31.5.09

Bananas ao Vento!!!

"A Tropicália veio contribuir fortemente para essa objetivação de uma imagem brasileira total, para a derrubada do mito universalista da cultura brasileira, toda calcada na Europa e na América do Norte, num arianismo inadmissível aqui: na verdade quis eu com a Tropicália criar o mito da miscigenação – somos negros, índios, brancos, tudo ao mesmo tempo – nossa cultura nada tem a ver com a européia, apesar de estar até hoje a ela submetida: só o negro e o índio não capitularam a ela. Quem não tiver consciência disso que caia fora. Para a criação de uma verdadeira cultura brasileira, característica e forte, expressiva ao menos, essa herança maldita européia e americana terá de ser absorvida, antropofagicamente, pela negra e índia da nossa terra, que na verdade são as únicas significativas, pois a maioria dos produtos da arte brasileira é híbrida, intelectualizada ao extremo, vazia de um significado próprio. (...) É a definitiva derrubada da cultura universalista entre nós; da intelectualidade que predomina sobre a criatividade – é a proposição da liberdade máxima individual como meio único capaz de vencer essa estrutura de domínio e consumo cultural alienado."
________________Hélio Oiticica

Habermas e os Pragmáticos Universais

"Como os membros de um sistema social que atingiram um certo ponto de desenvolvimento das forças produtivas teriam interpretado coletivamente e com força de lei suas necessidades, e que normas aceitariam como justificadas, se tivessem podido e querido se encontrar de posse de um conhecimento suficiente das condições marginais e dos imperativos funcionais de sua sociedade para tomar discursivamente suas decisões sobre organização das relações sociais?" (WIGGERSHAUS, 2006: 671).
Em sua obra Problemas de Legitimidade no Capitalismo Tardio, Habermas coloca a pergunta que, em muitos aspectos, parece orientar grande parte de seu esforço intelectual. A busca por uma crítica social na qual a teoria e a prática convertam numa racionalidade que possa explicar e ao mesmo tempo justificar. A discussão entre teoria e prática e a tensão entre sujeito e objeto colocada pela primeira geração da Escola de Frankfurt ganharia, nesse filósofo, novas reflexões. Trata-se de uma nova postura frente à razão, uma nova teoria que inclui nela a própria prática, sendo, ao mesmo tempo justificativa e explicativa.
Segundo Habermas, a razão se constitui na linguagem ou no que podemos chamar de comunicação intersubjetiva, pois apenas nesta comunicação que chegamos ao entendimento. A pragmática universal pressupõe os elementos justificativos e explicativos para investigar, através de suas idéias críticas, as condições universais que tornam possível o entendimento. O argumento universal, segundo Habermas, não é aquele que é imposto por alguém, mas que se impõe a todos. As idéias que nascem a partir de condições universais constituem uma série de normas que permitem uma crítica cuja justificação não depende mais de heranças históricas. Essa crítica confrontaria, desse modo, as idealizações sociais com seus processos objetivos. A linguagem, nesse momento, ganha novo status ao ser a realização da crítica social surgida na conversão entre sujeito e objeto.
Dentro desse conjunto teórico Habermas tem como um dos temas principais as ciências. A reivindicação da ciência como detentora de toda racionalidade e objetividade faz com que ela alcance uma relação com a vida que a torna evidência em si. A dominação encontra fundamento no fato das relações de troca tornarem o trabalho dependente do mercado, enquanto idealização, condicionando as relações concretas dos homens com os objetos e dos homens entre si.
A forma como conheço o mundo está diretamente ligada às idealizações nascidas das relações de mercado. Se retiro do objeto aquilo que o mercado atribui a ele e que obscurece as relações de exploração responsáveis pela sua existência, logo o interesse que tenho sobre esse objeto, que até então era determinado por aquilo que o mercado atribuiu a ele, desaparece. No conhecimento científico, se retiro todas as afirmações determinadas por uma ciência idealizada, pautada pela técnica, que por sua vez é determinada pelo mercado, minha postura e relação para com a vida e a ciência que produzirei a partir disso será outra. Em outras palavras, as ciências empírico-analíticas fazem parte da reprodução social e é nela que encontram sua condição de possibilidade.
Além das ciências, a investigação de temas como democracia e Estado também ocupam os escritos de Habermas. O filósofo perguntava se a violência e a dominação permaneciam apenas como negação da história, num processo de alienação, ou se elas, afinal, seriam categorias históricas suscetíveis a modificações. Com isso ele enxergava a possibilidade de, através de organizações de vida pública, promover tais modificações substanciais nas estruturas sociais. A pragmática universal de Habermas, dentro dessas investigações, oferecia contexto de uma crítica que observa o mundo, o homem e a história dentro de uma totalidade que ganha imanência talvez nunca vista, nem mesmo no marxismo ou nos demais filósofos de Frankfurt.


Referência Bibliográfica
WIGGERHAUS, ROLF. A Escola de Frankfurt. Trad. Lilyane Deroche-Gurgel e Vera de Azambuja Harvey. Rio de Janeiro: Difel, 2006.