ciência possui, talvez devido ao caráter manipulador e restrito que ela adquiriu na atual sociedade. É tão interessante esta restrição que aplicamos, culturalmente, à ciência, que me peguei surpreso refletindo sobre três características fundamentais que ela possui, a saber, teoria, processo de comprovar e resultado. Talvez, sob formas diferentes (e isso é discutível), este tenha sido o modo como a ciência se manifestou ao longo da história. Talvez o que diferencie as ciências (no sentido de diferença histórica) é o fato de que estes três fatores, em diversos momentos, foram relacionados a outros setores da vida, a outras formas de conhecimento e até mesmo confundidos com estas outras formas.
Assim, pensemos na riqueza que pode, ou não, adquirir a prática de formular teoria, comprová-la e produzir resultado a partir disso. E que contradição a restrição científica de nosso tempo apresenta quando relacionada com o seu potencial recalcado, a partir do momento em que consideramos que essa ciência recalcada é tomada como a principal forma de conhecimento na sociedade contemporânea.

Opinião velha, opinião nova

Agora que estamos vivos achamos que nossa cultura é boa, mas a próxima geração terá outra opinião. Em qualquer momento histórico, o que todo mundo gosta é aceito como verdade, mas depois os gostos mudam e as verdades também. Este tipo de verdade é muito caprichosa. Podemos ver, no entanto, que, apesar de existirem diferentes opiniões, os elementos da natureza continuam existindo; o Sol e a Lua, por exemplo. Antigamente, os homens pensavam que o Sol girava em torno da Terra, depois  disseram que a Terra gira em torno do Sol. Em ambos os casos, o Sol continuava nascendo, desaparecendo, dando luz e calor. O Sol nada tinha a ver com estas teorias. Da mesma forma, existe uma realidade objetiva sobre Deus, apesar de qualquer opinião.


_______________Srila Acharyadeva

17.1.11

Nina Lemos: Público do "BBB" rejeita crise existencial de transexual

 Bom, nós não assistimos BBB, não é? Hum, tá certo... Bom, mas achei bacaninha o texto escrito pela colunista da Folha e o reproduzo aqui:


Com quem será que a Ariadna vai ficar? Ou, em outras palavras, quem vai ser o mané que vai pegar um transexual achando que ele-ela era mulher? Parecia óbvio que a audiência do "BBB" iria cair nesse truque. Afinal, essa é a primeira vez que um trans é colocado dentro da casa. Do lado de fora, a especulação era feita. "Quem vai ser o primeiro."

Pelo jeito, ninguém. Antes mesmo que aconteça algum desabafo (os participantes da casa não sabem que Ariadna é trans, como uma espécie de pegadinha), ou role algum beijo, o público já se prepara para colocar a moça para fora do programa. E no primeiro paredão. Assim, sumariamente. Tchau.

A vontade de ver alguém cair em uma pegadinha (e não é assim que a produção do programa trata a moça ao fazer com que ela própria precise contar seu "segredo"?) parece ser menos forte do que a de ver gente "bonita e animada", como o batalhão de fortões e gostosas que dominam o programa (alguém sabe diferenciar ali quem é quem?).

Ari não cai no conto dos estereótipos. Não é um "travesti encrenqueiro". Muito menos uma "bicha fofoqueira". Ela é uma moça quieta, com olhar meio triste e recatada. Talvez seja por não cair no clichê que ela esteja prestes a ser gongada pelo público, que, segundo pesquisas, já escolheu que ela deve voltar para casa sem ganhar nada. Ou seja, não quer mais vê-la. Chega.

Ariadna já soltou suas confissões no "BBB". Em tom triste, disse que tem um segredo. Para alguns, contou que foi garota de programa. Diz que tem problemas com a família. Talvez seja crise demais para os telespectadores do "Big Brother", que pelo jeito preferem ver bunda e músculos (e isso não falta) a uma crise existencial do estilo: "Conto ou não conto?" ou "Será que meus pais vão me perdoar?".

O público não quer saber dos problemas de Ariadna! Ela que se vire. E que vá chorar em casa, que é lugar quente. Enquanto isso, na tela da TV, a turma dos fortões (que já se mostra poderosa) comenta a bunda das moças na piscina. Mais interessante, não?