28.12.07

O que você mais deseja para o Brasil?

No site do governo federal tem um link para uma espécie de pesquisa que visa conhecer o que o brasileiro acha que o nosso país mais precisa. A pesquisa é intitulada "o que você mais deseja para o Brasil?". Temos como opções alegria, cidadania, inclusão, entre outras. Parece piada, mas onde está a piada?
A piada está no fato de que tratam nossa população como uma criança mimada, que pede um presente de natal e espera anciosamente pelo seu pedido às vésperas do dia 25 de dezembro. Um país, cujo presidente chama a atitude de um dom Luiz Cappio de anti-democrática, não quer ouvir o que sua população tem a dizer. Quer apenas passar a impressão de que segue a democracia, mas passa muito longe dela. Não poderia ser diferente, pois ao entrar no clube do capital, a democracia passa apenas pelo fetichismo corriqueiro de quem nada mais espera do que colher os frutos gordos do lucro.

Talvez seja esta a explicação! A democracia é uma palavra, assim como todas aquelas que aparecem na pesquisa encontrada no site do governo federal. Palavras, apenas palavras. Meros embrulhos de uma realidade que quer se esconder com belas cores. Um verde e um amarelo que possuem as mesmas funções que tantas outras cores, e representam as pátrias pelo mundo afora, que escondem suas sujeiras sob a teologia do Estado: uma organização laica e neutra em relação às classes sociais.

Escolha sua palavra, purifique-se e seja um cidadão! Cidadania, dentro da ideologia dominante, significa isso: fazer de conta que participa da "democracia", rezando para que o seu "representante", em algum momento, possa ouvir seu grito triste e inútil.

Palavras são importantes, mas o problema está no fato de que a ação passa longe do que é chamado de democracia. Nesse contexto, as palavras perdem o papel de expressão material do mundo, e ganham status de alienação, onde o homem não se reconhece no mundo em que vive, onde o sonho se mistura ao sedentarismo social de meros objetos de uma classe que nada mais espera que palavras vazias por parte de seus dominados.

O governo de Lula reproduz muito bem a ideologia, pois as palavras vazias aparecem cada vez mais como o calmante para uma população muda: paradoxo fundamental para se manter a "ordem" e o "progresso" em dia!

24.12.07

Esse é o blog de um cartunista que fala sobre a guerra no Iraque... Ótimas charges:

FELIZ NATAL!!!

Celebremos a noite em que a classe média torra seus décimos terceiros em presentes para filhos mimados e alienados. Noite em que vizinhos enchem a cara e colocam símbolos da indústria cultural no último volume, em que as famílias engordam juntas com a ceia egoísta regada a hormônios sintéticos da indústria alimentícia.
Celebremos a Missa do Galo, a paz, a justiça, a caridade, que permanecem como palavras vazias, desprovidas de ação material num mundo que vive com a cabeça nas nuvens e os pés longe da lama existencial do homem contemporâneo.
Celebremos o consumo que acelera a morte do planeta, a tecnologia e a ciência que já falharam há muito tempo como faróis para um mundo melhor e hoje só servem aos senhores das grandes corporações.
Celebremos o continente africano, o imperialismo, a democracia, a alienação, o positivismo, a religião... E viva o natal!

Jesus Cristo? Se não fosse santo estaria puto!

18.12.07

Onde Brilhem os Olhos Seus

Férias, tá bem?

O vídeo abaixo é da música "Diz Que Fui Por Aí", gravado pela Fernanda Takai no álbum recentemente lançado em homenagem a Nara Leão - Onde Brilhem Os Olhos Seus. Encontrei o vídeo no YouTube, mas acho que nem é oficial - deve ter sido feito por algum fã.

Acho que a Fernanda Takai é a única que poderia ter gravado esse álbum. Não vejo no mass media mais ninguém que corresponda à voz doce, tímida e agradável de Nara Leão.
Tenho um problema sério que, segundo o Pato Fu de Fernanda, poderia ser denominado de "necrofilia da arte". Trata-se da compulsão por possuir ídolos oriundos da indústria cultural cujo atestado de óbito já é existente. Começou com Kurt Cobain, não parando por aí. Nara Leão foi adicionada à lista há mais ou menos um ano.

Ah, a música que mais gostei foi Lindonéia: ótimo arranjo e clima praiano. Heheh...




5.12.07

Aaaaaaaaaaaaah!

"Todos são livres para dançar e para se divertir, do mesmo modo que, desde a neutralização histórica da religião, são livres para entrar em qualquer uma das inúmeras seitas. Mas a liberdade de escolha da ideologia, que reflete sempre a coerção econômica, revela-se em todos os setores como a liberdade de escolher o que é sempre a mesma coisa". T.W. Adorno
Esse lance de querer se divertir, curtir a vida, achar o seu grande amor, criar um fotolog pra postar junto com as fotos palavras idiotas, escrever em um blog estúpido, entre outros lances é coisa de classe média babaca que comprou a idéia de entretenimento e utiliza-se dela diariamente.

As pessoas ficaram idiotas com a cultura criada pela mídia, as pessoas simplesmente não sabem mais pra onde correr. Até os revolucionários recorrem a essas coisas, ou seja, é por isso que eu tiro o chapéu pra Indústria Cultural.

Amigos! Irmãos! A religião não é mais o ópio do povo! Abençoai a Indústria Cultural e tudo que ela traz pra você!

Sim, eu também fui infectado! Eu também me apaixono e sofro, eu também fico desesperado quando sem dinheiro, eu também me sinto um fracassado quando, porventura, não identifico minha vida com o padrão de vida pregado pelas ondas da mídia de massa.

O que fazer? Não sei! Porque mesmo pensando como penso não consigo me livrar de certas coisas. O próprio fato de eu estar escrevendo esse texto vem de um acontecimento proporcionado pela Indústria Cultural. Não sei qual a saída! Não sei mesmo!

A moral que começou a ser construída pela religião e por algumas filosofias agora tem seu ápice na indústria cultural, mas não é só a moral que tem sua manutenção diária: o entretenimento é a palavra de ordem na sociedade do espetáculo. A happy-hour, a viagem de fim de ano, as agências de turismo, a internet, o amor, o cachorro à venda no pet-shop, as compras, os esportes, a música, os anti-depressivos...

Estamos cercados com um controle remoto nas mãos! Talvez eu me sinta um pouco frustrado, mas é nas frustrações que vejo os motivos do choro....

Eu tenho um blog, estou sem grana, não me identifico com o padrão de vida, eu gosto de alguém que está pouco se fodendo pra mim, eu quero viajar no fim de ano, adoro happy-hour, cachorros peludos, tenho minha porção consumista e fiquei feliz pelo São Paulo ter sido pentacampeão. Anti-depressivos eu não tomo, obrigado.

Sou filho da Indústria Cultural, sou fruto do meio... Não poderia ser de outra forma, mas por que diabos eu tinha que saber disso? Eis a maldição!

Férias... Que saco!

Acabou a festa, a grana também e o ano se foi...
Estamos em férias novamente. Como já havia dito... Odeio essa época!
Pois bem... Vou aproveitar pra me libertar de algo que nem sei direito o que é. Se conseguir eu conto!

3.12.07

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

- mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

- que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

e um dia me acabarei.


_______________Cecília Meireles